segunda-feira, 2 de novembro de 2009

E hoje: Aula de Calamidades!


Enquanto estava lendo 99 calamidades em sala de aula... e como evitá-las (2008, Special Book Service Livraria) não consegui evitar que voltasse a minha mente uma inquietação que me acompanhou por um bom número de páginas: o que é ser um (bom) professor? Durante esses últimos meses ando bastante envolvido com questões que me conectam diretamente à sala de aula. O período de estágios supervisionados tem sido um aprendizado tremendo, uma nova interpretação e – assim como todo modo de ver qualquer situação de maneira inédita desorganiza coisas assentadas – isso tem sido complicado para mim.

O livro de Tabatha Rayment me fez sentir, de certa forma, angustiado como Rufus Wainwright – em Imaginary Love – quando diz: Schubert bust my brain to start with; só que, em vez do compositor austríaco, o livro foi que me forçou a dar início a atitudes. No desvendar das 99 (e mais algumas outras da parte 13) situações expostas, houve momentos em que concordei, outros em que não, contudo na maior parte deles fiquei indeciso. Antes de mais nada, é difícil deixar de notar a diferença cultural denotada no livro. Nota-se que os professores, seres humanos (como a autora sempre faz questão de ressaltar), são influenciados pela cultura de seu país, ou seja, diferem de lugar para lugar. Dirigido originalmente aos profissionais ingleses, a conduta colocada pelo livro chama a atenção para a “demarcação de território”, na qual professores são professores e alunos são alunos. Daí dizer que me senti como na música de Wainwright, uma vez que aqui no Brasil algumas atitudes destoam do que é proposto na obra, pelo menos com a maioria dos profissionais (incluindo aqueles dos quais recebi aulas ou que, posteriormente, observei dando lições), que se confundem entre papéis muitas vezes conflitantes.

Os professores que passaram por minha vida foram uma mistura do perfil trazido pelo livro e o visto na prática. Hoje, observo haver, à parte os empecilhos da profissão, alguma confusão em delimitar pontos. Alguns professores cambaleiam entre ser amigo, algoz ou o que está ali exclusivamente para “trabalhar”. Durante as minhas visitas de Estágio confirmei a problemática. Quando o professor quer ter um bom relacionamento com a turma fica balançado como deve proceder. O livro deixa claro que o professor jamais deve se desviar do foco, que precisa deixar clara a divisão entre quem ensina e quem aprende, sem usar de prepotência e arrogância. É como utilizar-se de uma personagem para assumir responsabilidades graves. Na realidade – e muitos têm noção disso –, as coisas não são simples, pois boa parte dos educadores assume a profissão como uma simples fonte de renda e, por isso, querem estressar-se o menos possível, assim, deixam que a sala passe a ser uma extensão do seu círculo de amizades. Permitem brincadeirinhas rotineiramente, as conversas paralelas são encaradas como naturais dentro da aula, gritos são uma constante etc. Quando se dão conta de que as coisas saíram do controle já é bem tarde. As turmas são geralmente cheias (30 a 40 alunos) e se é complicado garantir a aprendizagem com a turma participando, fica mais difícil ainda numa classe grande e dispersa. O livro tenta mostrar que um comportamento permissivo tem grande tendência a transformar um dia de aula no maior dos pesadelos. Ainda há aqueles professores interessados nos rendimentos apenas e que controlam a turma “da maneira que dá”, por isso, todas as salas serão sempre “mais uma sala”. É o típico comportamento-redemoinho. Claro, também existem os algozes, que enxergam na docência uma oportunidade de se vingar do mundo. Como esses o livro prega que se deve ter cautela e aprender com seus erros sempre que possível.

