domingo, 29 de agosto de 2010

Driving [myself] Crazy

Quase meio-dia. Estou aqui ouvindo um dos meus "CDs memoriais". Escrevi no twitter umas balelas e não sei bem o que farei durante o dia. A questão é, o ponto alto da semana está reservado para amanhã. É na segunda o dia em que as "mudanças" começarão realmente. Estou num misto de sentimentos; uma confusão, para variar.

É amanhã a prova prática do DETRAN. Eu tô um pouco receoso - embora tenha praticado bastante -. Às vezes penso: "ah, rapaz! é normal ficar assim, mas você não deve fazer disso um monstro; ele, por enquanto, só é um gremlim meio estranho - he, he, he! -. Não dê mole, senão o bicho entra no balde de água e aí...". O que tem me deixado meio estranho com relação ao dia são as circunstâncias nas quais ele vai acontecer. Estou com a passagem comprada e a data da viagem é antes do prazo dos quinze dias de segunda chance (dado nos casos de reprovação). É meio que uma bosta, mas a merda maior é que nem reprovei ainda e já estou preocupado, pensando bestagem (!!!). Isso não existe. É por isso que fico com sensações misturadas dentro de mim. Parece aquela música do Five for Fighting [who?], "It's not easy to be meeee!". Tenho de arranjar um jeito de deixar de ser assim, ou, ao menos, reduzir essa porra dessa ansiedade. Já deu. Vou me esforçar para encarar os pensamentos também possíveis, como aqueles, tipo, "eu vou conseguir", e tudo mais. Estou aprendendo, mas que tá osso, tá!

Na verdade, é meio que virando as costas para esses tipos de comportamento um dos motivos da minha ida. Não quero mais algumas coisas observadas por mim na minha vida. Eu ando achando o seguinte, quando passamos muito tempo com pessoas extremamente ligadas a nós, a gente acaba por se tornar uma espécie de extensão dessas pessoas: absorvemos alguns dos seus jeitos, hábitos, manias e comportamentos. Na maioria das vezes, a gente só nota isso quando se vê em situações complicadas ou de parafuso. Fico meio apavorado com a impressão, apesar de saber que é natural do ser humano. 

Neste domingo, quero ter paz para - pelo menos - amanhã. Até a minha mãe [péssimo exemplo de tranquilidade no lidar com perrengues também] já me disse pra relaxar e não ficar esquentando com as implicações do meu pai [o patrocinador (R$) de tudo], pois ela - com conhecimento de causa - lembrou que ele sempre reclama, por mais perfeição existente. Mi corazón de Maria la del Barrio, no entanto, fica pensando nos esforços e investimentos dele em mim. Acho que vou começar a ver mais vídeos da Soraya... [pelo menos, ela era mais divertida.]

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Quem irá nos proteger? (II)

Trecho da reportagem do portal Infonet (aqui) sobre o atentado ao desembargador Luiz Mendonça, presidente do TRE-SE, ocorrido hoje de manhã. Eu escrevi e agora penso, POR QUÊ?

"O desembargador ferido foi encaminhado para um hospital particular em outro veículo. Já o motorista permaneceu no local aguardando socorro."


"When I look into the future
I see danger in it's eyes
Hearts of hatred rule the land
While love is left aside
Killing plagues the Citizen
While music slowly dies
And I get frightened I, see I get frightened"*

Janelle Monáe, in "Locked Inside"

"These are things that I don't understand"**

Coldplay, in Things "I don't Understand"


:(




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*Quando eu olho para o futuro
Eu vejo o perigo nos olhos dele
Corações de ódio ditam o caminho
Enquanto o amor é abandonado
Assassinatos atormentam as pessoas
Enquanto a música morre aos poucos
E eu estou apavorado, eu estou apavorado

**Essas são coisas que eu não entendo

domingo, 15 de agosto de 2010

Paratodos

[AVISO: Este post tem dois vídeos. Sugestão: antes de começar a ler, carregue-os (ou, pelo menos o primeiro), pois ilustram o escrito.]

No último texto, tratei sobre ignorância. Neste, voltarei a falar dela e da sua inflamação, a burrice.

