quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Nova temporada

Pois bem, é a última semana em Aracaju. Até aqui, já encontrei as pessoas da minha vida; saímos, conversamos, rimos, enfim, reencontramo-nos em vários sentidos. Tudo o que aconteceu me fez perceber o quanto sou afortunado por ter gente essencial do meu lado. Claro que observei também como o tempo passa e as coisas mudam: as pessoas, os papos, enfim, todos estamos diferentes. Ainda sigo com aquela mania minha de sempre me comparar, querer estar melhor do que estou, no entanto essas questões me fazem pensar o quanto é forte para mim vir e estar em Aracaju, pois aqui fico mais reflexivo, o que me torna mais desejoso de avançar. Definitivamente, este é o lugar que eu amo estar, as pessoas daqui são tão familiares a mim. Apesar da percepção de estar criando visões idealizadas da capital - que continua com problemas e até outros mais -, eu adoro estar aqui, andar de bicicleta, ver a gente passando, as crianças se arriscando e ouvindo o grito das mães - hahahaha! -, em um fluxo de gente lutadora. Esse cenário a alguém que, como eu, está longe do seu círculo parece o lugar mais formidável e perfeito para criar raízes. 

Meus amigos que me veem e me admiram - e que recebem de mim o mesmo em retorno - estão aqui. Eu tenho bons amigos. Eles são diferentes entre si, mas trazem essa coisa que não se explica dos que vivem aqui, que trazemos traços fortes dos pais de um modo mais tradicional de ver as coisas, mas, ao mesmo tempo, aberto ao novo. Eu mesmo sou assim, mesmo criticando e lutando contra aspectos retrógrados que encontram ninho nessa minha terra, dada a tradição aqui ser muito forte. É um aspecto agridoce de viver na linda Aracaju.

Toda essa história é para tocar no assunto do que venho chamando de 'última temporada' do mestrado. Quando voltar a Brasília, tenho de fechar a dissertação e tentar fazer isso antes de outubro. Sim, infelizmente, terei de me focar em prazos. Estou algo contente porque, finalmente, tenho um projeto de vida calculado na minha cabeça e motivador de ações. É muito bom porque agora terei de batalhar com um objetivo em mente, o que ajuda bastante a traçar esquemas e assumir riscos. Eu tenho me visto como alguém esforçado, entretanto é necessário que eu faça mais nesse sentido para conseguir as coisas. A despeito da minha característica de pessimista, noto que acredito nesses planos e, mais importante, acredito em mim. Acredito sim. Agora está registrado. 

Hoje é quarta-feira e não sairei de manhã, portanto adiantarei coisas do meu texto e demais obrigações. Trabalharei nisso com atenção, mas não quero ficar louco: não deixarei de viver e aproveitar a minha vida e os meus amigos para 'capitalizar'. Confio em mim e sei acredito que as coisas acontecem no tempo que têm de acontecer. Não é para ser preguiçoso, mas também não vou deixar de sair e ver o céu para escrever feito um descontrolado. O tempo passa rápido e, assim, vem o verso: "Então é Natal, e o que você fez?" - hahahaha! São coisas assim que preciso conciliar para ser bem sucedido no que intento. No momento, eu não estou em um patamar que considero desejável, mas tendo em vista o meu projeto, entrarei nele e conseguirei. Eu conseguirei tudo o que eu quero. 

Enfim, agora irei trabalhar, organizar as minhas pendências. Estou indo rumo a uma nova temporada. Vai bombar!

sábado, 18 de agosto de 2012

Em curso

Era para eu sair e desfilar novas roupas. Não deu. Era para eu ter feito um poema. Não aconteceu. Era para eu deitar e fazer nada. Sonho. Há quase duas semanas eu estou em Aracaju e a maior parte das coisas que pensei não estão acontecendo. Enfim, pensando, agora, para escrever, não é totalmente ruim; ainda atribuo coisas assim às direções que a minha vida tomou e tem tomado. O cenário de hoje é reflexo das consequências das minhas decisões prévias, as quais foram tomadas meio cientes de que coisas poderiam se tornar outras. Que muito poderia se tornar outro.

Acontece que, desde os últimos nove dias em Salvador e anteriores à minha chegada a Aracaju, o foco da minha atenção tem sido pensar maneiras de fechar a minha dissertação porque tem outras coisas a caminho. Eu não quero me enrolar, mas... (E também não quero falar desse assunto... Não agora) Acontece que vim aqui escrever porque não queria (daquele querer de quem responde a pergunta "e aí?") ir embora; não fico nada legal bem quando a minha mãe indiretamente diz que sente a minha falta, que se sente sozinha. Minha mãe é parecidíssima comigo (hahaha! engraçado isso, pois ela veio primeiro), se faz de ultra forte, mas às vezes se trai pela linguagem diante dos seu filho linguista. Eu fico só observando, imaginando um tempo em que resgatarei a minha rainha desse mundo de dragões e demônios porque ela parece, com o seu sorriso modesto, ansiar por isso. E eu sei que empreenderei forças para fazê-lo.

Consegui cair doente aqui em casa (acho que por ter comido algo pesado demais ou em excesso). Eu fiquei um dia de cama aqui em casa. Foi bem complicado, o sábado inteiro com náusea e dor de barriga. A minha mãe foi quem esteve do meu lado mesmo. Chamei, chamei e ninguém esteve perto de mim, mas ela sim, e me abraçou e ficou aflita comigo, e eu me senti amparado, sem medo de estar vulnerável. Só por ela. Por isso me dói tanto a separação, pois só com ela me sinto forte para me mostrar fraco. E nós nos entendemos tanto: ela fica falando coisas que não tem liberdade com o meu pai e a minha irmã, e, então, nós rimos. Adoramos sair para passear, fazer compras, construir planos futuros em relação à nossa casa. Ela me escuta e eu escuto ela. Nós nos escutamos. E eu quero cuidar tanto dela porque ela sempre cuida de mim. Eu a amo tanto, tanto. Acho que Deus dá a cada um a sua companhia para cruzar determinados caminhos da Estrada, ela tem sido a minha. 

A próxima semana será a última dessa temporada aqui em Aracaju. Voltarei a Brasília para o que venho chamando de 'última temporada' da minha aventura que começou em 2010. Conversando com uma grande amiga, discuti sobre isso de as coisas desenharem novas linhas; as atuais me levam a assentar um pouco e colocar para dormir o espírito que quer fazer 'tudo agora neste momento já'. Vejo que preciso ir adiante e sedimentar a segunda parte da trajetória que pensei para mim. Parece ser chegada a hora de o menino ir definitivamente dormir porque o homem precisa empreender força para a construção da sua fortaleza. Será essa a minha razão nessa última temporada. Sei que, até aqui, conto com as pessoas certas, as pessoas que contam na minha vida, que estão nos meus planos e que estarão comigo, convidadas a visitar a minha fortaleza feita de base firme. 

Ontem, eu saí com a minha irmã e alguns amigos. Como as coisas mudam. Tudo diferente e eu pensando em mim nesse mundo que não para e me dá mostras de que eu também tenho de manter o passo. Um doce desespero. 

A minha mãe, os meus amigos, a minha família, a minha casa, a minha terra, ou seja, o meu Deus que é o conjunto de pontos de luz que orienta e me dará sempre a paz de respirar e olhar em volta.

sábado, 21 de julho de 2012

Adoro

Mais um sábado. Eu adoro. Hehehehehe! Comecei o meu de hoje bem: ouvindo Frozen, I Guess that's Why they Call it the Blues e Danny Boy. Super. (Começou a tocar Warning Sign...) Espero que hoje será um daqueles sábados só feitos para mim, ou seja, quando não preciso sair, perder noite etc. Ai - pode soar blasé, mas -, isso tem me cansado... Hoje eu quero ficar em casa, ouvir, talvez, Fausto, talvez, Orpheu, ou, dependendo do meu humor, O Barbeiro de Sevilha. Não sei. Não sei. Não sei. E eu adoro. Adoro essa sensação de que não há propósitos fixos para o dia,  que o tempo está congelado e simplesmente dependente do que eu queira fazer. É esquisito; é gostoso; é a minha vida hoje, agora.

Esta semana foi bem cheia. Eu comecei coisas e terminei outras. Eu briguei. Eu fiz as pazes. Tive boas surpresas e o saldo foi positivo. Uma das coisas que mais me deixou - não sei se - contente (talvez, mais aliviado) foi ter iniciado a finalização de parte da minha dissertação. Sei que isso provavelmente corresponda a um quinto de todo o trabalho, mas, de qualquer forma, já é uma etapa em vias de finalização. Quero agora me deter completamente à conclusão do texto da pesquisa. Tem o lance do doutorado também. É uma coisa que evito ficar pensando constantemente, mas que, por isso mesmo, tem estado na minha cabeça, no meu cotidiano, sempre trazido pela boca de pessoas e por conseguinte reinstalado na minha mente. Eu, que já sou bem paranoico com certas (ou muitas) coisas, querendo não me desgastar com velhos demônios: P-I-A-D-A. O fato é que prefiro não pensar - quando me dou conta de que estou começando a fazê-lo -, pois tenho coisas para fazer atualmente, e bastantes, por sinal. Desse modo, a lógica se mostra diante de mim  erguendo em seu estandarte um "vamos fazer bem feito o que temos NO MOMENTO". Eu adoro. Adoro quando as coisas se acertam e seguem harmoniosas rumo a uma conclusão. Sei, uma piada, e bem perigosa. Eu tenho, assim, que aprender a rir mais dessa 'piada', senão vou me foder bonito. Engraçado. È strano! È strano!