Como num manual de instruções, há um número grande de acontecimentos, sugestões e depoimentos, que ilustram as tais calamidades. A autora traça perfis que passam pelo professor, pelo aluno, pela escola e pelos demais profissionais que fazem parte do lugar. O aluno do 99 calamidades... é descrito como aquele ser em constante processo de poda. As situações trazem o desenho do que possa ser mais realista acerca dos seres em formação, dando a impressão da sala como um universo de possibilidades regulado pelas mãos dos estudantes e amortecido pelo professor. Cabe ao mestre escolher as melhores formas para se proteger (contra-atacar?) de maneira sensata e fria. Quando o assunto se volta ao ambiente de trabalho, o livro incentiva os professores a ser, além de solícitos, organizados, salientando os grandes benefícios que o controle de ações traz. É interessante como a autora reforça o quanto o profissional da educação precisa ter cuidado consigo mesmo (ponto importantíssimo para uma qualidade de vida satisfatória); são trazidos conselhos vários sobre prioridades, engajamento (na medida), bem como tópicos essenciais sobre saúde (como a abordagem sobre depressão) e relacionamento na escola. Ao tratar do professor, ela faz questão de clamar, de maneira persuasiva, pelo lado ético da profissão: a função do professor é aquela aprendida ao longo de sua formação e deve ser respeitada e perpetuamente lembrada: a de ensinar. Este verbo de ação ganha, em alguns momentos do texto, contornos de extremo controle e não raro remonta ao conceito batido de “sacerdócio”. Fica pouco claro, apesar de citado, se é fato o que ela professa, principalmente em contextos como o brasileiro, no qual um professor é, de forma recorrente visto trabalhando em diversos empregos ao mesmo tempo.

Em 99 calamidades... a autora auxilia o professor que está em sala de aula (novo ou experiente na profissão) no melhor gerenciamento das coisas que podem (sempre ou porventura) acontecer. Na maioria das passagens, percebi certa repetição, mas nada que atrapalhasse as histórias, visto que o livro é uma espécie de “terço de mais de cem contas” e se desenvolve a partir de um tema central. A leitura é tranquila e num instante se chega ao fim da obra. Do meu ponto de vista, há um bom diálogo com as questões que afligem o professores, ainda que estejam baseadas na generalização. Como todo generalizar é perigoso, o livro deixa passar coisas que se chocam com a diferença na realidade (apesar de não perdê-la de vista). Concordo com boa parte do que a obra apregoa: a pessoa pretendente ao cargo da docência deve ter em mente a aprendizagem enquanto ponto principal e fundamental. Fica claro que, se ela pensar assim, fará, na maior parte das vezes, ações que seguirão no sentido do crescimento do aprendiz. No entanto, é forçoso relembrar que todo processo implica perda e implica ganho e que na profissão de educador as coisas parecem ser potencializadas de algum modo. O cansaço dos profissionais de educação ultrapassa definições para quem o vive. A consciência e o compromisso no exercer da vida docente é no que posso concordar, pois, a despeito das notas da adaptadora, o livro apresenta circunstâncias diversas, exemplos que beiram a comicidade (o que atribui ao livro leveza) e em várias passagens tenta conciliar comportamentos contidos, frios e calculistas aos humanistas, os quais precisam ter base e especialização nas formações acadêmica e continuada, conhecidas aqui no Brasil como vulnerabilidades do sistema de ensino.

Enfim, não tenho certeza sobre o meu futuro na carreira, afinal – apesar de caduca para a autora – muitas vezes ser professor no Brasil parece ter, ainda, sabor de vinagre, com cruzes que, para quem acredita, são pesadas demais. Os Estágios (de Português e Inglês) têm me mostrado isso: muitas vezes você cansa, mas você não pode cansar. Não pode. Tem sido um excelente momento estar na sala de aula e ter tido contato com o livro de Tabatha Rayment, pois é mais um apoio a quem está necessitando e, de alguma forma, ainda acredita naquela necessária e velha história de “Futuro”.

