segunda-feira, 30 de março de 2009

30/03: Meus novos 3 anos

30 de março. Mais um dia em que eu marco um encontro só comigo. Na verdade, nesses dias especiais fico pensando em mim, na minha vida, em que estou crescendo, em que estou estagnado. Por isso sumo. Há um ano estava mais poético, escrevi um texto bonito, interessante, no entanto hoje a poesia não tem sido minha companheira. Eu, que vinha sempre pregando uma espécie de diferenciação, me vejo novamente no coletivo que é o medo. Dessa vez o sentimento vem de maneira mais perversa, subliminar. Este novo ano de 2009 será decisivo na minha vida - infelizmente, não é desejo -, ou seja, não será como os outros em que a situação se desenhava quase previsível (em que eu ia com um pincel e brincava de desarrumar para uma deliciosa adaptação). É qual voltar a minha lembrança um trato consentido, em que a mim houvesse sido dada uma sentença: durante cinco anos, eu entraria num mundo novo e instigante, no qual iria me deparar com muitas trilhas, mas seguir por apenas um caminho, "o caminho". O prazo seria de cinco anos. Pois bem, quatro vêm passando e sinto como se esse novo lugar estivesse em tempo regressivo para desabar e eu ainda sem achar "o caminho". Este é o sentimento que povoa meu peito neste trinta de março, no terceiro ano que venho convivendo com meus vinte, que venho sendo alguém. Durante a procura pelas trilhas, para me nortear, criei um relato das andanças, pois preciso dialogar nesse novo mundo. É como numa espécie de jogo de video game: a fase está sendo superada, a cada queda em abismos, a cada esquecimento de salvar as partidas na memória, a cada impossibilidade gerada pelos meus superiores, ela já está chegando ao fim, é um fato. Um novo cenário como novos desafios está se configurando para mim. Eu sei, e isso tem me matado. Não posso deixar de colocar que nesse mundo vi coisas tristes, pessoas me deixaram triste, eu tenho ficado assim. Às vezes, sinto que não vou aguentar, que vou fenecer, mas eu durmo e logo estou como um celular depois de recarregado: pronto para me desgastar uma vez mais. Mas até quando isso? Realmente não estou querendo ficar para saber. Não gosto de me ver "funcional", substituível. É uma batalha diária, constante, para não me tornar mais um aparelho nesse mundo de bens-de-consumo. O medo durante esse meu caminhar é companheiro, pelo visto, nunca vou me livrar dele. Ainda não atingi esse elevar. Contudo hei de lutar arduamente pela minha vida em detrimento do meu medo. É o que uma amiga que fiz durante as andanças, a Consciência, me mostra sempre: "enquanto eu puder com ela contar, será mais fácil andar"... É assim, em vinte anos, muitas coisas me convenceram do quanto ainda há por aí. Não quero ficar aqui. É escuro. Existe uma luz que pulsa pelas frestas da porta e que, de passo em passo, me encaminho em sua direção. A cada observar, me aproximo e o farei até o momento de tocar sua maçaneta, embrulhá-la com minhas mãos, até o instante de virá-la... Neste intervalo não-cronológico, já não poderei mais regressar, e o que terei será apenas uma mochila cheia de todos os itens que coletei durante o percurso das minifases. Chegará, assim, o momento dele deixar de ser percurso para se tornar "o caminho"; será neste tempo que colecionarei os itens, e eles não serão mais itens, mas pedaços de mim. Há três anos convivo com meus vinte e em vinte e dois anos nunca aprendi tanto quanto nos cinco que me foram dados. Sou um bebê pasmado diante do que não sei.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Os novos e os velhos "Podres Poderes"