Outra coisa da semana digna de registro foi uma briga boba que tive aqui em casa. Eu não discuti nem nada, mas foi aquela coisa psicológica, guerra fria total, uma coisa que, basbaque, percebo ter herdado da minha mãe. Dela. Incrível como eu sou a minha mãe. Eu sou a minha mãe. Engraçado. Em dado momento, quando da reconciliação com o amigo, percebi em mim a reapresentação de uma cena comum entre eu a minha mãe e a minha irmã nos tempos de nossa primeira juventude. Isso me faz pensar no início da música Grey Gardens: "It's very difficult to keep the line between the past and the present...". Strano! Precisei estar longe, ou melhor, de fora para perceber o quanto sou parecido com a minha mãe. Isso me apavorou de alguma forma, pois eram justamente coisas que eu censurava intimamente, uma vez dentro de casa, observando as coisas todas à minha volta. Só sei que isso foi uma espécie de ápice de psiquismo, o qual vinha sendo ativado desde a semana retrasada, quando participei de certo final de semana de proposta poética, lírica, de transformação - agora penso -, whatever.

Olhos d'Água em Enguiço [julho de 2012]

Eu aprecio a ideia da mudança, da tal transformação; desse modo, aceitei; fui crente ao sarau metamórfico. Uma decepção para mim. Foi tudo e exatamente o que se espera de um sarau convencional (não suporto essa palavra, registre-se): pessoas bebendo vinho, comportadas nas leituras de seus textos selecionados, à beira de uma fogueira parruda, com músicas algo comuns, em uma noite apropriada, na qual todos nos incensávamos uns aos outros pelas escolhas literárias. Aff! Eu me senti tão no mundo, com as suas costumeiras convenções e regras. Eu me senti na semana. Foi a reafirmação da praxe. Não gostei disso.  E quanto ao meu plano mais secreto de fuga? Silêncio. Ando em uma vibe, nesta fase da minha vida, de querer aproveitar todo e qualquer tempo, assim, ter contato com momentos aos quais - aqui, sendo político - eu já tenho alguma familiaridade, ou que são, de algum modo, previsíveis, tem me interessado pouquíssimo. Para falar a verdade, se houver a possibilidade de arbítrio, não os quero mais. Eu fico cismando sobre coisas do tipo 'pensar sobre é mais fácil do que agir', a repousar no maravilhoso campo das ideias. Depois me absolvo. Eu me absolvo tanto porque me acuso muito. A bem da verdade, tenho tentado me absolver mais, sabe. Creio estar caindo na técnica. É necessária a paz. Sobre pensamentos e idealismos, vejo com alguma constância casos de pessoas que 'agiram' e não pensaram nas ações que desempenhavam e acabaram por se perder dentro da engrenagem. Idealistas, a nós eu escreveria outro texto, mas a ação orienta ao processo de ver como posso adequar pensamentos e ações dentro dessa engrenagem. Pelo menos, nisso eu posso considerar escolher o que fazer, quando fazer e com quem fazer. Liberdade - lindo, lindo conceito. Mas, no sarau, nem tudo foi frustração, claro, pois, mais uma vez, a música me salvou. Tive contato com LP's incríveis, revivi uma fase de vida ora rarefeita. Foi bom, foi muito bom, aliás. Adorei.

Daqui a pouco irei tomar banho. Isso para me dar coragem para fazer as malas. Felicidade - linda, linda palavra. Voltarei à minha doce e quente Aracaju. Que saudade da minha casa, da minha mãe e da minha irmã. Da minha família. Quero muito vê-los, porém, antes, terei uma estada de oito dias em Salvador, meio a trabalho e meio de férias. No entanto a cereja do bolo é a minha casa, a minha terra, os meus amigos. Como estou inspirado. Eu adoro.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Replicante

"É realmente isso o que você quer, Pablo?" - A pergunta. Ela foi feita ontem, e, surpreendentemente, não foi por mim mesmo. A minha cabeça, às vezes - ou melhor, às noites -, dorme com esboços dessa questão (que, se custo a pegar no sono, deslindam-se em momentos assustadoramente líricos), contudo, no dia seguinte, sob o Sol da manhã, a Luz vaza para a minha mente, fazendo com que eu, por conseguinte, esqueça e 'acorde para a vida'.


Hoje é mais um daqueles dias em que 'acordo para cuspir' (minha mãe falava essa expressão tresloucada para mim, lá em Aracaju). Eu sento em frente ao computador com a missão de fazer uma parte sempre essencial do meu trabalho de investigação. Pausa dramática. Lendo o período anterior, vejo que ele soa enfadonho, no entanto o que é o cotidiano senão monótono. "Poderia eu fugir disso?" (Réplica esquizofrênica) Não. Ah! E se for drama, cabe a definição, visto confirmar (e relembrar) a outra parte da dicotomia da comédia que é viver. Eu sei dela. Dói, entretanto eu também sei que todos nós vivemos de papéis. 


A pergunta de ontem foi em relação a isto: a infalível e massacrante obrigação de materializar o Futuro. Futuro, um dos demônios que me perseguem.  Foi uma pergunta cruel na sua ingenuidade.  Eu, logo nesse momento, em meio a sessões de filmes de Bergman. Perigosíssimo. Acho que acordei com vontade de escrever porque me senti atingido por 'Depois do ensaio' e a estranha contiguidade da obra de 1984 com a pergunta de ontem. As falas da película, jogando na cara de todos a complexidade de ser socialmente, a nossa vaidade e o grau de mediocridade a que se pode chegar, enfim, a urgência de atuar. Verdades que eu e a população mundial douta ou instrumentalmente sabe. Eu sou ciente da minha suscetibilidade exacerbada a algumas coisas, mas a pergunta me deixou bastante estranho. Enquanto isso, 'acordar para cuspir', o computador e o meu trabalho de investigação se perdem nas minhas conjecturas tão fiéis.


Tratando mais especificamente da interrogação - a despeito de ter disparado uma réplica verdadeira -, ela se relaciona basicamente a tudo o que escrevo: o não saber. E, aqui, não estou usando de sofismos. Claro ficou, claríssimo está, para mim, que a pergunta não teve conotação direcionada à produção de concepções existencialistas, pelo contrário, eu acreditei nela porque percebi, e percebo, a sua coerência dentro de um contexto que a sustenta, que a impeliu a ser - como nós linguistas dizemos - enunciada. Contextos e conjunturas. Sobre isso, eu nem quero mais pensar (e divagar) tanto. O transporte para outras questões mais amplas feitas por mim, aqui, pode se dever, em parte, à exposição a Bergman, bem como ao meu constante ofício de ser o inquiridor de mim mesmo. Quero dizer, é comigo; sou eu. Ponto. Traços de egoísmo. O atingir de uma pergunta como a que abre este texto traspassa quem a fez, onde foi feita e as questões que a derivaram. A minha resposta para ela, talvez uma mais real, é um rotundo eu-não-sei. Quiçá nunca, jamais o saiba. Porque por não saber é que estou aqui, é que, por exemplo, este blogue existe. Quero dizer mais: para quem se sentir outro, alheio a estas palavras que me revelam, desconsiderem tudo; tudo; apeguem-se ao que mais lhes aprouver ou for de necessidade, eu ligo pouco para isso. Escolham a personagem que melhor satisfaça projetos e planos. A minha personagem social trabalha a covardia como uma das matérias-primas para atuar. Ajo, portanto, de modo inofensivo. Eu ofereço a personagem sem queixas, porque ela é o meu mal mais necessário.


Tudo isso pode abrir espaço para sentidos de laconismo, mas acontece que, ontem, eu fui dormir pensando sobre mim, sobre o/um mundo pesado de coisas. Hoje, no banho, lembrei da questão-ultimato, no momento da revelação, em frente do espelho. Imenso e infindo espelho. E aí? "É você, Pablo" - pensava. Sim. Sou eu. Eu só.


Então, para terminar isso aqui - pois preciso trabalhar -, penso que não se deve perguntar coisas assim a qualquer pessoa, a qualquer tempo, de qualquer modo. Mesmo simbolizando algo de cumplicidade, se assim for feito, as respostas poderão ser réplicas. Eu, aliás, poderia - talvez, deveria - ter solicitado uma semana para responder, mas cada vez mais sinto e vejo que não há tempo, não temos tempo. Nenhum de nós. E já que preciso dar réplicas, sabendo que o faço e sendo do jeito que sou, preciso de espaços para digerir o que roda a minha cabeça, a qual sofre e pende para uma covardia legitimada. Assim, eu preciso parar, respirar. Acho que Bergman não está me fazendo 'bem', e eu nem assisti ainda a 'Persona' e a 'Sétimo Selo'.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Feeling Good

Muito provavelmente devido ao fim de semana passado - pelas pessoas incrivelmente especiais que conheci - (e por eu ter começado o dia ouvindo Nina), sinto-me feliz. Feliz. Eu, então, resolvi correr, mas bem depressa para espraiar essa coisa linda que estou sentindo.

Como de costume na semana, acordei às 6h (é, na verdade, 6h20), tomei o meu banho ouvindo Tulipa, cantando que seria pontual. Eu achei o máximo porque é tão comum que eu, como de costume na semana, fique excessivamente preocupado com as horas que passam e seguem escorridas pelo ralo. Hoje isso não aconteceu, pois a água estava tão morninha. Que coisa boa. Meu cabelo ficou ótimo de primeira. Eu saí assim pelos caminhos da UnB, olhando e sentindo o céu, o sol (e o mar?  deixe para o pessoal do Mombojó). Apesar de naquele momento estar ouvindo o noticiário, hoje, pelo menos nesse início de dia, eu nem prestei tanta atenção nele. Na verdade, fiquei feliz também porque, sem dinheiro, encontrei um tíquete do Restaurante Universitário: "que bom! Não terei de ir até um caixa eletrônico para tirar notas" - pensei. Foi uma surpresa boa. Como é bom ser surpreendido positivamente. E eu agradeci a Deus por estar vivendo aquele momento, aquela hora, daquele jeito. Foi lindo. Deus é isso, Deus é aquilo: aquilo tudo que se concentrou na minha retina e coloriu a minha caveira. Índigo! Branco! Verde! A Luz! Como o mundo pode ser lindo em uma manhã de segunda-feira.