domingo, 4 de outubro de 2009

A Voz

Hoje é um dia triste. Após a primeira vez que a ouvi não me senti igual. Na verdade, ela chegou a mim através de uma pessoa que, quando eu tinha mais ou menos dezessete anos, me mostrou a letra de "Volver a los diecisiete": foi, posteriormente, como realmente decifrar signos, foi como rever as coisas, o começo de uma dolorosa, mas necessária caminhada rumo ao centro de mim mesmo. Sim, devo muito a Mercedes Sosa, mesmo sem ser um dos seus fãs mais ardorosos, daqueles que sabem todas as músicas. Algum tempo depois, ouvi - e não dei tanto ouvido - a sua "Gracias a la vida", e, de ontem para hoje, percebi como é lindo reconhecer presentes. Há certo tempo, foi em uma de suas músicas que me deu força para lutar, para não me acomodar, de fazer parte de um grupo de resistência: "Solo le pido a Dios": não deu para resistir à força da canção. Eu já não podia ser mais indiferente, deixar de enxergar outros lados. Foi Mercedes uma espécie de voz que se ouve ao longe, mas que se quer seguir porque se confia nela. E eu tentei segui-la. Assim também, fiquei triste quando me fez relembrar doloridamente das serpentes em minha vida - que eu ainda as tenho, e como as tenho! -, no entanto me ofereceu a esperança numa paloma para conseguir ser mais forte que elas, ainda que que as matasse e aparecessem outras maiores. Meu Deus, quantas! Falo de "Sueño con Serpientes", em que a ouvi lembrar Bertolt Brecht dizendo que há homens que imprescindíveis vivem, mas que lutam. Queria lutar também. Senti-me forte para isso. Ela foi uma lutadora, pelo que li recentemente, sofreu com a ditadura, ação esta que devastou tantas vidas, tantas almas e sonhos. Ouvindo sua música, sua voz de rio sul-americano - cuja força consegue saciar a sede dos que precisam de esperança para prosseguir na caminhada - ainda conseguia sonhar - e como eu preciso ainda sonhar! - e viver. Sempre precisarei de pessoas como La Negra. Hoje estou triste. Sei que a existência só se confirma através da morte, mas sei lá, ela não está mais aqui. Eu estou chorando porque tenho uma vida que temo se afastar mais do que recebi das suas músicas. Tenho na cabeça a cena de "Unicornio Azul": ele também está indo, às vezes o acho, em outras não encontro onde está. Dói tanto. Sei que as pessoas morrem, contudo não posso deixar de dar as minhas lágrimas como demonstração de que Aydée Mercedes Sosa não veio ao mundo para a indiferença, e não esteve só e jamais vazia e que está e será eterna por meio das músicas que confortam os corações necessitados. Por favor, Mercedes, vista sua manta, suba naquele unicórnio azul e guie-o pelas rotas da esperança e da paz. Toda a vez que sentir escapar a força das minhas mãos buscarei a luz na força vinda de você. Olhe por mim, fale para mim, cuide de todos os que acreditam. Boa viagem, La Negra! Parabéns pelo que fez para a Terra. Meu amor vai com você...

(1935 - 2009)

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Alguma coisa... fora da Ordem

