domingo, 18 de abril de 2010

O Tempo nas minhas mãos

O tempo e muitas coisas parecem nos deixar, a cada volta de ponteiros, mais distante do que é caro a nós. Sabe, meu amigo, apesar disto, de constatar o meu tamanho diante da grandeza das horas, observo que o Tempo, magnânimo, nos concede permissão para senti-lo e também de olhá-lo, ao simples virarmo-nos para trás.

Quando penso nos tempos e, consequentemente, olho para o que passou, percebo o ontem - que quando hoje não me chamava tanto a atenção - como o transformado e tranformador; sinto o congelamento e sua final cristalização dada por meio de uma palavra dura, porém essencial e contundente: o passado. É estranho ver os anos erguendo construções, levantando e derrubando deuses e, simultaneamente, perceber ações - outrora atuais e possíveis de se realizar no intervalo de uma semana - voltando à sua cabeça como imagens, situações não mais táteis, mas tão dicotomicamente devastadoras e delicadas qual o peso de uma mão, da carne e do osso.

Aí vêm as recordações. De você, meu bom amigo, eu guardo só suavidades. E através destas mãos de carne mais osso urge dizer-lhe do quanto conhecer-te foi, é e será importante a mim e ao meu Caminho. Como uma canção, nossa amizade está guardada aqui dentro e, mesmo que não saiba a letra completa de cor ou troque algumas de suas palavras, minhas mãos estão reanimando as horas com todo o seu peso, com toda a carga, com todo sangue e osso. Tão vulneráveis e tão fortes como só sabe ser quem se reconhece humano. Estas mãos estão ora sendo regidas pelos ouvidos, guiados pela música, desnecessária de letra, cuja lembrança é absolutamente impossível de ser olvidada. Diante das horas, filhas adolescentes do Tempo agente, eternizo nas palavras este sentimento superior, bem como as sensações registradas do que nasceu e vive. É a força da mão que também faz.

Sua passagem plantou em mim a felicidade da poesia e arrumou todo o canteiro com música. Fosse Coldplay, fossem os Beatles, tudo vinha embalado num sonho nosso e numa Epiphania sua tornada pública, sucesso de público, aliás. Amigo, você sempre foi sucesso de audiência. Dei-me conta de ser mais um dos seus grandes fãs - emocionado pelos seus avanços, por ser parte da sua existência tão Yellow -, atualmente o que deixa testemunhos verídicos ao ver quanto "os astros conseguem fazer por aqueles que vivem no escuro"; sou aquele antigo ouvinte constante de Trouble, esperançoso e grato pela existência de Parachutes. Nossa amizade foi sim um para-quedas dado a mim no momento mais oportuno, mas que, como em todo salto, uma hora tinha de ser cedido para o próximo. Eu agi, não quis sequestrar o seu brilho.

Ainda estou aqui mostrando-lhe a importância de mais um ano seu no Planeta em que habito e das coisas boas cultivadas durante todas as espécies de tempo (perto e longe das nossas casas; cronológico ou psicológico daquelas nossas vetustas aulas de literatura; os das risadas, dos atrasos, das "viagens" de ônibus, dos papos sérios e também dos surreais) nas quais a sua generosidade nunca me deu tempo de cerrar em minutos: se é papel do Tempo fazer isso, eu tenho as minhas mãos.

Feliz aniversário, meu GRANDE Saulo. Seja sempre o meu AMIGO, que sei nunca vou achar igual.

Este texto é só saudade.


"We live in a Beautiful World"

domingo, 11 de abril de 2010

Resposta a uma colibri

Há exatamente treze dias, uma pessoa me mandou um texto intitulado "ao meu poeta serigynho". Eu o li. Hoje, quando estava para responder-lhe a mensagem - via e-mail -, resolvi fazer diferente e oferecer a ela uma postagem exclusivamente dedicada aqui (espaço mais importante para exposição das minhas ideias). Tive uma tremenda surpresa quando vi no seu blog um texto (disponível aqui) e uma foto nossa. A emoção tomou-me por completo...

Eu sempre fiz questão de não me curvar diante de ninguém. Muita gente me viu e me vê como alguém que não expressa o que sente, um ser de aspecto sisudo e fechado. Tornar-me assim foi à custa de muito esforço. Na verdade, diante dos seres que conheci, ficou fácil assumir essa postura, alimentar essa criatura guardiã dos portões de um espaço desconhecido por mim.

