Eu sempre pensei sobre a solidão. Na verdade, eu sempre me achei um cara solitário, não "só", solitário. Eu nem sei se existe diferença real e significativa entre os dois adjetivos: digo, apesar de estar constantemente rodeado de pessoas, eu, na maior parte das vezes, não estive ali com elas. Não era eu no meio do povo. A solidão era, de certa forma, uma construção romântica, algo meio "mal necessário" para a continuidade da minha diferenciação daqueles que considerava "medíocres". Era nos momentos de solidão que conseguia escrever melhor, compor poemas interessantes e conversar mais comigo.
Por conversar tanto comigo, embarquei em uma empreitada ousada para os meus parâmetros de menino overprotected e exemplar (...). Estou bem no meio dela. Amanhã começará, para mim, a reta principal do mestrado e - certamente por causa das pressões que já arrumei para mim mesmo nesse segundo semestre - já me vejo descolorido. Faz três dias que cheguei a Brasília e esse pouco tempo tem sido complicado (...). É bastante provável que isso tenha muito a ver com a minha recentíssima temporada em Aracaju, sei lá...
Uma amiga ligou para mim quando eu já estava aqui; conversamos sobre algumas coisas relacionadas a vida: carreira, família, amor etc. Durante o papo, observei o quanto a situação era curiosa. Eu dizia a ela que não estava muito bem, que sentia falta de estar com todas as pessoas que me deram tanto calor, tanta atenção, contava que era muito ruim chegar em casa e ver paredes e, em consequência, dar bom-dia a elas. Minha amiga me falava sobre o quanto andava acossada pelo trabalho, pelas obrigações que já assumia e por conta de um antigo namorado. Devido ao rumo não muito alegre pelo qual a conversa estava indo, resolvi "fazer justiça" e reconhecer que nem tudo estava mal. Notei, então, a peculiaridade daquele momento - algo tão humana, aliás. Enquanto eu - na minha ladainha da gratidão - remoía estar bastante feliz por ter passado no mestrado e por estar morando em uma casa limpa e organizada, ela me dizia o quanto estava ansiosa por comprar o seu primeiro carro. Eu lhe dizia que queria estar na posição dela, ou seja, trabalhando, pagando (com dinheiro próprio) as minhas contas, tendo o meu carro; ela, em contrapartida, respondia a mim que adoraria estar no mestrado. "Que louco", eu pensava! Hehehe!
Outrora, eu imaginei que estando só, as coisas seriam mais fáceis no sentido de conseguir "tudo" o que quero, mas observo, agora, que não é bem assim que a banda toca. Na boa, ando cansado de ficar falando "ai, como eu sou lindo e feliz por ter passado na UnB!". Em algum tempo vai soar forçado (como já sinto que está, pelo menos para mim). É aquela coisa de autocomiseração disfarçada de autoafirmação, que, no final das contas, tem muito a ver com a insegurança de seguir. O passado - feliz ou infelizmente - deve ser lembrado, não insistentemente vivido, como em um desejo infantil de botar para funcionar algo que já não responde. A vida é agora. Neste momento, gostaria de estar diferente do modo que estou, mas até que ponto esse sentimento é real? Talvez se eu estivesse no lugar da minha amiga (com trabalho, carro e um amor) eu iria desejar estar na posição em que estou agora (longe de casa, vendo outro mundo, num mestrado fora e desimpedido), ou talvez estivesse mesmo feliz pelas coisas conquistadas.Vai saber! Pablito aqui não sabe, isso é foda, mas o que posso fazer? Eu respondo: aprender. Aquele papo de a grama do vizinho ser mais verde parece se aplicar bem a isso, mas não posso viver de olhar o jardim dos outros o tempo todo.