Encarando o canal como uma vitrine da cabeça de parte do público para que trabalho, venho assistindo à MTV com certa constância. Hoje estava deitado e um de seus programas, o "MTV na rua", abordou um tema que é recorrente no meio educacional: o bullying. Penélope, a apresentadora, conduziu a atração focando o tema e entrevistando pessoas, questionando suas impressões. O jeito dela apresentar me incomodou bastante, pois a todo momento ligava o ato (condenável por estudiosos) a uma atitude jocosa. Fiquei pensando "Porra, se o assunto é sério por quê ela está 'tirando onda'?". Logo lembrei que esse comportamento é recorrente nas atitudes de certos apresentadores da rede musical. Para eles é normal. Outro dia, na mesma emissora, estava assistindo a um programa de debates que falava sobre o chamado "politicamente correto" e sua relação conflituosa com o humor atual. No decorrer da exibição, um dos integrantes do humorístico CQC, Danilo Gentili, apareceu e afirmou que "o humor é cruel" - sua participação estava justificada por uma piada lançada no Twitter que soou racista (leia a notícia aqui)-, corroborando com a parte dos debatedores que não via problemas em fazer piadas com negros, mulheres, homossexuais, obesos, nordestinos ou qualquer outro tipo de minoria. Com base nesses fatos, fiquei pensando muito acerca do que é "respeitoso" e do que é "chato". Realmente existe uma linha finíssima entre a consideração às diferenças e o "patrulhamento ideológico", termo-tabu dado nosso país ter história tão recente no que diz respeito a censura e a contestação. Sem dúvida alguma, é complicada a análise, pois não seria um desrespeito, por exemplo, interferir na rotina de pessoas fumantes, que pagam impostos como todos? Ou, pelo contrário, seria uma consideração aos não-fumantes, que não têm de aspirar nicotina e prejudicar sua saúde? Quanto às piadas, todos nós temos um lado perverso, preconceituoso, defeituoso, enfim, essas coisas também caem na chamada liberdade de expressão: falar o que achar necessário, proibir, então, não seria ditadura? Para alguns sim, para outros não. O mundo é assaz contraditório. São coisas que não entendo. Creio que as coisas estão bem deslocadas: queríamos a liberdade, já a temos. E agora? Assistimos, lemos e ouvimos pessoas naturalizando problemas, reforçando estereótipos, construindo pensamentos, e tudo isso sendo transmitido pelos meios de informação, bombardeando que devemos ajudar, contribuir, doar e, no entanto, na semana seguinte exibir folhetins nos quais pessoas não podem viver sem que a cor de suas peles ou sua condição social ou sexual sejam um obstáculo discutido de forma patética e eufemizada (para não dizer ridicularizada). Realmente, assistir à televisão nacional me deixa com um pensamento constante que, como uma esfera de pêndulo, oscila entre a descrença (achando que não é possível que seja descaso, talvez essa seja uma forma diferente de chamar a atenção para o problema) e a indignação (depois de tantos anos, com todo a inteligência e poder desses meios e dessas pessoas, é um tapa na cara do Brasil esse tipo de desrespeito ao próximo). Mas é apanhando que se cresce, vejo que o respeito pode valer muito, e espero que um dia, talvez, ter um sonho signifique, de fato, algo.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

EX(pectations)

Parece brincadeira. Próxima segunda será o início de um fim: meu último período na universidade. Ainda tenho alguns registros de quando entrei lá, cheio de expectativas e esperanças. Muito massa! Vim de lá hoje. Foi o fim da disciplina de inverno que estava cursando, uma de literatura que tinha por plano falar a respeito de "Old English", "Middle English" e "Elizabethan Age"... Tudo o que não tinha interesse em saber - rever Beowulf foi meio chato para mim. No entanto, as aulas me chamaram a atenção por um grande motivo: fomos além. Na pequena turma, falamos de assuntos vários como simbologia e identidade - inclusive estou com um livro de Stuart Hall para devorar até o início das aulas -, além de termos discutido muito sobre esses e outros assuntos. Valeu bastante a pena. Digo isso porque esse lance de ir além soa bem a meus ouvidos. Foi uma coisa que tentei muito durante o tempo que estive na UFS; não me conformei com o que estava posto naquele momento, e isso é algo de que tenho muito orgulho. Como sempre falo para os meus amigos, vivi a universidade, dentro das minhas possibilidades, mas vivi, e bem (e vou vivê-la por mais um tempo, depois...). Não sei o que serão esses próximos cinco meses, mas têm de valer!

Que venha o período 2009/2. Eu estou pronto.

domingo, 19 de julho de 2009

E o Verão passou...

