segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Alguma coisa... fora da Ordem

Encarando o canal como uma vitrine da cabeça de parte do público para que trabalho, venho assistindo à MTV com certa constância. Hoje estava deitado e um de seus programas, o "MTV na rua", abordou um tema que é recorrente no meio educacional: o bullying. Penélope, a apresentadora, conduziu a atração focando o tema e entrevistando pessoas, questionando suas impressões. O jeito dela apresentar me incomodou bastante, pois a todo momento ligava o ato (condenável por estudiosos) a uma atitude jocosa. Fiquei pensando "Porra, se o assunto é sério por quê ela está 'tirando onda'?". Logo lembrei que esse comportamento é recorrente nas atitudes de certos apresentadores da rede musical. Para eles é normal. Outro dia, na mesma emissora, estava assistindo a um programa de debates que falava sobre o chamado "politicamente correto" e sua relação conflituosa com o humor atual. No decorrer da exibição, um dos integrantes do humorístico CQC, Danilo Gentili, apareceu e afirmou que "o humor é cruel" - sua participação estava justificada por uma piada lançada no Twitter que soou racista (leia a notícia aqui)-, corroborando com a parte dos debatedores que não via problemas em fazer piadas com negros, mulheres, homossexuais, obesos, nordestinos ou qualquer outro tipo de minoria. Com base nesses fatos, fiquei pensando muito acerca do que é "respeitoso" e do que é "chato". Realmente existe uma linha finíssima entre a consideração às diferenças e o "patrulhamento ideológico", termo-tabu dado nosso país ter história tão recente no que diz respeito a censura e a contestação. Sem dúvida alguma, é complicada a análise, pois não seria um desrespeito, por exemplo, interferir na rotina de pessoas fumantes, que pagam impostos como todos? Ou, pelo contrário, seria uma consideração aos não-fumantes, que não têm de aspirar nicotina e prejudicar sua saúde? Quanto às piadas, todos nós temos um lado perverso, preconceituoso, defeituoso, enfim, essas coisas também caem na chamada liberdade de expressão: falar o que achar necessário, proibir, então, não seria ditadura? Para alguns sim, para outros não. O mundo é assaz contraditório. São coisas que não entendo. Creio que as coisas estão bem deslocadas: queríamos a liberdade, já a temos. E agora? Assistimos, lemos e ouvimos pessoas naturalizando problemas, reforçando estereótipos, construindo pensamentos, e tudo isso sendo transmitido pelos meios de informação, bombardeando que devemos ajudar, contribuir, doar e, no entanto, na semana seguinte exibir folhetins nos quais pessoas não podem viver sem que a cor de suas peles ou sua condição social ou sexual sejam um obstáculo discutido de forma patética e eufemizada (para não dizer ridicularizada). Realmente, assistir à televisão nacional me deixa com um pensamento constante que, como uma esfera de pêndulo, oscila entre a descrença (achando que não é possível que seja descaso, talvez essa seja uma forma diferente de chamar a atenção para o problema) e a indignação (depois de tantos anos, com todo a inteligência e poder desses meios e dessas pessoas, é um tapa na cara do Brasil esse tipo de desrespeito ao próximo). Mas é apanhando que se cresce, vejo que o respeito pode valer muito, e espero que um dia, talvez, ter um sonho signifique, de fato, algo.