Numa espécie de castelo, vivia imerso em sombras, não entendia coisa alguma, posto que não via nada. Eu temia apenas. Tinha pavor quando passos se aproximavam, quando vozes chamavam. Com medo, eu me escondia cada vez mais.

Certo dia, sem querer, algo aconteceu. Na vida se pode evitar muita coisa; podem-se prever desastres, mas não se consegue, jamais, deter a Natureza. Assim, da boca d'Ela, veio voando o Vento. Ele trouxe consigo a Flor, que caiu dentro do meu Castelo. Não a vi; eu a senti, e seu perfume agreste mudou o clima do local. Decidi levantar, andar e abir as cortinas. Eu, quando levantado, ainda (e só) vi os portões e, pior, a criatura medonha que os guardava. A Flor era perfumada, no entanto frágil; aflito com a sua segurança, voltei-me para as sombras, porém antes a pus no vaso mais lindo que ali havia. E, assustado, com a minha flor, voltei para adentro do recinto e a cada novo temer daqueles passos e vozes a cheirava bem forte. Permaneci assim, pensando que o mundo éramos só eu e aquela rara flor.

O tempo foi passando. Ainda estávamos a Flor e eu. Mais uma vez senti algo diferente. Sim, era uma espécie de vento, mas não era o Vento. Algo trazia uma brisa que delicadamente fazia as cortinas se resvalarem. Ao ver a intermitência dos raios solares dentro do meu recinto sombrio, senti-me intrigado e levantei-me. Era um pássaro, uma beija-flor que viera atraída pelo que havia de bom comigo. Percebi, desconfiado, seu esforço em penetrar naquele canto escuro. Eu, já descontente com aquele lusco-fusco, olhei-a - com algum esforço - nos pequeninos olhos, resolvi confiar e abrir-lhe as cortinas. O Sol voltou a entrar. A sensação foi indescritível, única: era a vinda da Felicidade. Da janela, vi que a criatura dos portões não era tão grande quanto o Sol, nem tão intensa como a Flor, tampouco tinha a força que aquela beija-flor me trouxera através da sua doce insistência.

Munido da minha Flor, confiante com o Sol e tendo ao meu lado o Vento impulsor, fui, abençoado pela Felicidade, enfrentar a criatura que me impedia de abrir os portões. A Beija-flor então precipitou-se à minha frente e no seus saltos e firulas aéreas me indicou um novo caminho. Confiei novamente nela e segui a direção: era um espaço completamente original, preenchido, perpassado e circundado por flores diferentes, lindas e vivas, onde o Sol brilhava mais forte e o Vento dançava com as borboletas cheirosas a jasmim. Dei-me conta de que estava num jardim e, logo, de que o lugar escuro e frio - minha morada por tanto tempo - era um dos espaços do Castelo. E eu só reconheci aquele novo lado graças à Flor e, mormente, à nobre teimosia da minha Beija-flor.

Passei a amar aquele ser de luz por sua maneira sutil de ter-me aberto o Horizonte. Ela não foi como os outros, não veio me invadindo com o peso de passos, tampouco me assustou vociferando por atitudes; sua presença veio qual um balé, numa música que me embalou a ver o lado inédito e de mais salutar em mim.

Agora entendo o acontecido. Sei que a minha Beija-Flor veio mostrar-me a Primavera.

Obrigado, Elynne, por fazer dos nossos encontros lugares de Primavera. Obrigado por vir fazer-me ver o jardim que existe em mim. Obrigado, por me fazer chorar ao ver a surpresa de uma foto nossa no seu blog. Obrigado por me fazer sentir as lágrimas boas - que eu ainda as tenho! -, por me fazer um ser melhor com o seu jeito incrível de me amar. Por favor, entenda quando algumas vezes eu me sentir acossado pela criatura dos portões, mas não deixe, em hipótese alguma, de me trazer o Sol. Por favor, não se esqueça de me trazer Luz. Obrigado, Elynne, por ser simples e completamente a minha Beija-Flor.

Obrigado por, neste mundo de aparências, gostar de mim de graça e por despertar aqui dentro algo tão bonito que me faz chorar neste instante, ao finalizar este texto.



