quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Tapete mágico

Desde alguns dias venho pensando em algumas coisas. Alguns e algumas porque minha cabeça parece estar cada vez mais lotada para o todos e todas. Enfim, hoje vinha no ônibus, um pouco cansado, quando no meu tocador de mp3 (ou para alguns, mp3 player) começou a passar a música "A Whole New World", aquela tema de Aladdin, da Disney. Olhando a estrada dentro do calor do busão comecei a viajar e na hora que o trecho da canção disse alguma coisa relativa a voar em cima de um tapete mágico fiz questão de fechar os olhos e sentir o vento bater no meu rosto, como se estivesse voando mesmo; imerso na música, estava de pé, o que facilitou o meu faz-de-conta; depois abri os olhos e continuei a escutar a letra tão linda da música, falando de coisas que um dia eu acreditei porque eram tão lindas de se sonhar, em um tempo em que minha obrigação era só imaginar e tentar viver aquela ilusão tão boa. Logo o ônibus estava fazendo uma curva bastante sinuosa - à qual eu já estou acostumado - e de cima, do início dela, eu podia ver o quarteirão, minha rua e um monte de casinhas que se espremiam em paralelas e até curvas num desenho singular que me deu a impressão de estar pairando sobre. Então daquela vez não quis fechar os olhos e com eles alerta escutei novamente o trecho do tapete e naquele momento eu estava voando, esquecendo por um instante que tinha que voltar pra casa, que tinha uma casa, obrigações e tarefas que talvez fizesse ou não. Acho que voltei a ser um Pablo que há certo tempo estava adormecido. No entanto a cena da curva vinha seguida da de dar o sinal para parar, descer e voltar ao Old World. Isso tudo foi em questão de minutos, mas foi muito importante pra mim.
Amanhã tenho umas reuniões lá na UFS, uma delas é realmente nenhuma, mas a outra é meio problemática, talvez eu a esteja tornando assim, mas não vai ser fácil mesmo. Ela tem a ver com a questão da minha raça, do meu povo. Eu desencantei desse tema logo que comecei a estudá-lo mais a fundo. Pensava que não me reconhecia como negro e queria combater isso, mas vi que muitas vezes os discursos não combinam e percebi coisas que talvez quisesse nem ver. Parece aquela música de Sandy e Junior, "Abri os olhos", não dá mais pra fechar. É tão estranho às vezes ver outros lados e é engraçado porque o máximo de elevação intelectual que credito é à Platão e ele tinha esse lance com a verdade, bem como outros pensadores que meio que dizem que "quando você vê a luz, já não faz mais parte do senso"(Se alguém falou isso ipsis literis realmente não sei, dessa forma não dá pra "citar" (aquela regrinha básica de todo trabalho científico)), o que parece certo, apesar de ainda não saber se é verdade ou se vesti isso por cima da roupa vaidosa que me acompanha sempre (...), o fato é que já não me sinto igual, e quer saber, fico satisfeito com isso.
Lembrando que, depois desse devir meio às avessas, corri para a locadora pra alugar o DVD de Aladdin.

"A whole new world
A new fantastic point of view
No one to tell us no
Or where to go
Or say we're only dreaming"

Ai, ai...

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

...

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My Back Pages

Written by Bob Dylan

Crimson flames tied through my years
Rollin high and mighty trapped
Countless violent flaming roads
Using ideas as my map
"We'll meet on edges soon" said I
Proud 'neath heated brow
Ah but I was so much older then
I'm younger than that now

Half wracked prejudice leaped forth
"Rip down all hate" I screamed
Lies that life is black and white
Spoke from my skull. I dreamed
Romantic flanks of musketeers
Foundationed deep, somehow
Ah but I was so much older then
I'm younger than that now

In a soldier's stance, I aimed my hand
At the mongrel dogs who teach
Fearing not I'd become my enemy
In the instant that I preach
Sisters fled by confusion boats
Mutiny from stern to bow
Ah but I was so much older then
I'm younger than that now

My guard stood hard when abstract threats
Too noble to neglect
Deceived me into thinking
I had something to protect
Good and bad I define these terms
Quite clear, no doubt, somehow
Ah but I was so much older then
I'm younger than that now