Ando observando minha família e suas características que mais me saltam aos olhos. Durante certo tempo ficava me perguntando por que eu tinha "caído" numa família assim, beirando a chatice. Eu não entendia. Via os outros meninos e atentava para sua "liberdade" e ficava, muitas vezes, puto por minha mãe ou meu pai não me deixarem brincar na rua até bem mais tarde, andar com essas ou aquelas companhias e, até mesmo, não me comprar brinquedos - por temerem por minha saúde física, no momento em que todos possuíam essas doces tolices. Enfim, minha família sempre me fez sentir alguém diferente, especialíssimo, bem-cuidadíssimo. Um primor. O tempo passou. Cheguei ao colégio e as coisas continuaram. Devido à exigência de minha mãe, era comum ouvir em casa: "Meu filho, deixe de assistir TV e vá estudar!" ou "Que bagunça está essa casa, seu quarto, o que as pessoas vão dizer!". Eu odiava tudo aquilo, mas fazia porque alguma coisa me levava a cumprir a ordem. Fui crescendo, a televisão sempre em nossa sala principal; a família sempre reunida em torno dela: novelas, programas de auditório, desenhos. Minha infância foi isso. Meu prazer era sair com minha mãe e comprar novos desenhos para assistir. Ela às vezes assistia comigo, às vezes me deixava assistir com minha irmã. Eu sempre gostei mais dessas coisas do que minha irmã: das figuras, da mágica que fazia uma figura colorida correr, sorrir e cantar. Ah! Eu adorava cantar. Eram músicas bonitas, bonitas demais. A mensagem sempre era: seja bom, seja feliz e cante. Cresci, de fato, acreditando nas canções, a vivê-las. Já no tempo da universidade, tudo era muito novo. As coisas se mostraram para mim de uma maneira inédita, sei lá. Desde a escola encontrei os vilões dos meus filmes, não obstante isso, eu cantava, doía, no entanto passava; sempre paguei o preço pela família que tive. Fraquejei em vários momentos, mas depois vi coisas que os outros não viam. Eu precisava de horizontes. Foi a hora em que a música me ajudou deveras. Ouvia os outros caras falando apaixonadamente sobre fazer música, mas o papo era baixo, guitarra, amplificador: eu não entendia daquilo, pois nunca soube "fazê-la". O pior corte, sem dúvida, é o feito em ti por ti mesmo. Para mim, saber música era o papo deles e eu também tinha de saber, afinal, o que os outros iam dizer! Mas não, outra vez vi que, era o mundo, eram apenas pontos de vista, e eu podia ter o meu. Não era para eu sofrer por ver diferente, por ser diferente, por, por exemplo, amar a música pelo que ela tinha a me dizer, menos pelo modo que era tocado, pelos intrumentos que a compunham. Passei isso para a vida. O preço pela minha família superprotetora e exigente também deixou de pesar tanto, pois ele era apenas mais um ponto de vista, de coisas e pessoas que não sabiam o que eu tinha. Vi, então, o quanto fui injusto por querer ser de outro núcleo, por querer renegar o presente que foi essa minha bagagem. Hoje, vejo que, de fato, a família é uma dessas coisas que chamamos de "mal necessário". Se sou como sou, se penso duas vezes antes de fazer as coisas, se sou extremamente sistemático ou preocupado, devo boa parte disso a eles. Agora reconheço que minha mãe e meu pai fizeram de mim um homem socialmente adequado e bom, que pensa muito nas coisas que faz, que respeita sorridentemente as pessoas, que sonha com a Primavera da Felicidade, mas com a alma outonal, diante da paisagem de Inverno. É, sem dúvida, na família que se começa a ter o gosto de que o mundo é feito de regras e regulações. É nesse microcosmo que se começa a gostar delas, onde serão formadas as cabeças componentes do nosso admirável mundo. Este texto é um agradecimento a minha mãe, a meu pai e à música, bem como àqueles que sempre tacham os outros de algum modo. Meu amor a vocês!

P.S.: Obrigado, minha família por ser um lugar concreto do mundo desconexo. Há atitudes que realmente não voltam atrás. Em todas as Estações.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Nada não