Eu não sei como será o dia de hoje - nem farei comentários sobre conjecturas, não neste momento -, o mais importante é que, depois de tomar café-da-manhã, veio a vontade de caminhar e dançar até o meu apartamento. E tome mais Nina me dizendo "Tomorrow is my turn, no more doubts, no more fears (...) what is gone will be no more". Nossa! É melhor ouvir Nina louvar o jeito como ela está se sentindo em uma conversa comigo do que estar a par das ações que serão tomadas pela Espanha para limpar a barra com o Brasil. Incrível! Nações são menores do que dois pássaros que voam de forma paralela diante da varanda do meu quarto.

Engraçado, quando eu falo de coisas mais tristes, escrevo mais. Acredito que isso se deva à leveza que tem a linda Alegria e a sua borboleta, a Felicidade. Eu sei que não é possível aprisioná-la a não ser pela rede da aparência ou do escape, mas eu fico tocado porque eu a vejo: Felicidade! Felicidade! Bom dia, Alegria! Olá, Alegria! hehehehe! Eu me admiro quando isso acontece porque eu sou bom e porque eu gosto de ser e de estar com gente assim -  ainda que ache não ser interessante transformar em hipérbole midiática a coisa óbvia que deveria ser o cultivo do bem para o mundo. Eu estou aprendendo a não dever nada a ninguém e eu fico também tão feliz por causa disto: tem mais gente no mundo... gente boa.


Ou seja, EU ME SINTO BEM. 

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Je suis blasé, mon Dieu?!


E junho chegou. Sim, o meio do ano. Hoje é sexta e, para variar, estou meio estranho. No fundo, eu acho que ando me sentindo assim porque estou em uma rotina. Hoje, caminhando, vinha cantarolando: "Todo dia ela faz tudo sempre igual...". Talvez eu odeie rotinas; talvez eu já esteja acostumado a elas, eu não sei. Eu não sei! Já estou falando nulidades.

O que quero mesmo dizer é que às vezes fico de saco cheio. Saco cheio porque eu sempre espero mais de tudo, e, claro, eu estou incluído nesse "tudo". Eu queria, neste momento, estar em Aracaju, com os meus amigos, pensando sobre coisas do mundo de modo filosófico, depois entrar no meu carro, passear na orla até altas horas e planejar secretamente coisas para fazer com a minha mãe, com meu pai e com a minha irmã; coisas que nos fizessem estar juntos, percebendo o quanto somos abençoados por estarmos unidos e cientes de que nos amamos e nos entendemos por sermos tão parecidos.

Pode soar contraditório porque eu adoro dizer por aí que saí de casa 'para ter uma vida', mas tem momentos em que eu canso dessa brincadeira de 'ter uma vida'. Eu também sou consciente de que isso o descrito acima talvez seja um ideal, mas não tirei isso do nada. Por que essas coisas não poderiam acontecer? Não que elas sejam impossíveis e tal, contudo parecem tão distantes. Além do mais, tem eu com o meu grande problema com o Tempo. Cada dia que passo aqui em Brasília é menos um com a minha mãe, é menos um na minha cidade e, consecutivamente, é mais um em que aprendo a ser blasé com as pessoas -  como em uma espécie de defesa a qual considero ser necessária para seguir nesse mundo super esquisito. Dia desses, li uma reportagem sobre uma dessas personalidade da mídia que havia sido diagnosticada com lúpus. Ela dizia se sentir mal porque sempre se considerou independente dos demais e ao se ver precisando de ajuda para fazer coisas não mais se reconhecia. Isso me atingiu. Estou seguindo nesse caminho perigoso, sinto. É extremamente triste, mas o que fazer quando você dá bom-dia a uma pessoa e ela nem olha para você? ou quando você é quase atropelado na faixa, mesmo sinalizando a intenção de passar? Eu ando muito desconcertado com certas coisas do mundo. Sei que muitos poderão vir com o papo de que nem todos são assim, mas POR QUÊ esses demônios malditos existem? Enfim, é uma longa história, que não poderei contar porque tenho de ir dormir para amanhã cedo estudar.

Acho mesmo que estou cansado, mas quem liga muito para isso, né! Ele, o Tempo - digamos também assim - nem quer saber disso. Eu fico aqui tentando ver um jeito de não ver a sua força, mas é impossível. Logo vêm os prazos. Ah! Eu entrei na academia, para ver se me distraía um pouco... mas isso é outra história. Como já disse, não há mais tanto tempo para falar dessas coisas minhas.

Na semana retrasada, eu soube que uma pessoa que eu gostava e respeitava muito tinha morrido de câncer. E eu nem consegui fazer uma homenagem, um texto, como antigamente, sabe... Fiquei hiper mal porque isso demonstra como anda a minha vida. Parece que sigo no caminho certo para 'ter uma vida', uma minha, que não se importa de mais com os outros. Eu não sou mais nesse tempo que ando vivendo. Que triste, mas tenho que ir dormir.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

I Will Survive (num Trem para as Estrelas)

São sete horas da manhã. Poderia ser aquela música cantada pelo Cazuza, mas da minha janela não vejo o Cristo. Eu falo com ele, na verdade. Peço-Lhe calma. Peço-Lhe paz de espírito.

Ontem, eu explodi. Estava indo dormir cedo - depois da novela das sete -, quando, já prestes a lavar os pratos do meu jantar, percebi que o meu celular novo não estava reconhecendo os fones de ouvido. Eu só sei fazer as coisas ouvindo música. Eu estava já fazendo os planos para esta sexta-feira; pensava: "Amanhã, conseguirei ler, ou melhor, escrever alguma coisa para a minha dissertação. Com mais algum esforço, ainda concluirei as pendências, pois não haverá os mesmos empecilhos que se apresentaram durante toda esta semana. Para isso, acordarei bem cedo". Esse lindo castelo em construção até o aparente defeito do meu aparelho, o gatilho para a minha queda de ontem. 

Ontem à noite eu comecei a ficar irritado porque esta semana havia iniciado bem tumultuada no sentido de que todo o meu planejamento de tarefas foi bagunçado por algumas pendências referentes a exames. Eu, para o checkup do semestre, precisava entregar um último teste que deveria ser feito em duas etapas há algumas semanas. A minha nova empreitada de produzir a dissertação acabou por embaralhar as possibilidades de sair ou de realizar as tais duas etapas explicadas pelo laboratório. Deixei para lá, naquela oportunidade, tendo em vista que eu tinha de entregar coisas do curso que eram prioridade. 

A segunda-feira, então, começou. Eu acordei às seis da manhã, tomei banho e fui entregar a primeira parte do exame. Aproveitando a oportunidade de sair de casa - coisa que anda se mostrando extremamente rara nos últimos tempos -, resolvi passar no supermercado para comprar algumas coisas. O tempo foi inclemente, sem dar na vista, simplesmente, foi. Já em casa, ainda tive que preparar o café da manhã - que é um dos meus prazeres, i. e., elaborar uma mesa com frutas, cereal, pão, café, suco etc. Resultado: a manhã, quando devo fazer uma porção de coisas programadas, foi tomada por todas essas outras (as quais são realizadas bem no início do meu dia). Após o café, peguei algo para ler, mas não tive como finalizar bem a nem leitura nem fichamento. Na terça-feira, tinha a segunda parte do exame para deixar no laboratório. Previ que o dia provavelmente seria da mesma maneira e, portanto, fiz um acordo comigo mesmo de não ficar aflito. Acontece que o cara que divide o quarto comigo acordou mais tarde do que o comum (eu o espero ir tomar banho primeiro porque trabalha e sai cedo; dai, fico remoendo na cama, acordado, esperando ele entrar no banheiro para que eu não o atrapalhe, e também porque os meus banhos são verdadeiros comerciais do 'Lux Luxo' - hehehehe!), o despertador dele ficou tocando um monte de vezes - e ele nada de acordar (ou melhor, levantar). Vendo que poderia me atrasar para a entrega do exame, eu me levantei para ir ao banho. Ele, ao me ver, perguntou se eu ia tomar banho... Aff, que raiva! Disse que ele poderia ir antes de mim (porque de confusão eu estou correndo). Entrou, demorou uma vida e ainda voltou para fazer a barba (mereço???). E eu E-S-P-E-R-A-N-D-O. Resultado: saí correndo, quase atrasado porque, além do mais, dependo dos maravilhosos ônibus, que, vejo, têm um acordo anual de nunca estarem no ponto quando se precisa deles. Enfim, cheguei. Entreguei a última parte da pendência e passei mais uma vez no supermercado. Lá, foi a vez de o meu cartão testar a minha paciência. Não funcionou. Eu já fiquei com aquilo tilintando na cabeça, imaginando novos problemas - como coisa de ir a banco e ficar longos minutos esperando para ser atendido. Voltei para casa pensando. Chegando ao meu doce lar, aconteceu o que previ: todo o esquema do dia foi atrasado e piorado porque o pessoal de serviços gerais resolveu vir ajeitar uma infiltração naquela manhã. Quarto interditado, cheiro de tinta, poeira e eu sem mais uma vez poder pegar no livro ou no computador (sob o risco de sair como o Pluft de dentro do quarto). Quarta-feira, os queridos camaradas dos serviços gerais voltaram para dar a "segunda mão de tinta"... O 'caos' se repetiu, mas daquela vez fui safo: peguei uns livros e fiquei no sofá, tentando (deveria escrever com 'T') estudar. Ontem, o pessoal voltou para dar a milionésima demão de tinta. Eu no sofá Tentando estudar. O meu outro companheiro de quarto vendo a MTV e rindo. Meu Deus! Ainda, dali a pouco, teria aula e eu sem ter avançado o quanto esperava. Esperançoso, pensei ser hoje o dia de redenção, quando tomo o susto do celular. Ele me fez ficar uns minutos preciosos testando outros fones, indo para a Internet pesquisar assistência técnica, imaginando que no dia seguinte teria de sair novamente e, por conseguinte, atrasar - de novo, mais um vez - o cronograma de atividades desenvolvido. 