É um tema complicado. Muitas vezes, vi-me diante de situações as quais desejei não ter de presenciar, tampouco de saber. Não acho bonito o ódio e não sei por que algumas pessoas parecem estar tão alheias à sua presença vil. Tem dias que fico triste mesmo, muito por ver como estamos; às vezes, em dias de inquietações mais agudos, temo por mim e pelo mundo, como vamos viver daqui a algum tempo. Eu já tentei não ver tanto, mas é muito difícil.

O mundo é hoje vendido como livre de várias amarras do passado apresentadas a nós pelos livros de história. Os manuais da História são necessários panegíricos ao triunfo humano da derrubada de obstáculos colocados em seu caminho, diversas vezes, pelo próprio homem. Como em todo texto laudatório, há a necessidade de carregar em personagens que ratifiquem a supremacia de outros, às vezes sendo representados como verdadeiros mocinhos e abjetos vilões. Há os personagens secundários, aqueles presentes na narrativa a fim de dar plano ao desenvolvimento dos fatos. Isso, para quem lê e relê as histórias históricas, acaba por ficar particularmente visível; é possível, então, ver que as coisas, muitas vezes, têm outros lados possíveis, outras direções: ou seja, nada é puro e puramente dicotômico.

Há cem anos, morria o abolicionista Joaquim Nabuco. Eu não sabia. Estava olhando a página inicial do UOL e vi uma marca divulgando o projeto do Jornal do Commercio, de Pernambuco (para ter acesso ao especial clique aqui), sobre o centenário de morte do intelectual pernambucano (para ser exato, lembrado desde o dia 17 de janeiro). No hotsite do projeto existem alguns textos interessantes sobre a questão do que é ser negro no Brasil contemporâneo. Tocado pela proposta e pelos meus últimos pensamentos, resolvi mergulhar o dedão do pé na correnteza conturbada de ideologias que cercam a questão. Ainda ontem, estive lendo um dos textos do site "Viomundo", do jornalista Luiz Carlos Azenha (aqui), no qual ele relata as mudanças políticas ocorridas de alguns anos para cá no contexto social. Havia no texto de Azenha a descrição de um mundo em que não havia espaço para as diferenças - tendo inclusive estas expressas no texto -, lugares em que, segundo ele, não se enxergam com simpatia a presença de "pobres, morenos e deselegantes". Em outra nota, ainda no mesmo site, havia uma notícia sobre Ali Kamel, o diretor da Central Globo de Jornalismo (CGJ), em que o repórter da Record ressalta algo ligado a perseguição política. Lembrei-me de que o nome de Kamel não era estranho a mim (a despeito de lê-lo ao fim dos telejornais globais). Depois de puxar um pouco mais pela memória, recordei-me dum famoso livro dele intitulado "Não somos racistas" - no qual argumentava estar a questão do preconceito mais ligada ao âmbito social do que ao da cor da derme populacional -. Fui ver uns vídeos no Youtube nos quais o próprio aparecia. Assisti a uma conversa dele em alguma feira literária falando sobre o assunto e defendendo seu ponto de vista. Depois, ainda dentro do tema, vi uns vídeos do comentarista Arnaldo Jabor e um relato de Chico Buarque. Chico - largamente conhecido e respeitado - ressaltou que sofria preconceito pelo seu genro Carlinhos Brown. De imediato, veio-me à cabeça o dia no qual o percussionista baiano tinha sido agredido com garrafadas no Rock in Rio de 2001. Pelo que deu para perceber, naquele momento, a agressão não foi por causa da cor do cantor, mas por ele estar cantando música brasileira num palco lotado de roqueiros ávidos por bandas como Guns N' Roses e Iron Maiden:


Acima, exemplos ilustram o que quis dizer no início deste texto. Mesmo não sendo a Regina Duarte, eu tenho medo. Simplesmente não entendo a razão de ser dessas coisas. Os manuais consagrados estão aí mostrando erros terríveis de outrora ainda louvados por muitos de nós hoje. Uma vez mais, vejo que neste mundo "novo", "livre" (e por que não "admirável"?) - que, através de névoas, alija pretos e brancos, pobres e ricos, rock e regional - segue separando claramente teoria da prática. Como é triste observar que os avanços são atrelados àqueles incapazes de desgarrar-se de um passado que mostra o preço pago por quem costuma fechar os olhos para o que vem. As drogas várias mandam num mundo separador de sorrisos (de folhetim) e queixumes (de denúncia) em polos, nos quais se mata e se morre para alcançar e abandonar. É triste que cada vez mais caminhe-se para uma individualidade suicida, um uníssono do refrão de Live and Let Die; ver pessoas não respeitarem as outras só porque estas gostam de um estilo musical pouco prestigiado, ou pelo que elas fazem sexualmente dentro do quarto, ou ainda por alguma diferença que independe do arbítrio da parte ridicularizada. A merda é que o mundo mostra-se assim e não se problematiza largamente sobre isso: quem tem a possibilidade de trazer o debate e o esclarecimento, na maioria das vezes, não faz, isto é, negligencia urgências. Vamos todos morrendo e matando num desconhecido ódio cego, assim.