Tu tuuuuuuuuuuuu! Mais uma parada no meu diário de navegação: capítulo FÉRIAS. Agora, neste exato momento, estou com uma dor de cabeça da gota, mas estou aqui. Escrever no blog não tem sido uma obrigação - na verdade, ando fugindo delas -, mas um grande prazer, o de voltar a escrever sobre coisas que não estão ligadas ao dever! (hehehe!) Ontem, antes do parêntese que precisei fazer, estava pensando em falar sobre como foi o dia. Demais! Fui pro trabalho porque tinha uma reunião com os novos funcionários. Fiquei lá boiando, porque acho meio chato isso de ficar dando ótimas vindas às pessoas; pra mim soa meio forçado e sedutor, pois as coisas, na maior parte das vezes, não saem como "no primeiro dia". Mas tinha de ir, fui. Tantos sorrisos e eu lá, não rindo tanto, esperando minha vez de falar sobre mim - detesto! No final das contas, sobrevivi. Apesar de tudo, acho legal esse tipo de coisa, pois é uma maneira de agregar. É o verbo, né?! O que mais conta é que encontrei pessoas com quem gosto de estar e a gente conversa, ri, se abraça e é uma festa da pêga. Pra mim isso é o que mais conta. Depois vim pra casa e minha irmã tava, como sempre, no PC, editando foto. Fui
zapear pela TV e caí na minha grande e querida TV Cultura, tava passando Metrópolis - um programa cultural de variedades - e, em seguida, começou um especial sobre a FLIP (pra onde não fui infelizmente). Pronto. Não podia ser outra coisa pra me fazer parar. Quantos livros. Um dos convidados era Chico Buarque. O bicho tava parecendo um pop star com pessoas alucinadas a tentar alcançá-lo; definitivamente, o ser humano é algo interessantíssimo mesmo. Massa foi o clima que passou o programa; como são bons os livros (objetos transcendentes... Livros, já dissera o poeta): ainda estou em 1968. Uma viagem, é massa. Meu pai me fez uma surpresa que ligou texto e imagem: trouxe um DVD de clipes do Michael Jackson - um milagre porque não temos os mesmos gostos musicais -, o que foi interessante, pois já tinha comprado uma revista especial falando sobre sua carreira. Resultado: noite regada a FLIP e Michael Jackson. Foi assim. Legal. Cansei de escrever. Vou fazer outra coisa ou dormir. Amanhã quero passar minha manhã toda na cama, levantar à tarde ler meu livro e me preparar pra ir à UFS. Tomara que chova hoje de madrugada. Ui! Este texto já foi, e eu fui!

quarta-feira, 15 de julho de 2009

mea culpa (ou "colega x amigo")