Analisando mais friamente, percebo que o episódio do aparelho, como disse, abriu as comportas de controle. Eu comecei a pensar porque justamente no dia em que eu poderia fazer as coisas sem empecilhos aparentes, a porra do meu celular se colocava como mais um motivo para eu não estar em casa, pegar  ônibus e complicar a minha rotina. Comecei a chorar pensando que estava dando tudo errado, até a me questionar sobre mim mesmo. Comecei, por exemplo, a dizer que eu era uma farsa porque não estava produzindo como deveria. Logo me vieram as imagens dessa casa onde estou, que por vida está desorganizada, suja e da desfaçatez dos outros dois, que parecem não dar a mínima para um espaço limpo. O meu companheiro de quarto está estranho, frio. Eu não estou bem no meu 'relacionamento'. Tenho saudades da minha mãe, de estar com ela, e até da comida dela. Ficava concomitantemente me dizendo "Pablo, tenha calma; se você se desesperar e tiver um troço, quem vai cuidar de você? Quem? Você não se abre tão facilmente com as pessoas, e elas têm a tendência de não perguntar também. Você depende de você mesmo para prosseguir, gato.", no entanto, não adiantava: desatava a chorar; em seguida, pensava no ridículo de estar chorando por um celular, depois, constatava que não era o celular, mas um conjunto de coisas, cuja existência, muita vez, não tinha relação com as minhas ações de forma direta. Chorei muito. De verdade. Pensava sobre o meu futuro, inclusive. "Se a única coisa que ocupa a minha vida atualmente de forma importante é o mestrado e eu nem consigo cumpri-lo competentemente, então, o que será de mim?",   cismava. Foi horrível ontem. Eu queria parar de chorar, mas, ao mesmo tempo, dizia a mim que eu precisava daquele momento. Conversava com Deus, dizendo-lhe que não queria isso de barganhar graças, pois eu abomino essa concepção cristã de culpa e castigo versus obediência e premiação; contudo sou ciente de ela ser parte de mim, como uma mancha na perna, que se pode esconder, mas que sempre estará lá (e ainda que apagada, será relembrada a cada lance de olhar).

Ah! Uma coisa engraçada. Na minha angústia de ontem, sonhei com coisas super estranhas. Em algum momento me vi viajando em uma van com Marisa Monte para uma espécie de formatura na qual eu seria um dos formandos. Na viagem, a cantora se comportou de forma fria e me dava várias cortadas; acho que até me chamou de chato. Depois, surgia uma grande tabela com o meu horário da UnB deste semestre em que eu via a palavra 'trancamento'. Divertido porque eu me acordei querendo ir à desforra com Marisa, cheio de raiva dela, até o momento do "é a Marisa Monte, Pablo!" - Hehehehe!

Sabe, eu penso às vezes que me cobro demais, mas o que fazer de diferente não está claro para mim. Não quero ficar dependendo da minha mãe. De acordo com a pessoa que encontro, estou constantemente reclamando, calado ou falando platitudes para afetar uma normalidade, um alheamento em relação a coisas do mundo. 

Precisava escrever porque não aguento carregar essas coisas. Eu permaneço desconfiando de tudo e de todos; cada vez mais, para mim, a vida e as ações de muitas pessoas do meu convívio giram em torno de uma espécie de script (incluindo a minha também), mas eu não quero participar conscientemente desse teatro de vampiros. Não sei se o Criolo está totalmente errado quando diz que "quem sorri pra ti quer ver tu cair". Não quero que as pessoas sejam condescendentes ou tenham pena de mim: já existem irritantes milhares que adoram se colocar como vítimas para amealhar 'graças'. Eu não. Recuso-me. Talvez esteja pagando por essa 'temeridade'. Eu não tenho mesmo nada a perder. Sigo ouvindo I Will Survive. Sobrevivendo.

terça-feira, 8 de maio de 2012

"É tarde! É tarde!"


Estou na hora do almoço. Ainda aquela neurose de tentar me adequar a um quadro de horários que formulei para mim. Esta hora, pela minha programação, é a única em que não tenho de estar lendo ou digitando alguma coisa.

Enfim, a despeito dessa pretensa organização, ando me sentindo mais perdido do que nunca. Sinto-me beirando a paranoia, pois sempre estou preocupado se dará tempo de cumprir o que está programado. Isso não está sendo algo do tipo 'estou aprendendo a ser organizado'; está mais para o coelho branco da Alice saindo do nada correndo para lugar nenhum. Eu sempre acho que fiz um quinto do que estava planejado. É horrível!

Isso tem acontecido porque estou querendo fazer um bom trabalho, escrever super bem, sabe. Quero acabar no tempo - quiçá antes. E nem estou conseguindo escrever. Não sai. Não pensei que fosse passar por isso. Não mesmo.

Ando irritadiço; sinto como se estivesse aéreo em meio a uma cachoeira - que como é de sua natureza - não cessa de trazer mais água. Com a água vêm um zilhão de objetos que me impedem de transpor a queda. Por exemplo, eu farei algo de que não estou muito orgulhoso, mas antes impelido pelo desespero: trancarei uma disciplina. Tudo bem que ela não está no rânquim das 'dez disciplinas mais bem ministradas de todos os tempos', mas desistir é algo que sempre mexe com os meus brios - de quem cumpre o que se empenha a fazer. Ainda isso. Mas não posso fazer 'a diva' nessa situação. Tenho que focar no meu trabalho de dissertação.

Sobre ele, fico me questionando diversas vezes sobre o porquê de isso estar acontecendo. Eu acho que nunca está bom o - pouquíssimo - que produzo, e nunca dá tempo. Nunca! Tipo, fico de duas a três horas remoendo duas páginas; logo acho que estou perdendo tempo e que poderia produzir algo mais com uma nova leitura, a qual implicará um fichamento, que, por sua vez, não terei tempo de concluir. U-m-a-m-e-r-d-a! Ora porque me canso e me levanto, ora porque preciso sair para suprir alguma necessidade fisiológica eu não consigo cumprir o planejado.

Tem sido assim. Dias não muito fáceis. Cansei de falar sobre isso. Vou ler algum texto.

domingo, 22 de abril de 2012

Fora de área


Acabo de passar um final-de-semana indescritível. Eu fui com o meu amor para uma chácara afastada de tudo. Foi como se estivéssemos em um universo paralelo. Eu, definitivamente, precisava disso.

Como falei nas últimas postagens, as coisas andam bem intranquilas na minha cabeça, no entanto não vem ao caso lembrar disso agora. Resolvi passar aqui para registrar esses dias.

Eu fiquei muito feliz porque estava entre iguais, entre pessoas que não são iguais. Eu durante esses dias pensei sobre aquilo, sobre a loucura desse mundo que separ pessoas, mas que estas encontram estratégias para driblar os constrangimentos. Isso me dá menos medo. Ver que há pessoas iguais amim e que há ainda aquelas que não reforçam o tolhimento de existir exercido por outros que se acham os donos da 'verdade'. Estou falando laconicamente porque ainda estou aprendendo a ser do segundo tipo de pessoa. Foi para isso que também resolvi investir na Estrada. Não quero ter de me esconder como medo ou vergonha de ser quem eu sou, com todas as minhas peculiaridades.

Eu me sinto - ao contrário da outra postagem - feliz por estar vivendo as coisas que estou vivendo. Eu, como neste momento, penso não ser clara a minha razão de estar nesta vida, mas, ao mesmo tempo, sinto que estou aqui para viver; viver, sabe, para aprender bastante. Para quê? Não sei. Eu não sei de nada, mas vou andando, seguindo realmente as minhas metáforas. Ser quem eu sou. E eu nem sei tão bem assim  quem  eu sou. Também não sei quem sabe, não é.

Agora estou no ônibus, indo para o hotel. Segunda-feira volta tudo ao normal. É tão esquisito saber que este "normal" é mais um pedaço de algo não concreto do qual depende, em tese, a minha vida. Hoje estou ainda no meu universo paralelo. Que bom.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Aéreo


Agora, estou em um voo. Indo para Campinas. A minha cabeça super cheia. Faz algumas semanas que estou assim, meio aéreo, às vezes desmotivado. Dia desses até chorei. Alerta!

Acho que ando cansado. Na verdade, atribuo esse desequilíbrio a algum processo de estafa, inicial, talvez. Acontece que entre os meus colegas e amigos da universidade anda circulando a 'paranoia da dissertação'. Todos só falam no quanto estão atrasados na escritura do trabalho de mestrado. Eu, que nem comecei de fato, contagio-me e fico tenso, pois, além de presenciar esses campeonatos de 'eu-tô-pior-que-você', ainda me vejo aflito toda vez que ouço a minha orientadora, pois penso saber o insuficiente, ou nada. Putz! Isso acaba comigo.