Não defendo este ou aquele ponto de vista. Afinal, já existem muitos "intelectuais" e pessoas que levam as suas estupidezes idiossincrásicas adiante, borrifando-as por aí, montando e defendendo trincheiras numa guerra invisível, mas ativa. Eu, aqui no meu canto - quando posso -, tento ouvir, interpretar e me defender das ideologias-bombas lançadas diariamente. Vejo, com tristeza, o que não queria ver e me pergunto por que as pessoas não podem enxergar o outro como alguém humano que tem dúvidas e problemas comuns aos que sabem falar uma língua. Tudo parece tão normal. Ações impensadas como um comentário pejorativo ou uma gracinha desnecessária machucam sentimentos e deixam marcas. O vídeo anterior dá uma amostra da falta de noção de alguns seres ignorantes ou burros. Eu tenho medo dessa gente invasora, no entanto não queria odiá-las, eu, aliás, não queria ter de odiar ninguém. Não quero aprender o desprezo pelos diferentes de mim, pelos não intelectualmente iguais a mim, pelos possuidores das coisas que desejo e não tenho, e vice-versa.

No vento, há tantos conselhos para se respirar melhor. Por que não levá-los em consideração? Por que não notá-los e guardá-los? Ouvir é de graça:


De verdade, queria muito, ainda nos meus 24 anos, que as pessoas se enxergassem mais como humanos possuídores de juízo para analisar seus atos; fossem seres batalhadores por seus objetivos sem se negar a ver o outro, considerar ambas histórias e todo o conjunto de mundos que o acompanham. Se ouvissem mais música e dançassem menos... Eu não sei.

domingo, 8 de agosto de 2010

Precisa-se de um amplexo


"O brave new world/That has such people in't"*
The Tempest, William Shakespeare

Ah, o mundo! Meu Deus, o mundo... Quando, no mês passado, fiquei indignado por um homem ter feito piadas de cunho preconceituoso na turma da autoescola, eu não havia me dado conta de que certas coisas terríveis estão vivas; vivíssimas, aliás.

Próximo mês - está planejado, e cercado, inclusive, de todos os percalços residentes na palavra "planejamento" -, as coisas tendem a tomar um novo rumo na minha vida. Durante os últimos momentos da minha estada na universidade (...), eu fui esmorecendo, murchando como um crisântemo amarelo sem sol: estranho, a luz parecia estar distanciando-se do vaso, ou o recipiente estava sendo puxado para longe dos raios solares. Sem saber qual o real motivo, o fato era que não tinha o mesmo viço daqueles tempos importantes. Mas esta já é uma história recorrente e que não quero falar sobre. Hoje, na iminência de dar o tal novo passo, cross the Rubicon, dei-me conta do tanto a fazer.

Comecei o texto relembrando o rapaz lá da autoescola e seu comportamento de não entender as minhas considerações (acerca de piadas daquele tipo, de como me incomodavam). Ele agiu de um jeito esquisito (para mim) e, por consequência, o clima ficou péssimo. Agora, analisando mais friamente a situação, percebo que muito da tensão causada nos momentos posteriores também tiveram a minha contribuição. Não nos falamos mais depois daquele dia. Eu evitava olhá-lo nos olhos e ele também fingia que não me via. Como fomos infantis. Deus, eu fui tão imaturo! "Logo eu..." Comportei-me como quando no ensino fundamental, em que, agredido por alguém, fingia não ver a pessoa e as coisas morriam por ali. Entendo que a reação dele teve um motivo: sua ignorância. Ele simplesmente não tinha noção da história dos oprimidos que lutaram para que ele próprio estivesse ali sentado, numa turma de autoescola privada. Ele mostrou-se produto da nescidade alimentada pelo mundo em que vivemos. Foi esta estupidez que estava me roubando a força.