Hoje foi um dia muito importante e complicado para mim. Nada comum. Na aula de Estágio Supervisionado houve uma polêmica, e fui ingrediente dela, um bem apimentado - por sinal! -. A questão foi que a aula estava morta, o professor falando aquelas coisas mais-do-mesmo que a gente cansa de ouvir desde o início do período: "O aluno precisa ler" e "Vocês, que serão professores, tem de despertar o desejo neles"; contudo o que me incomodou bastante foi o discurso de "A leitura pode mudar o mundo, pois ela é capaz de tornar o aluno cidadão consciente, reflexivo". Realmente não suportei aquele lero-lero do professor e comecei a questioná-lo sobre aquela ruma de coisas tão lugar-comum ditas por ele; disse-lhe que precisávamos partir para a algo mais praxis, pois havia um zilhão de estudos com tanta, mas tanta teoria e, no entanto permanecíamos sentados, literalmente. Um colega meu se pronunciou e começou a argumentar, mais ou menos, que era complicado colocar aquelas coisas em prática, pois era difícil trabalhar num "sistema" igual ao nosso e "inovar". Pronto. foi o que faltava. Comecei a dizer, um pouco exaltado, que aquele espaço, no caso a universidade, era o local para pensarmos aquelas e outras mais problemáticas, que era um espaço privilegiado, uma vez de não existem muitos como ele. Comecei a tentar colocar as coisas de modo a fazê-lo entender que nós, futuros professores, não deveríamos nos submeter ao que o famoso Sistema (vou grafá-lo desta forma, pois já se antropomorfizou) nos impunha. Ele alegou que tudo era muito bonito de se dizer, mas que precisávamos de coisas concretas como o dinheiro para viver e tudo mais; citou, inclusive, que um Agente de Polícia ganhava muito mais em pouco tempo de vida e de trabalho. E assim a discussão foi, minhas respostas sempre eram no sentido de mostrar que, antes de exigirmos ou desejarmos algo dos nossos alunos, precisávamos nos questionar se estamos de fato cientes do papel que exercemos na universidade.
Disse algo que acredito mesmo: algumas pessoas que estão na universidade e só esperam dela um diploma no final do curso são, sem sombra de dúvidas, no meu conceito, cabeças de ostra, ou seja, coisas levadas pela Maré, que se movimentam ao sabor do Vento. Eu hoje detectei que alguns são meio ostras mesmo. Um menina me interpelou, me dizendo que tinha sido muito desrespeitoso com os meus colegas. Eu respondi que não tinha me dirigido a ninguém, que ali era também um espaço para o debate e que se ela estava incomodada é que vestira a carapuça. Ela, colérica, afirmou que eu me sentia superior aos meus colegas, que tinha sido arrogante, enfim, que não deveria estar num espaço povoado pelas ostras. Foi uma discussão meio séria, pois a garota, possivelmente identificada com as minhas palavras, tomou como uma ofensa, mas era o que tinha a dizer, é a minha opinião. Fiquei mal por dois motivos, primeiro porque não gosto de me colocar ou comportar de maneira desdenhosa diante das pessoas, e depois também por sentir a tristeza que é notar pessoas, quase concluindo seus cursos, com a mentalidade submissa ao que está aí, recebendo informação sem questionar, sem trazer para as suas realidades docentes. Que engodo é a nossa educação (dita) superior.
São esses os velhos "Podres Poderes". É justamente isso que querem os "poderosos": uma população de universitários e profissionais novos comportando-se de maneira medíocre e estúpida, que se contentem com o preço vil de quantias individualizadoras em vez de formar pessoas e de exercer de maneira consciente ações éticas e efetivas numa etapa importante da existência delas. Se continuar desse jeito, o Brasil sempre será o país dos bobos governado por tolos. Afundamos todos assim na lama opaca e massenta que é a ignorância. Aliás, são esses tolos hipócritas que, envenenados, sabem manipular e articular os bobos que os defendem, qual parvos, sem saber que o estão fazendo. É engraçado, as pessoas não pensam no que estão lendo ou vendo... Não aguento. Hoje vi que eu não.
Por ter me colocado, passei a ser olhado meio de esguelha por alguns. É chato quando você, em algum momento, nota que não é unânimidade, mas é importante saber que você pensa, que raciocina e que tem coragem de colocar o que acredita. Fiquei trista, mas ao mesmo tempo orgulhoso por ter sustentado de maneira íntegra, talvez exaltada, o que vejo e não concordo, afinal é o destino do nosso país. Não quero uma superdosagem de conhecimento, quero tê-lo de maneira que ele possa curar problemas de visão, de respiração e de caminhar. Eu sou a Pólis!