Ultimamente, nas aulas de preparação para a dissertação, eu estou voando mais do que pipa na Esplanada dos Ministérios. Eu não ando entendendo o que a minha orientadora fala nem o que ela quer e, apesar de ter elaborado um plano de estudos bem organizado (com vistas a um bom trabalho de dissertação), nunca consigo realizar as tarefas que são solicitadas por ela de modo completo. Então, chego à aula com a leitura/atividade inconclusa, sou convidado a participar das discussões mas não me sinto à vontade para contribuir. Fico me questionando se algum dia eu entenderei as coisas como elas devem ser entendidas. Não quero fazer um trabalho acadêmico e ganhar um título apenas: quero ser um profissional de excelência no que faço. Mas não está rolando.

Esta é a segunda semana de 'implementação' do meu plano de estudos. O que tenho mais feito é fichar textos, e nem isso eu consigo finalizar. Eu fico tão desanimado. Não que a 'culpa' seja minha - visto que venho me esforçando para me disciplinar (tenho acordado diariamente às 6h para ir para a biblioteca e só volto às 20h, por exemplo (como fazia na época da seleção de mestrado)) -, cabe dizer que os textos são complexos, e eu não consigo atrelar claramente a minha pesquisa à teoria que estou lendo. Fico mal com isso.

Com isso, outro ponto problemático se desenrola. Entro em uma espécie de crise de identidade em relação à meu trabalho. Uma vez que ando lendo para fichar, sinto-me como se estivesse fazendo um dever de casa para entregar à professora, ou seja, é como se eu estivesse cumprindo uma espécie de praxe, como na época da escola nas aulas de português (que eu até gostava, mas que era uma recorrência mais agradável em relação às demais). Eis o problema: não dou conta de completar leituras e fichamentos em tempo hábil, o que me toma horas para problematizar as leituras, e que, por sua vez, deixa-me impotente quando da apresentação de definições importantes para a minha pesquisa. É o caos. Tenho medo de essas coisas atrapalharem o processo de construção das minhas atividades ligadas ao mestrado.

Ao mesmo tempo em que me vêm essas questões, sinto-penso que o meu tema de pesquisa - a situação de rua - é tudo o que eu gostaria de me deter. A minha ideia para o mestrado era a de fazer algo relevante para mim e para o meu País; depois, observando esse mundo, aprendi a ver o quão necessário é lutar junto com o meu povo. O meu trabalho, assim, trata de algo relevante para o Brasil, além de ter o meu povo como o mais afetado. Daí, no entanto, vêm as teorias, as epistemologias, as metodologias etc. E eu preciso (pensei em usar 'devo', mas não quero tornar isso uma obrigação) dominá-las, mas bem mais do que para mostrar a outros que detenho o poder do conhecimento em determinada: elas são ferramentas para que a mudança possa acontecer. É terrível isso, pois, como já disse, eu me sinto fraco em relação a elas.

Unem-se a essas inquietações questões relacionadas a mim, ao meu futuro. Penso nos meus pais, no tempo em que não estou com eles, penso em suas horas indo e eu 'ainda' sem dar-lhes uma vida sem mais preocupações. Eu sei que isso tem pouco fundamento, pois eles vivem super bem, mas queria dar mais a eles. Penso, em determinados momentos, que isso é, em boa medida, algo mais para mim, para a minha vaidade do tipo "ele conseguiu. Venceu.". Penso que, talvez, esse "mais" não lhes seja tão necessário e que eu o construo, quiçá, para que tenha um propósito para fazer as coisas, para, de algum modo, sobreviver em um mundo agridoce. Isso também me entristece, pois até quando elegerei representações para erguer a construção da minha vida?

Enfim, são coisas que preciso organizar. Apenas eu posso fazer isso por mim. Tem sido assim. Vejo-me perdido porque, conforme a ordem das coisas, eu mesmo tenho de encarar os meus demônios; o que me dói e ter de me atracar em combates que parecem transcender o meu controle. Não estou reclamando, mas tentando entender o que está acontecendo.

Está difícil - but I will survive.

sábado, 7 de abril de 2012

Guerra Fria

Ontem foi sexta-feira da Paixão. Feriado. Brasília estava como está hoje, com cara de final-de-semana. Como foi dia útil, eu deveria ter estudado, seguido uma tabela que desenhei para mim para conseguir levar a cabo o meu mestrado. Enfim, eu comecei a escrever este texto ontem (como está marcado com a dêixis temporal - hehehehe! :( ) porque já estava me sentindo estranho.

Eu não sei. Acho que uma vibe estranha está passando por algumas regiões do planeta, pois um monte de gente que conheço está passando por situações complicadas: término de namoro, falta de grana, aflições relativas a trabalho etc. Eu sinto isso porque não estou muito tranquilo esses dias. É o que me faz voltar aqui, para que possa, de alguma forma, extrair de mim essas coisas chatas e vê-las de perto, examiná-las.

Há algum tempo estou enfrentando coisas meios chatas. Tem acontecido aqui na minha nova casa. Eu convivia com mais três caras, atualmente são dois. Desde o início vi o quanto seria complicado lidar com alguns comportamentos que observei em visitas antes da mudança efetiva. Eles são muito negligentes com limpeza, com contas, com uma porção de coisas que aprendi serem importantes - no sentido de se ter uma boa convivência social (uma coisa que observo hoje). São fatos que me atingem diretamente porque estou vivendo em no lugar; então, na maioria da vezes, vejo-me lembrando (que é preciso ser limpo para, por exemplo, evitar insetos andando pela casa) ou exigindo (que tenham atenção ao usar o banheiro no sentido de não deixar o chão sujo de lama) obviedades, pelo menos, para mim. O resultado é que não me sinto bem com isso, pois não gosto de me colocar como mais do que ninguém, ou seja, mais organizado, mais responsável, mais atento às coisas etc. Eu devo ser assim, mas para mim e somente para mim. Tenho muito medo porque eu já tenho uma veia megalomaníaca, algo que sei que existe em mim e que venho tentando dominar, distraindo-a aos poucos. É como um monstro que está dentro de mim, com algum custo eu consigo dar-lhe bolas com guizos para deixá-lo ocupado, mas eu sei que a qualquer deslize ele pode tomar conta da situação. Atitudes como as que andam ocorrendo (de eu normatizar as coisas na casa e de ver-me "acima", diferente daqueles dois que parecem ter o mínimo necessário de civilidade) dão um alimento que aumenta a força desse monstro. Fico triste por às vezes sentir que estou perdendo o controle e por sentir que isso me levará por um caminho perdidoso.

Então, fico pensando se devo sofrer assim sozinho. Minha mãe nos educou de forma a sermos pessoas aptas ao ótimo convívio social: precisávamos deixar casa e quartos arrumados para uma entidade imprevisível chamada "alguém", amiúde referida como visita. Sempre recebi elogios pelo modo cortês com que me dirigia às pessoas e como lidava com situações acres. Aprendi que ser assim me abria caminhos. Gostei. Hoje, longe de casa, e do meu reino, observo existem coisas na vida que não se consegue resolver por meio da elegância e dos bons-modos. Isso está me matando, pois é como se precisasse aderir a um comportamento extremamente desagradável, que abomino quando o vejo nas pessoas. Entrar em discussões, gritar, ser bruto são coisas que a minha mãe sempre evitou fazer e eu, por tê-la como meu referencial, assimilei.

Falo dessas coisas porque estou observando que precisarei ter de deixar esses traços principescos para começar a ter comportamentos mais contundentes, na verdade, contundência não define bem o que terei de aprender a ser. Vejo que as pessoas parecem não ter atenção ao quanto as suas ações influem na vida das outras. Elas parecem viver neste mundo sozinhas ou com aqueles de quem gostam (o que exige delas um pouco mais de cuidado). É como aqui em casa, que se transfigura em um verdadeiro microcosmo: alguém come; deixa talheres, pratos e panelas sujos dentro da pia e não atentam que - uma vez que dividem o apartamento - outra pessoa poderá precisar daqueles utensílios; ou, ainda, colocam o único pano de prato da casa para lavar deixando-o por mais de duas semanas dentro de um balde de água parada (que logo se torna fétida e mais sujará do que limpará o tecido). O que devo fazer, visto que me incomoda profundamente ver coisas assim? Ir lá, tirar e lavar? Perguntar pela quinta vez quando a pessoa que se propôs a lavar o pano terminará a ação, e ouvir indiretas ou respostas grosseiras? Eu não sei. É complicado. Tem sido bastante complicado.

Resolvi que adotarei a estratégia de batalha. Não fugirei mais dos conflitos se eles se apresentarem. Talvez, tudo isso seja para que aprenda de uma vez por todas que não alcançarei o consenso, que a vida é lutar, brigar pelas suas posições quando elas são invadidas. Eles sabem que me sinto incomodado quando vejo coisas extremamente sujas e ainda assim o fazem, se assim acontece, eu não ficarei mais evitando entrar na minha própria casa para não ter de encarar visitas que se convertem em moradores fantasmas (mais um presente de um dos que dividem a casa comigo). Não aguento mais ficar calado diante dessa situação e se for para brigar, vamos à luta! 

Em algum momento eu terei de aprender. 

sexta-feira, 30 de março de 2012

Mais um ano

Hoje é meu aniversário. Foi um dia comum. Fiz questão de que ele fosse assim porque não ando muito motivado a fazer as coisas de antes. 

Eu nem ia escrever aqui, mas, como tem sido uma prática desde de 2008, mudei de ideia. Não sei por quê, mas tenho necessidade de registrar esses momentos. Talvez acredite naquela história de "ainda vamos rir muito dessa história". Aliás, acho isso uma das coisas mais legais para se dizer a alguém em tempos de dificuldade.

