quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Reclamando

Eu, nesse período de férias, ando me ouvindo e sentindo o afastamento de algo que sempre considerei bom. É bem louco, mas, não sei, tenho me achado assim. Sinto-me perdido, de algum modo. Ando entediado com as pessoas; com as coisas do cotidiano; de como eu ainda não vejo estruturado um plano de execução para o meu projeto chamado vida. Estou cansado de ver, ouvir e ler as pessoas falando constantes mais do mesmo, e confuso comigo, por ler e ver essas porcarias pseudo-críticas com seus autores intelectuais. Eu também ando em um grau de descrédito do mundo altíssimo: pouco acredito no que vejo e ouço; tenho raiva até. O mundo é como é por essas tantas babaquices repetidas. Não aguento ver, por exemplo, o que o governo de São Paulo está fazendo com os dependentes químicos da deprimente Cracolândia. De ver sempre os mesmos sofrendo as mesmas coisas...

Eu, no entanto, ainda gosto de ouvir as coisas tropicalistas, as viagens da Calcanhotto e as conversas - consideradas por mim - inteligentes. Eu adoro ver coisas da TV Cultura, as provocações do Abujamra... (Ah! Como eu gosto daquele exercício pretensioso dele). As minhas férias têm sido isso, basicamente.

Durante esses quase vinte dias aqui na minha casa, eu me vejo em uma situação familiar: a proximidade com um passado de cuja influência eu pareço querer me desvencilhar, mas que, ao mesmo tempo, mostra-se (e sempre mostrou-se) necessário para projeções. Como uma espécie de canteiro no qual eu plantei sementes e sobre as quais eu imagino, eu crio e acredito desenhos belíssimos, promissores e desejáveis. Estar em casa com a minha família me faz sentir estranho, faz-me querer estar e não estar, ao mesmo tempo. É um lugar no qual pareço estar à parte do mundo, e, para mim - para um lado racional meu -, isso não é nada bom. Eu fugi disso, inclusive.

Eu não sei. Eu me sinto tão estranho. Eu tenho raiva de muitas coisas, como o mundo, por exemplo. Eu vejo o quanto o poder vale, o quanto o dinheiro parece ser necessário. Eu me vejo engessado, quando, na verdade, várias coisas apontam para um contrário. Conversei com uma amiga e ela me disse: "É porque você é ariano, Pablo". Ela quis dizer que a falta de paciência é característica do meu signo. Eu realmente sou pouco - ou nada - paciente; acho que é porque sempre estou colocando a minha vida em comparações com outras. Isso também não é legal. 

A questão é que eu quero as coisas do meu jeito, pois, analisando a minha atual situação, eu deveria estar contente... eu estou contente, mas eu também estou descontente. Eu não sou uno, sei disso, e me incomodo com a situação. Na maioria das vezes, eu não consigo evitar. Eu me vejo elaborar planos ótimos, incríveis, uns até factíveis, mas, depois de algum tempo, digo a mim mesmo que não vai rolar. É como se eu tivesse uma vida na mão.... Putz UMA VIDA - e o peso que o termo acarreta. Isso é uma delícia e um pavor. 

Esses pensamentos vêm na esteira da entrevista de Criolo no "De Frente com Gabi", que acabei de assistir. O cara parece viver super além de formatos imundos, e ele é daquele jeito que dá vontade de estar perto, conversar etc. A coisa mais linda. Um artista. Gente assim vem para fundir a minha cabeça, pois quando eu acho que as pessoas são um cu - principalmente no universo do showbiz, hoje em dia -, aparece um ser humano desses. Como disse, adoro o lance tropicalista no que diz respeito a revirar padrões e caminhar em uma estrada dadaísta de liberdade: eu queria conseguir ser mais livre, mas como é possível em uma sociedade em que precisarei comer e pagar contas, em um mundo em que foi educado para ser diferente dos meus próximos?

Definitivamente, na volta a Brasília, voltarei a frequentar o templo budista. Talvez enlouqueça menos. Eu não quero sentir culpas. Eu não quero viver de desculpas. Eu sou uma construção, cheio de tijolinhos de vários momentos, cimentada por diversas mãos (tão várias que é impossível delimitar, o que eufemisticamente quer dizer, achar/nomear culpados). Chega disso! A grande questão parece estar no quanto eu me amo e me aceito e me vejo exclusivo neste mundo. Hoje, eu me sinto bem mais avançado em relação a isso, mas não no grau que preciso.

Bem,é isso. Divagações em uma madrugada de quarta-feira.

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