quarta-feira, 25 de março de 2009

Os novos e os velhos "Podres Poderes"

Hoje foi um dia muito importante e complicado para mim. Nada comum. Na aula de Estágio Supervisionado houve uma polêmica, e fui ingrediente dela, um bem apimentado - por sinal! -. A questão foi que a aula estava morta, o professor falando aquelas coisas mais-do-mesmo que a gente cansa de ouvir desde o início do período: "O aluno precisa ler" e "Vocês, que serão professores, tem de despertar o desejo neles"; contudo o que me incomodou bastante foi o discurso de "A leitura pode mudar o mundo, pois ela é capaz de tornar o aluno cidadão consciente, reflexivo". Realmente não suportei aquele lero-lero do professor e comecei a questioná-lo sobre aquela ruma de coisas tão lugar-comum ditas por ele; disse-lhe que precisávamos partir para a algo mais praxis, pois havia um zilhão de estudos com tanta, mas tanta teoria e, no entanto permanecíamos sentados, literalmente. Um colega meu se pronunciou e começou a argumentar, mais ou menos, que era complicado colocar aquelas coisas em prática, pois era difícil trabalhar num "sistema" igual ao nosso e "inovar". Pronto. foi o que faltava. Comecei a dizer, um pouco exaltado, que aquele espaço, no caso a universidade, era o local para pensarmos aquelas e outras mais problemáticas, que era um espaço privilegiado, uma vez de não existem muitos como ele. Comecei a tentar colocar as coisas de modo a fazê-lo entender que nós, futuros professores, não deveríamos nos submeter ao que o famoso Sistema (vou grafá-lo desta forma, pois já se antropomorfizou) nos impunha. Ele alegou que tudo era muito bonito de se dizer, mas que precisávamos de coisas concretas como o dinheiro para viver e tudo mais; citou, inclusive, que um Agente de Polícia ganhava muito mais em pouco tempo de vida e de trabalho. E assim a discussão foi, minhas respostas sempre eram no sentido de mostrar que, antes de exigirmos ou desejarmos algo dos nossos alunos, precisávamos nos questionar se estamos de fato cientes do papel que exercemos na universidade.
Disse algo que acredito mesmo: algumas pessoas que estão na universidade e só esperam dela um diploma no final do curso são, sem sombra de dúvidas, no meu conceito, cabeças de ostra, ou seja, coisas levadas pela Maré, que se movimentam ao sabor do Vento. Eu hoje detectei que alguns são meio ostras mesmo. Um menina me interpelou, me dizendo que tinha sido muito desrespeitoso com os meus colegas. Eu respondi que não tinha me dirigido a ninguém, que ali era também um espaço para o debate e que se ela estava incomodada é que vestira a carapuça. Ela, colérica, afirmou que eu me sentia superior aos meus colegas, que tinha sido arrogante, enfim, que não deveria estar num espaço povoado pelas ostras. Foi uma discussão meio séria, pois a garota, possivelmente identificada com as minhas palavras, tomou como uma ofensa, mas era o que tinha a dizer, é a minha opinião. Fiquei mal por dois motivos, primeiro porque não gosto de me colocar ou comportar de maneira desdenhosa diante das pessoas, e depois também por sentir a tristeza que é notar pessoas, quase concluindo seus cursos, com a mentalidade submissa ao que está aí, recebendo informação sem questionar, sem trazer para as suas realidades docentes. Que engodo é a nossa educação (dita) superior.
São esses os velhos "Podres Poderes". É justamente isso que querem os "poderosos": uma população de universitários e profissionais novos comportando-se de maneira medíocre e estúpida, que se contentem com o preço vil de quantias individualizadoras em vez de formar pessoas e de exercer de maneira consciente ações éticas e efetivas numa etapa importante da existência delas. Se continuar desse jeito, o Brasil sempre será o país dos bobos governado por tolos. Afundamos todos assim na lama opaca e massenta que é a ignorância. Aliás, são esses tolos hipócritas que, envenenados, sabem manipular e articular os bobos que os defendem, qual parvos, sem saber que o estão fazendo. É engraçado, as pessoas não pensam no que estão lendo ou vendo... Não aguento. Hoje vi que eu não.
Por ter me colocado, passei a ser olhado meio de esguelha por alguns. É chato quando você, em algum momento, nota que não é unânimidade, mas é importante saber que você pensa, que raciocina e que tem coragem de colocar o que acredita. Fiquei trista, mas ao mesmo tempo orgulhoso por ter sustentado de maneira íntegra, talvez exaltada, o que vejo e não concordo, afinal é o destino do nosso país. Não quero uma superdosagem de conhecimento, quero tê-lo de maneira que ele possa curar problemas de visão, de respiração e de caminhar. Eu sou a Pólis!

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