O fato é que cada vez mais eu me afasto dos tempos de menino. Hoje, com 26 anos, já sou considerado um adulto. É estranho como eu faço as contas. Estou sempre contando. Mais cedo, estive pensando, olhando da sacada do meu apartamento, o quanto que consegui até aqui; o quanto eu precisava dizer a Deus coisas que mostrassem a minha satisfação por estar onde estou. É inexplicável olhar para trás e rever uma trajetória que realizei por meio de um desejo forte. Por mais que para muitos pareça frase-feita, mas foi a força de um sonho que me fez encarar essas coisas.

Agora, aos 26, estou naquele momento em que se senta e pensa sobre a salvação: depois de ver e enfrentar o furacão, vê-lo passar. Eu não morri, mas estou em uma terra arrasada, nova e constato que é tudo comigo. Ter 26, para mim, é como se eu já me preparasse para mais uma caminhada, mas uma não tão florida como a anterior. Como diz a música de Milton, não é mais só de sonho que se faz o meu caminho, mas com o meu braço também.

Parece perseguição isso de ficar falando de "ontens", mas é o que sinto. Mais do que nunca, vejo que preciso ser bom. É claro que as coisas que fizeram parte da minha trajetória me fazem ver a minha atuação de modo menos intenso. Algumas vezes acredito que em relação a determinadas coisas eu adquiri alguma serenidade. Posso dizer que com 26 eu aprendi a me respeitar; aprendi a ver que o que eu sou é somatório de uma história conjunta,, que ninguém conhece, ninguém viveu e, portanto, ninguém tem o direito de querer regular. Com 26, eu vejo que é tempo de me estabilizar como alguém maduro e, por conseguinte, pensar como ocuparei a minha posição no "mundo real". Penso em preservar um lado meu que tenta sempre ir pelo caminho ético - mesmo que ache um cu o mundo. Eu me orgulho do homem que me tornei: tenho orgulho da minha família que contribuiu para essa minha formação, eu me orgulho profundamente da mãe que tenho e que um dia, confio em Deus, eu poderei mostrar que tudo o que ela fez por mim deu bom fruto. 

Às vezes, também penso sobre o futuro - esse fantasma que me enlouquecia em tempos outros. Penso, então, que, já que não sei nada sobre ele, vou trabalhando, do modo que vi dando certo com outros. Assim eu me distraio e aprendo, ao mesmo tempo. Não é fácil. Eu sinto como se a vida estivesse nas minhas mãos e que a qualquer passo mal calculado eu possa desandar tudo. Essa é a aventura chamada Vida, quando a pessoa se propõe a vê-la desse modo. Eu topei fazer parte disso. Tenho claro na mente que as consequências existem, mas de que há muito o que ver e aprender, inclusive.

Este texto foi escrito "no automático". Eu ando assim. É estranho, mas parece que é como se estivesse abandonando algo que é ora casca. Não sei se estou em queda livre, ou se estou estou vendo que terei de pular, pois a casca já não me sustentará por muito tempo: ou eu, novo, pulo ou caíremos os dois, casca e eu, na direção de uma nova paisagem. Acho que será um tempo novo. Que venha, então, assim como chegarão vinte e seis anos de alguém que vê, sente, sofre, mas segue.

segunda-feira, 5 de março de 2012

O espelho me disse...

Engraçado (e bem batido) aquele papo de "o problema não é com você"... Pois é, acabo de perceber que ele é fato. Um bem complicado, por sinal.

Eu não sei. Estou com fome, esperando a água ferver para eu fazer aquelas sopinhas de envelope. Não estou muito bem e este é o motivo por eu estar aqui escrevendo.

É. Ainda é sobre amor e tal. Hoje, mais um dia, eu não conversei com o meu amor. Em situações diferentes, relativas a ele, eu vi o quanto preciso melhorar. 

Não estou com muito saco para escrever textos imensos. O ponto é que, ontem, ele não me ligou. Ele me explicou que não pôde; que havia acontecido alguma coisa; que me explicaria quando me ligasse hoje, enfim. Chegou, então, "hoje" e eu não movi um dedo para conversar com ele. Primeiro, acordei tardaço por ter virado a madrugada assistindo a "Hilda Furacão", no You tube: o meu dia de domingo, por isso, começou às 15h... Depois de me arrumar, fui ao supermercado comprar umas coisas para tomar café. Fui pensando se deveria levar o meu tablete, para caso recebesse uma ligação, mas não o fiz. Eu não me esforcei para ligar o aparelho.

medo
O problema. Eu não quis conversar porque pensei naquela minha mania idiota de fazer joguinhos do tipo "farei com que morra de vontade de conversar comigo, que queira saber se eu estou com raiva" ou "vou fazê-lo sofrer um pouquinho; vendo-o preocupado com a minha reação, terei o controle da situação". A justificativa: "assim vai ser mais emocionante". Duas suspeitas terríveis me envolvem, desde que recebi a primeira mensagem dele dizendo que havia tentado me ligar. A primeira é de que eu quis meio que me "vingar" por ontem ter esperado para conversar com ele, para me derreter por esse meu amor e não ter tido o meu desejo saciado, posto que não houve ligação QUANDO EU QUERIA. A segunda, e - talvez - a pior, é que eu estou querendo, como sempre, ter o controle da situação, regulando as ações da outra pessoa. 

Eu fico realmente apavorado com isso. Eu me sinto envergonhado demais. Esse é um Pablo que não condiz com a evolução a que me propus.

Ainda ontem, esperando por ele, fiquei vendo uma entrevista de Whitney para Oprah, a última grande entrevista da estrela. Nela, a cantora falava do seu passado com as drogas e o que a fizera entrar naquele mundo, quando a sua vida era um sonho de consumo para o mundo todo. Whitney explicou que estava completamente apaixonada pelo seu então marido, que gostava do jeito como, com ele, a sua vida não precisava ser ditada por ela, a estrela, a diva. Nas suas palavras, era incrível para ele ter aquele homem no controle da situação. Ela precisava, pelo menos em algum momento da sua vida, sentir que a sua existência não era um negócio em que Whitney Houston era o ser onipotente. Ela, então, entregou-se totalmente àquela relação. Sofreu muito, mas amou e se divertiu igualmente. Enquanto falava, era nítida a satisfação de lembrar que sentiu e viveu algo inédito. Eu pensei que também me sinto assim, insuportavelmente poderoso em relação a mim mesmo. Eu entendo a diva. Também controlo a minha vida demasiadamente, eu me podo tanto, enfim, sempre penso que somente EU sei o que é o melhor. Vejo que estou transferindo isso para a minha relação, e ela é um bebêzinho ainda.

Não quero perder isso que estou vivendo. Parece algo tão sadio. Eu preciso mudar, deixar de ser alguém manipulador e dar chance a outra pessoa que, assim como ocorreu com Whitney, não me veja como uma personagem. Estamos nos conhecendo, portanto quero dar chance a outros lados meus que ainda não exercitei - por não ter encontrado quem estivesse pronto para vê-los. Tenho tanto medo de cometer erros terríveis por presunção da minha parte. Assim, hoje, eu, no final da noite, senti-me tão estranho, envergonhado por tal atitude que, não sei se mimada ou controladora, denotou a minha imaturidade nessa jornada.

Agora, vou dormir. Amanhã é segunda-feira e tenho coisas mil para resolver. Amanhã, conversarei com o meu amor...

Sei que dormirei pensando:

VOCÊ NÃO MUDOU [?]

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Aconteceu

Eu pensei que não fosse escrever hoje, mas, felizmente, estou aqui. É bom para mim isso de registrar.

Nem sei bem por onde começo. Na maior parte das vezes, eu estruturo um pensamento a respeito do que escreverei e procedo. Hoje é um daqueles dias que deu vontade de escrever, eu estava na frente do computador - adiando uma ação da universidade - e, por isso, resolvo unir o útil ao agradável. Putz! Muitas coisas aconteceram (e têm acontecido) na minha vida neste mês de fevereiro. Definitivamente, um mês para se lembrar, digno de registro.

Na última vez que escrevi, estava esquisito, com medo, receoso por não ter planos ou novidades por correr atrás, por voltar a Brasília e imaginar um começo de ano anódino. Eu achava que as coisas estavam plácidas, algo previsíveis e me assustei por isso. Eu sempre acho que calmaria não é sinal de coisa muito boa -  não sei, é uma impressão minha -, mas segui vivendo. Isso em janeiro.

Chegou fevereiro e eu "voltei à ativa". A universidade me reservara obrigações de pesquisa, que me serviram providencialmente para encher os meus dias. Era o problema: viver catando coisas para "encher a minha vida". Eu pensei - mais uma vez, de novo, novamente, once more - sobre o futuro, sobre mim e as coisas do porvir... aquele blá-blá-blá de sempre (...). Uma ideia parecia ser fixa: eu precisava de um "amor", ou, pelo menos, eu tinha de me envolver com alguém; mas cadê essa pessoa? Eu fui atrás. Estava disposto a me arriscar, a sentir. Tudo isso em fevereiro, neste fevereiro. Fui à Bahia trabalhar, mas foi em São Paulo que aconteceu o tal do "amor". Como cantou Adriana Calcanhotto, "aconteceu".


Eu encontrei a perfeição para mim. Sim, uma coisa assustadora, mas eu, do nada, estava me preparando para me encontrar com a minha parte de perfeição na Terra. No começo, eu pensei, "é so sexo", mas, depois, comecei a ver que, de alguma forma, aquilo estava indo em uma direção diferente, nova. Eu não me lembro muito do que estava sentindo naquele momento, pois, talvez, eu estivesse no calor do susto. Era tudo o que eu precisava: alguém que me elogiasse com intenções terceiras, mas que preservava no olhar uma doçura indescritível. Uma coisa de história de fadas. Quiçá, uma junção daqueles meus poemas românticos. Durante três dias ininterruptos nós nos amamos. Sim, de várias formas.