Obrigado, minha Beija-Flor.

domingo, 4 de abril de 2010

Nada sei

Dia desses estive conversando com um amigo meu. Falamos de algumas coisas relativas aos nossos medos, expectativas e esperanças. Ele estava com um quê pessimista nas palavras e eu, como gosto muito dele, não fiquei satisfeito com o que lia. Minha primeira ação foi a de tentar mostrar-lhe que a vida não se resumia ao que escutamos por aí, como aquela velha história de que professor é desvalorizado - praticamente estabelecida no inconsciente coletivo -. Eu sei que, em boa parte das vezes, a questão é fato, mas, sei lá, não acho sadio isso de pichar as coisas, generalizá-las. Enfim, tentei mostrar a ele alternativas, não só voltadas à nossa profissão, mas à vida. E, neste sentido, caí num dilema: será que sou o mais indicado para dar saídas e exemplos de vida? Sou um menino que escreve coisas bonitas, que luta para preservar a beleza da alma nesse mundo louco, mas que, no fundo, é tão inexperiente como um potro dependente da mãe. Talvez por eu ter essa natureza, costume andar sem muita atenção, querer correr e não prestar atenção nas pedras e espinhos do Caminho.

(Voltando ao papo) Foquei bastante na questão da liberdade de viver, de eleger. Isto aconteceu porque, neste momento, sinto uma sensação afim à de não ficar apenas nas palavras, mas sim partir às ações. Acontece que sou muito imaturo em diversos sentidos e através de algumas experiências pude constatar o tamanho desse meu lado verde. Ainda luto com o fato de as coisas não funcionarem como nos filmes e livros de que gosto, contudo tenho em mente que o narrado neles não foi tirado do nada. Muitas experiências acontecem e é nelas o meu interesse quase obsessivo: me questiono demais por que não poderia viver algumas delas. É como se quisesse crescer, sair de uma vida e ter outra, algo que me amedronta muito e que, ao mesmo tempo, me faz querer seguir.

O medo sempre me impossibilitou de tomar algumas atitudes, no entanto houve ocasiões em que respirei fundo e resolvi arriscar: não foi fácil, foi forte e ainda hoje colho coisas que, literalmente, estão marcadas em mim. Não entendo bem (talvez sim), algo adentro me impulsiona a não parar, a correr e seguir no que acredito, saber o que, de fato, acredito. Estou tentando ouvir os sinais que existem e dos quais falo tanto, assim como o protagonista dum filme que me marcou profundamente, o "Into the Wild" (foto). O protagonista, na história, não estando satisfeito, decidiu viver seguindo exatamente o que cria. Seu destino se mostrou surpreendente, mas penso comigo que "era para ser" e, por isso, temo o que "está para ser". Não sei bem o que "será", mas simplesmente sei que será. Não há como fugir. Acredito, sobretudo, naquele lance de Destino e que também cada ser tem uma contribuição na sua Jornada.

I Don't Want to Wait...


Tenho de confiar em Deus, o meu eterno e indivisível Conselheiro...

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Logo eu...

Ontem, primeiro dia do quarto mês do ano, só pensava em março, só pensava no tempo: e, de repente, já é abril...


Abril
Adriana Calcanhotto

Sinto o abraço do tempo apertar
E redesenhar minhas escolhas
Logo eu que queria mudar tudo
Me vejo cumprindo ciclos
Gostar mais de hoje e gostar disso

Me vejo com seus olhos, tempo
Espero pelas novas folhas
E imagino jeitos novos
Para as mesmas coisas
Logo eu que queria ficar
Pra ver encorparem os caules

Lá vou eu
Eu queria ficar
Pra me ver mais tarde
Sabendo o que sabem os velhos
Pra ver o tempo e seu lento ácido
Dissolver o que é concreto

E vejo o tempo
Em seu claro-escuro
Vejo o tempo em seu movimento
Me marcar a pele fundo
Me impelindo, me fazendo
Logo eu
Que fazia girar o mundo
Logo eu
Quem diria, esperar pelos frutos

Conheço o tempo
Em seus disfarces
Em seus círculos de horas
Se arrastando feito meses
Se o meu amor demora

E vejo bem
Tudo recomeçar
Todas as vezes
E vejo o tempo
Apodrecer e brotar
E seguir sendo sempre ele

Me vejo o tempo todo
Começar de novo
E ser e ter tudo pela frente
Me vejo o tempo todo
Começar de novo
E ser e ter tudo pela frente...