É incrível como eu escutei tanto, vi exemplos e, ainda assim, tentei fechar os olhos. Constatei que é duro demais fazer isso, no meu caso, impossível: uma vez avistado o Sol, tudo passa a ser diferente; veem-se as cores, mas sente-se o calor também. Tem dias nos quais a intensidade dos raios é muito forte, e incomoda. Foi justamente nos momentos de maior incômodo que quis voltar a não ver e dançar a estranha valsa dos que se vendam para viver. Mas, para mim, fechar os olhos não funcionou. Não consegui. Eu não consigo. É inútil o esforço imprimido, a minha natureza (paradoxalmente inquieta e tão mansa) fala mais alto.

Algo me puxa e por mais que tente ir contra a força, simplesmente, não dá. Sou incapaz de fazer de conta que este mundo néscio consolida-se cada vez mais "admirável" com pessoas afins, que não refletem e só pensam em se divertir, fugir; não posso desconsiderar o sem-número de lugares-comuns nos discursos daqueles que só visam o poder, a possibilidade de dominar, de estar estável e dar as costas para os que são fodidos. Por outro lado, penso nos tais "fodidos". Deveria eu ter compaixão desses idiotas que se deixam entregar, que não criticam, que vão pelo caminho mais fácil mesmo vendo a vida ser igual a merda? Volto a tentar encontrar culpados e inocentes, heróis e vilões e não acho. É o clichê do círculo vicioso num mundo altamente precisado de clichês. Por muito tempo quis estar em uma destas categorias maniqueístas (tornar-me um pateta - propriamente dito e, pior, cônscio da transformação), no entanto nem mesmo sei o que sou, pois as coisas que faço têm uma intenção que no fundo pode ser tão impudente quanto a de um político corrupto nojento: quem me assegura que eu também não queira ter poder e, em seguida, dar as costas a quem não "conseguiu"? Afinal, nasci e cresci assistindo à TV neste tal mundo "livre". Coisas que não encontro solução. Por que esta sensação de velhice aos vinte e quatro anos quando todos estão saindo à noite e bebendo para sofrer no dia seguinte? O sentimento de estar à beira do fracasso se vejo jovens ridentes nos seus carros de comercial? Mas que fracasso é este? O que seria a "vitória"? Quem disse? Já fui o bom estudante, o menino-modelo, o que quase reprovava, flertei com a vida de alternativo, quis ser moderno e vi que, no fundo, todos, mas todos mesmo não têm a segurança que aparentam tanto. Todos precisam de fugas e o mundo dá-nos a todos as dosagens desejadas. Sereias distribuem as doses de escapismo tão sensuais, tão atrativas, tão fatais. As tribos, as piadas, as injustiças envernizadas de preocupação barata não são invisíveis aos meus olhos. Os projetos sociais e as campanhas isoladas em determinados momentos e segmentos e amplamente televisionados parecem distribuir novas capas para velhos aleijões. Não é ódio ao mundo o que escrevo aqui. Não. Acontece é que voltam a mim as perguntas, a questão: Deveria tomar essas pílulas malditas sem ler-lhes as recomendações dos que vieram antes? Suspeito qual a resposta.

Seria hipocrisia minha dizer que vou me recusar a usar as doses de "vícios amáveis", pois - assim como qualquer habitante do planeta que não padeça de depressão profunda - não quero morrer. Quero muito viver, por isso tenho de aprender a louvar Darwin. O mundo não é para gente como eu, mas eu não quero nem saber disso: já estou aqui, terão de me engolir enquanto mastigo as porcarias de açúcar refinado oferecidas por ele.

Um volta está próxima. Aos poucos vou aprendendo a ser quem eu sou. A aceitar o modo ao qual estou encaixado no momento. Afinal, ter 24 não é propriamente estar velho, mas, ao mesmo tempo, não é ter 14. Estou indo atrás da minha vida, da minha história. Vou para a Estrada.

"Quem pensa por si mesmo é livre e ser livre é coisa muito séria."**- melhor que Darwin (Ôps!)...


* Oh, admirável mundo novo / Que encerra criaturas tais em si." [A Tempestade, William Shakespeare]
** L'Avventura - Renato Russo [A Tempestade, Legião Urbana]