Nós "nos amamos" por que não acabou. Eu não estou sendo metafórico. Hoje, ainda e último dia de fevereiro, eu sigo falando com a minha parte de perfeição. Eu, parece, conquistei-a. Sim. Parece que eu consegui. 

Agora, idiota, sinto medo. Tenho muito medo de mim, principalmente. Algumas vezes faço uma ideia bem punk de mim: que sou mimado, frio, calculista etc. Essas coisas ferram comigo, com um lado deprimente de herói de filme blockbuster - que todo mundo adora ir ver porque nunca será metade do que é narrado. Assim, antes, tinha medo de me envolver e não ser recíproco; agora, tenho medo do que vai acontecer porque está sendo bilateral. Eu fico espantado como as coisas têm se dado. De repente, eu estou rindo à noite sozinho no meu quarto mandando mensagens românticas, louco por um retorno imediato, pensando na delícia que é o momento do pensar em alguém. Eu não sei. Não sei. Queria e quero aprender a amar, pois sei que esse sentimento existe, ainda que não seja o da novela ou o do filme água-com-açúcar de onde aprendi a desejar. Hoje, eu tive medo porque não estive tão cheio de romance como ontem. Tenho medo de ter desaprendido, de o meu coração ter se tornado um lindo cristal: frio e duro. Tenho medo de ter me transformado em um desses vaidosos que conquistam e cansam. Por outro lado, não sei se deveria estar todo o tempo em estado de encantamento... afinal, isso é coisa de novela e filme água-com-açúcar. Não sei. Estou perdido, pensando que este momento é único na minha vida e tal, mas também não quero criar expectativas bobocas. As coisas não funcionam assim. Tem outra coisa, também essencial: eu, o meu jeito. Não gosto de coisas muito aderentes (para não usar outro termo), eu me apavoro com isso - já vivi e, definitivamente, não quero mais. Eu sei, é só o começo. Estou disposto. É muito ruim estar só; e, além do mais, eu prometi que, caso acontecesse, eu faria de tudo para dar certo, visto que só eu sei do buraco no meu peito. Essa inquietude deve de ser pensamentos-monstros desesperados com o eminente fim do ocaso que vinha sendo a minha vida. Só lamento para eles... 

Agora, vou ler. Quero lidar com essas preocupações da minha cabeça. Não é saudável para pessoas como eu sentir-se vitoriosas. Darei tempo ao tempo. Uma bonita história pode se desenhar. Serei, e será, o que tiver de ser, afinal, hoje ainda é fevereiro.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Ridiculous thoughts

Daqui a alguns dias, estarei de volta a Brasília. And so what? O texto de hoje é daqueles de madrugada: meio lúgubre, meio do jeito que eu acho que precisa ser. Eu acho que as coisas saem melhor de mim desse jeito. Um momento Special Needs, do Placebo. 

É estranho, pois eu sinto tanta saudade dessa minha vida de Aracaju e, ao mesmo, tempo não a quero mais, recuso-me a ela. Eu não sei se essas coisas eu posso controlar e, aliás, eu já escrevi sobre isso, mas ideias recorrentes são algo que não faltam na minha cabeça. Não quero falar sobre isso de querer ou não a vida que tinha antes de ir para Brasília; na verdade, eu preciso entender o que está se passando na minha cabeça, que anda tão esquisita.

Eu deixo a minha casa e, dessa vez, acho que vou esperando menos das coisas nas quais apostava no início do ano passado. Ando muito desconfiado de tudo, sem a paixão que pensei que teria no caminho que estou trilhando agora. Algumas vezes, eu acho que é por causa do tanto de tevê que andei assistindo, pelas coisas que andei vendo. 

Sei da minha vulnerabilidade diante da televisão em seus mais diversos formatos. Eu, de certa forma, sentia-me livre disso em Brasília. Por escolha própria, lá, eu não assistia a televisão. Aqui em casa, o aparelho é ligado no início do dia e desligado pela última mão a ir se deitar - ultimamente, ela tem sido a minha. Fico vendo as coisas e me perguntando sobre o porquê de eu não viver daquele jeito tão legal, glamuroso. Com certeza, esse é um dos efeitos desejados por essas emissoras, o de fazer com que quem assista queira consumir uma vida representada ali. E o pior de tudo é que eu sei disso e me vejo entregue a esses tentáculos. É uma merda! 

É por isso que fico nessa situação. Eu meio que fugi disso, do reinado do "deus-TV". Se dependesse da televisão e das coisas que vejo nela eu não sei se estaria como hoje estou; provavelmente, eu reproduziria os conceitos dela, quiçá, eu me veria de algum modo bem escravizado por ela. Por outro lado, penso que devo muito ao que vi na televisão, por diversos motivos (...). O que sei é que não acho legal - nem bonito - isso de estar sendo bombardeado pelas porcarias de boa parte das emissoras a semana inteira.

Mas eu vou embora. Mais uma vez, eu estou indo. Já não sinto tanta beleza em dizer que irei para onde o vento me levar, fazer as coisas que acontecerem, ou que não farei planos. É como se a poesia não estivesse por perto, é como se ela tivesse tirado férias de mim. Eu tenho tanto medo porque sinto necessidade de não deixar de ser o que gosto em mim em detrimento de ter algo meu, que por algum tempo (de preferência, por muito tempo) me deixe tranquilo (para fazer coisas como sair com os amigos, comprar o que achar necessário e dar a minha mãe uma vida mais leve). Eu sei que sou impaciente e vi o grau estranhíssimo de receio em que estou. 

Acontece que não estou seguro se conseguirei uma oportunidade interessante de trabalho (pleiteada por mim antes de vir a Aracaju), boa para o meu currículo. Tudo porque não olhei o prazo de entrega de documentos.A tormenta aconteceu há dois dias. Fiquei chorando na cama e tudo, perguntando a Deus o que seria do meu futuro, pois aquilo - importante para mim - parecia estar perdido, esvaído-se pelos meus dedos. Por conta desses questionamentos, fiquei tentando localizar um seguimento para o que há um ano tenho feito. Eu não sinto aquela motivação para escrever certas coisas acadêmicas, nem lê-las; duvido de tudo, ponho em xeque as diversas teorias e pessoas que parecem assumir posições de luta. Eu, às vezes, não queria ter de ficar estudando e escrevendo sobre problemas sociais quando vejo que a televisão e as mais diversas mídias influenciam tão mal as pessoas ao pautar seus conteúdos em fofocas e/ou outras platitudes tais como programas de pessoas se expondo por dinheiro e projeção a qualquer custo. Eu fico pensando sobre o mundo ser assim, fico pensando na dificuldade que tenho em achar gente que me inspire a lutar por um mundo diferente. Eu acho tudo muito engessado, hoje em dia, tudo muito colocado, parece haver espaços já postos para a manifestação: eu sinto que as pessoas não fazem questão de trabalhar a sua própria humanidade, quero dizer entendê-la, para depois propor mudanças para a sociedade. Eu sinto que muita gente é demagógica, aquilo de estar fazendo a sua parte porque de alguma forma ganhará dinheiro e posição com isso. Eu fico triste nesse cenário e não sei bem como me encaixar...

Talvez uma das minhas tristezas seja a de ter de me modificar para viver como eu aprendi a gostar. Eu queria retroceder o tempo, mas sinto que não posso e essa minha volta a Brasília estará focada na mudança, mas na MINHA mudança. E imagino o que fazer com tudo o que eu lutei, as coisas em que eu acreditei, e as coisas em que confiei? Eu me sinto enganado, às vezes. 



Eu vejo os meus pais. Eu vejo a minha irmã. Eu me vejo. Fico me sentindo diferente deles, mas tão igual a minha mãe, até no sofrimento. Eu fico eufórico comigo mesmo quando vejo as imagens panorâmicas televisivas. Penso: "eu posso ir para lá! quem me impede de estar lá?". Então, de repente, eu posso tudo, tudo mesmo no mundo. Mas, depois, vejo as limitações: tudo é Tempo. Em seguida, sinto-me deteriorando, dentro de um prazo de validade no qual eu preciso urgentemente criativizar. Eu imagino uma profusão de profissões que eu poderia exercer para ganhar dinheiro e não ter de ouvir "o professor precisa ser valorizado" o tempo todo, nem dar de cara com as notícias de concursos públicos me estuprando, vendendo para mim a ideia de que qualquer coisa vale mais do que ser professor, o meu mais aparente destino. Eu tenho pressa. Também porque os meus pais parecem, a cada retorno meu, precisar de ajuda... Mas não quero me vitimizar tanto. Outro problema é que não encontro com quem dividir. Talvez eu, desse meu jeito, espante pessoas. Ainda isso... Ninguém merece: até o Coldplay virou uma banda da Capricho!

Sinto profundamente que algo está mudando. O meu comportamento de animal estressado me demonstra isso. Daqui a dois dias estarei indo embora da minha casa. E eu não sei o que será de mim... "Oh!". Não sei mesmo. E estou pensando "quero mesmo é que se foda o mundo todo!", no entanto eu não quero me foder, mas como não se sou parte desse Vicious World. Na real, eu tenho é medo de sofrer e de morrer. Estou constatando que 2007, 2008 e o início de 2009 não voltarão mais: a gente dessas épocas está casando, tendo filhos, trabalhando e tendo seus carros. Eu me sinto por ora como envolto em caprichos (de querer ser o que eu quero - ou que acho querer). Parece que sim, chegou a hora de seguir e largar as mãos de fantasmas. É hora de permitir que todos os que estiveram na minha vida atrás sigam, para que eu assim o faça. Ques pensamentos... Ridiculous thoughts...