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Ser o parecer

"I know a man ain't supposed to cry, but these tears I can't hold inside...", já dizia meu grande amigo Marvin. É com suas palavras que inicio meu texto, falando do que a gente não deve fazer porque..., por que não mesmo? Ninguém na verdade sabe por que não deve fazer as coisas que nos são ditas pra não serem feitas. Daí é que entra o começo do sofrimento. A ilusão, o que é mostrado é o que realmente interessa. Dia desses li uma revista não-ortodoxa que tinha uma matéria falando sobre a obsessão das pessoas pelo dito corpo perfeito, tipo aquele da revista que a gente vê todo dia, a que você já jurou ter notado em algum lugar, mas que na verdade tratava-se apenas de mais uma réplica de coloração diferenciada da da semana passada. No bloco dos adoradores das magazine covers estou incluído, mas como às vezes é necessário tripudiar em cima de coisas comuns a você, não posso deixar de falar do poder da aparência na minha atualidade.
É engraçado, a vida é uma ironia de fato: a revista que citei no primeiro parágrafo, a que trazia a matéria aparentemente criticando o excesso de valorização corporal por parte do hommo sapiens (?) vinha com um "modelo" de plástica - como diria Marco Bianchi - assaz valorizada, adorada e obsessivamente desejada (hehehehe) na capa (bis: hehehehe) o que me fez agora remontar a essa nova novela da Globo, a Duas Caras, que tem na abertura uma favela, tem Lázaro Ramos extensivamente anunciado no elenco e que traz como pro-ta-go-nis-ta o ator brasileiro Dalton Vigh (...). A vida é realmente um gramática normativa cheia de figuras de linguagem. Cansado de sofrer com as revistas e atrações televisivas fui atrás da música. Que assombro! Vi uns Compact Discs que pareciam verdadeiros books de fotografia; então parei e pensei: "Nessas fotos são bonecos ou cantores?", e, rapaz, sabe que quando ouvi algumas faixas não achei uma resposta; acho até que fiquei mais confuso. Até hoje me pergunto. Não dá pra ver um cantor forte de público que seja feioso. É como se acordasse e me achasse num comercial da Mattel: sorrisos lindos em bocas que mexem ao som de dispositivos acionados pela mão de um dono. Depois se assustam quando uma boneca se apresenta com defeito no desfile de uma nova coleção. A coitada só conseguia implorar "Gimme, gimme more! Gimme more, gimme, gimme mooooooore!" - Seria mais comida? Pil(h)a? Sei lá. Definitivamente não foi uma das melhores aparências. E o futuro dela? Ninguém sabe, mas eu sim: sala de funilaria e pintura depois de um bem divulgado recall, é claro!
Realmente não dá pra ser diferente quando o mundo é tão igual. Ah, mas tem alguém sempre que vai dizer "eu sou diferente, não me submeto a este mundo-cão. Não vou me adaptar" e eu, é claro, como quem ainda não aprendeu a se libertar tal qual esse provável verborrágico cidadão contestador, conseguirei conter a profusão de gargalhadas que virão como resultado da frase do meu interlocutor tão sábio. Na minha posição de limitado eu observo nossos jovens praças e suas respectivas pracinhas tão alternativos com suas camisas de Viva la Revolución!, seus cabelos belamente desgrenhados, entoando hinos cordel-do-fogo-encantadescos e adorando Los Hermanos e trocando números de celulares COM CÂMERA!!!!!!, adicionando-se no orkut e fazendo tantos etecéteras contrários ao Sistema, o maldito sistema. Eu não aparento, mas acho tudo tão lindo porque tem o céu lá em cima, tem Gilberto Gil em Brasília e Caetano nas capas de revista brigando com Luana Piovanni...
Ai, ai. Às vezes eu acho que o mundo inteiro se revoltou contra mim, ei! Isso é Cachorro Grande. Como é ruim ser alvo da rajada da mídia. Agora já gosto da Cachorro. Amanhã, será que gostarei de quem? N(e)X(o) Zero (meu maldito eu venenoso) é o artista do ano... viva o Rock 'n' Roll e eu criticando e fazendo o mesmo! Mundinho pequeno esse, né, mesmo?