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Reclamando

Eu, nesse período de férias, ando me ouvindo e sentindo o afastamento de algo que sempre considerei bom. É bem louco, mas, não sei, tenho me achado assim. Sinto-me perdido, de algum modo. Ando entediado com as pessoas; com as coisas do cotidiano; de como eu ainda não vejo estruturado um plano de execução para o meu projeto chamado vida. Estou cansado de ver, ouvir e ler as pessoas falando constantes mais do mesmo, e confuso comigo, por ler e ver essas porcarias pseudo-críticas com seus autores intelectuais. Eu também ando em um grau de descrédito do mundo altíssimo: pouco acredito no que vejo e ouço; tenho raiva até. O mundo é como é por essas tantas babaquices repetidas. Não aguento ver, por exemplo, o que o governo de São Paulo está fazendo com os dependentes químicos da deprimente Cracolândia. De ver sempre os mesmos sofrendo as mesmas coisas...

Eu, no entanto, ainda gosto de ouvir as coisas tropicalistas, as viagens da Calcanhotto e as conversas - consideradas por mim - inteligentes. Eu adoro ver coisas da TV Cultura, as provocações do Abujamra... (Ah! Como eu gosto daquele exercício pretensioso dele). As minhas férias têm sido isso, basicamente.

Durante esses quase vinte dias aqui na minha casa, eu me vejo em uma situação familiar: a proximidade com um passado de cuja influência eu pareço querer me desvencilhar, mas que, ao mesmo tempo, mostra-se (e sempre mostrou-se) necessário para projeções. Como uma espécie de canteiro no qual eu plantei sementes e sobre as quais eu imagino, eu crio e acredito desenhos belíssimos, promissores e desejáveis. Estar em casa com a minha família me faz sentir estranho, faz-me querer estar e não estar, ao mesmo tempo. É um lugar no qual pareço estar à parte do mundo, e, para mim - para um lado racional meu -, isso não é nada bom. Eu fugi disso, inclusive.

Eu não sei. Eu me sinto tão estranho. Eu tenho raiva de muitas coisas, como o mundo, por exemplo. Eu vejo o quanto o poder vale, o quanto o dinheiro parece ser necessário. Eu me vejo engessado, quando, na verdade, várias coisas apontam para um contrário. Conversei com uma amiga e ela me disse: "É porque você é ariano, Pablo". Ela quis dizer que a falta de paciência é característica do meu signo. Eu realmente sou pouco - ou nada - paciente; acho que é porque sempre estou colocando a minha vida em comparações com outras. Isso também não é legal. 

A questão é que eu quero as coisas do meu jeito, pois, analisando a minha atual situação, eu deveria estar contente... eu estou contente, mas eu também estou descontente. Eu não sou uno, sei disso, e me incomodo com a situação. Na maioria das vezes, eu não consigo evitar. Eu me vejo elaborar planos ótimos, incríveis, uns até factíveis, mas, depois de algum tempo, digo a mim mesmo que não vai rolar. É como se eu tivesse uma vida na mão.... Putz UMA VIDA - e o peso que o termo acarreta. Isso é uma delícia e um pavor. 

Esses pensamentos vêm na esteira da entrevista de Criolo no "De Frente com Gabi", que acabei de assistir. O cara parece viver super além de formatos imundos, e ele é daquele jeito que dá vontade de estar perto, conversar etc. A coisa mais linda. Um artista. Gente assim vem para fundir a minha cabeça, pois quando eu acho que as pessoas são um cu - principalmente no universo do showbiz, hoje em dia -, aparece um ser humano desses. Como disse, adoro o lance tropicalista no que diz respeito a revirar padrões e caminhar em uma estrada dadaísta de liberdade: eu queria conseguir ser mais livre, mas como é possível em uma sociedade em que precisarei comer e pagar contas, em um mundo em que foi educado para ser diferente dos meus próximos?

Definitivamente, na volta a Brasília, voltarei a frequentar o templo budista. Talvez enlouqueça menos. Eu não quero sentir culpas. Eu não quero viver de desculpas. Eu sou uma construção, cheio de tijolinhos de vários momentos, cimentada por diversas mãos (tão várias que é impossível delimitar, o que eufemisticamente quer dizer, achar/nomear culpados). Chega disso! A grande questão parece estar no quanto eu me amo e me aceito e me vejo exclusivo neste mundo. Hoje, eu me sinto bem mais avançado em relação a isso, mas não no grau que preciso.

Bem,é isso. Divagações em uma madrugada de quarta-feira.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Acordando para a Vida

fonte: GT Wallpaper
É de uma reunião em família que sai, agora, a resolução maior para mim em 2012. Farei, este ano, de tudo para resolver outros pontos da minha vida. Acontece que meu pai veio e - mais uma vez - disse que eu precisava trabalhar. A minha irmã, (nem sei se tão) indiretamente, disse para mim que não tem tido as coisas que quer porque a minha mãe gasta muito comigo em Brasília. Foi algo positivo, pois vi que a minha casa não é o paraíso. A minha vida não é mesmo o conto de fadas que eu sempre fiz questão de encenar.

Neste ano, devo dar prosseguimento a algumas ações que considero vitais para mim. Definitivamente, preciso crescer e ter uma vida. Preciso romper os laços com a minha mãe. Não me refiro a uma ação drástica - principalmente porque ela não merece -, estou tentando encarar a vida de maneira mais adulta, ou melhor, madura. A conversa de hoje deixou isso mais aparente. Por mais que eu tenha sentido uma ponta de distorção em algumas colocações durante a reunião, vejo-a como mais um impulso para avançar, seguir e deixar para trás o passado. A minha vida já não pode voltar, por mais que eu queira com alguma força. 

A minha mãe, na reunião, esteve como de costume: calada, ouvindo todos falar sobre ela. Nada falava. A minha mãe ficava muda, ouvindo e ouvindo. A minha mãe confirmando a sua imagem de boa e devotada, a que sofre para ver o bem do seu filho, aquela que não se importa com as pedras nas costas pelo fato de estar protegendo a sua cria vulnerável. A passividade dela bradava a força de conseguir manter-se incólume às investidas dos outros. Mesmo na exiguidade de suas palavras houve a demonstração maior de poder da noite. É impossível desconsiderar alguém que se mostra tão ligada a mim. É por nosso bem também que preciso continuar. 

Percebo que quando o meu pai me fala para trabalhar, ele quer me dizer que não devo ficar sob os eternos cuidados da minha mãe, pois sou um homem e não mais um menino. E eu levarei esta instrução comigo: não devo ser mais um menino. Por mais dolorido que seja, preciso cortar o cordão. Na verdade, eu venho me mostrando que é necessário fazer isso se eu não quiser construir um jardim usando os meus pais como adubo, erguer uma construção em cima dos seus restos. Isso seria terrível. É fato que muito da demanda do meu pai é influenciada pelos filhos outros que ele vê por aí. Eu sinto no meu pai um pequeno dilema: feliz por estar onde estou, mas descontente pelo pouco avanço em relação a um futuro. Aquela máxima tradicional "no meu tempo, na sua idade, eu já...". Eu sou ciente de que o tempo dele foi o tempo dele, no entanto me localizo também em um dilema de evitar passar o trator das minhas concepções super-hiper-mega coerentes em cima dos ideais estabelecidos dele. É complicado, mas é uma carga que se leva: você vive e leva a sua história nas costas. A sua família é a sua história viva.

A minha irmã, ao falar que lhe faltam coisas como roupas ou cabeleireiro, quer demarcar, provavelmente, a sua posição na família, sua presença diante dos meus pais. Talvez ela queira mostrar que também tem necessidades, que, de alguma forma, tem sido minimizadas pela "importância" que eu venho obtendo por estar longe de casa; por eu vir atraindo mais atenção da minha mãe, o nosso eterno objeto de disputa. Eu e a minha irmã somos crianças que enfrentamos as complicações do tempo; que relutam em ver as coisas se modificando; que, de algum modo, querem preservar o calor da proteção familiar, visivelmente marcada pelos traços cruéis do Tempo. Vejo que a minha irmã, inclusive, emula atitudes dos nossos pais, tornando-se, assim, extensão deles. Observo isso quando ela diz preferir calar-se a ouvir a nossa mãe posicionar-se ao meu favor (quando, segundo ela, abordam o excesso de atenção dado a mim por mainha), observo que a minha irmã reproduz um comportamento comum na nossa família, o exercício caprichado das aparências. 

Os meus pais parecem fazer de tudo para não lidar com o conflito. Quando acirram-se os argumentos, para eles, é melhor encerrar a discussão. Termos como "reclamar" ou "sofrer" quase não são permitidos. É preferível perder-se em doces tolices disfarçadas em brincadeiras do que enfrentar analisar eventuais problemas. A minha irmã me mostra que está aprendendo isso também com os meus pais. Aliás, eu vi hoje que a minha casa está como sempre. Não sei muito bem o que mudou aqui. Em casa, eu me sinto em um museu. Mesmo.

Enfim, durante a passagem do ano, lá estava eu pensando sobre o quão bom havia sido 2011. Eu não sabia, então, o que de fato pedir a Deus. Eu francamente só tinha o que agradecer. Eu ao mesmo tempo fiquei feliz e preocupado com a situação. Eu sempre estou na ambivalência de querer a perfeição e de esperar coisas ruins para a vida. 

Hoje, eu vi que meus pais já são o que são. Eles estão mais velhos. Meus pais estão velhos. Eu tenho de pensar um modo de agir diferente. Acho que 2012 será o fim do meu mundo. Que bom.