Tinha decidido não ficar escrevendo coisas demasiado psicológicas durante essas postagens de férias, no entanto um fato que notei me chamou a atenção: os termos "amigo" e "colega". Eu os usei durante várias passagens do meu texto anterior (é, eu releio os meus posts!) e não achei justas algumas coisas colocadas ali. Rever o que postei levou-me a fazer ponderações sobre como a linguagem é importante para designar, definir, assim como para afastar. Usei "colega" (uma palavra perversamente polarizante) em três situações: num primeiro momento, para uma pessoa que tenho convívio na universidade (a do livro), num segundo, para falar da amiga da minha irmã e, numa terceira oportunidade, para tratar da deliciosa companhia que tive ontem à noite - e que me deu um momento de bem-estar depois das atribulações por que passei. Nesta última colocação fui absoluta e tolamente injusto. Não foi só uma "colega" a pessoa que me acompanhou ontem, mas uma AMIGA (a qual amo e que entende os meus vacilos toda a vez que me ponho a tratar de certas coisas), pois já não lhe nego minha infantilidade, minhas fraquezas idiota(mente) masculinas. Esse texto é para dizer que amizade para mim é isso: é me fazer esquecer do mundo quando estamos lado a lado. Isso é amor, e eu, com certeza, amo essa minha AMIGA (bem muito - hehehe!). Tem vezes as quais eu, sozinho que sou, fico pensando como é triste ser gelo, uma coisa só, aí então me vêm à cabeça as pessoas que acompanham a gente, que insistem em estar do lado, em nos puxar para o Sol, ao Azul, a ser Vida. Não considero serem "colegas" esses seres. Não é possível esquecer as horas em que estou cansado, odiando o universo por estar nele, por ver e ser companhia dos cupins que o parasitam, e chega alguém a me fazer rir por uma bobagem que vale mais do que ouro. A vida volta a ter brilho e luz; renasce a graça de existir. Isso não é ser mais "colega". Quando a gente sente que faz parte da vida de alguém e que esse alguém nos diz que tem saudade, e ralha conosco pelo tempo de separação e nos olha: você sabe, já não há espaço para palavras, mas um indescritível e único abraço. Não acredito ser isso simples coleguismo. Quando se pensa trocentas vezes sobre se uma ação sua pode interferir na harmonia de alguém, em específico, ignorando aquele papo chato de catequese sobre "o próximo", existe sim uma distância entre o que é um colega e o que é um amigo. Quando você olha uma foto, pára (com acento diferencial, pois como Caetano, defendo esse brasileirismo!) e se dá conta do quanto mudou, aprendeu e, no instante, alguém especial vem a sua cabeça: ali se é um texto e ali está a surpresa fantástica de estar sendo lido, sendo fonte a alguém. É lindo e indescritível. Você é importante para alguém. Porra! Esse "alguém" já não é só um "alguém", um "colega", já é amigo. São coisas que não se tem às pampas hoje em dia; são fenômenos, manifestações raras, que estão numa rota por onde passa um multidão necessitada, direcionada apenas a um fim (que varia de um para outro) e que desconsidera que detrás das pedras alguém deixou um presente para sua vista cansada. É o amor, e tanto amor precisa ser retribuído com amor, com atenção. Não quero ser "rei". Não quero mais ter um milhão de amigos. Quero amigos fora desse milhão, pois colegas multiplicam-se, reproduzem-se em milhares e milhões e, no fim, só te sufocam (eles são o "mundo-lobo-bobo"). Definitivamente, amigos para mim são assim: um em um milhão. Não são colegas. Nunca serão. Peço desculpa pelo lapso de esquecer que no mundo ainda existem surpresas atrás das pedras da estrada, flores raras chamadas AMOR. Amo-te, minha amiga, eu te amo, meu amor.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Normales

Continuando nessa minha saga (hehehe) de férias, hoje fiz as coisas que planejei. Foi mais um dia tranquilo, melhor porque tive que voltar à rua depois do acontecido. Pensei que fosse ser traumático, sei lá - acho que ando pensando coisas demais sobre mim, coisas demais -, porém, como dizem alguns que conheço, foi de boa. Fui pra FISK e dei aula (plantão de dúvidas) pra uma garota. Foi legal, as coisas rolaram em paz. Li meu post de ontem. Caramba! Como escrevi sobre coisas que não fazia há algum tempo: bobajadas, descompromissos. É bom fazer isso. Não me levar tãããão a sério. Comédia. Mais cedo, recebi uma visita muito especial em minha casa; uma amiga de minha irmã que gosto muito esteve aqui, almoçou conosco. Elas duas, minha mana e ela, ficaram conversando sobre coisas e coisas e eu cantando no banheiro, tomando banho pra sair pra o curso de inglês e não me atrasar. Estou ficando meio paranóico com horários (...). Não assisti muito TV, nem fiquei no PC como ontem, também só li algumas páginas do meu interminável livro "1968: o ano que não acabou" (ele simplesmente não acaba! e olhe que estou na terceira e última parte). Tenho que confessar que comecei a lê-lo bem mais motivado, no entanto não consigo avançar, pois minhas leituras, até antes das férias, se davam em busos. Estou, na verdade, louco pra começar um outro livro emprestado por uma colega da universidade, mais um de Hesse (sô "aviciado"), "Narciso e Goldmund". Tô com os olhos salivando para cair na história, contudo devo acabar "o que não terminou" (hehehehe). Por falar em 1968, política, hoje à noite, aqui em casa, tivemos uma discussão sobre maioridade penal. Estávamos assistindo a um debate sobre o tema e aquela deputada bonitinha do PCdoB, Manuela D'Ávila, falou coisas interessantes, sedutoras, mas interessantes sobre a educação. Acho que veio a calhar, pois fui vítima de um menor - que disse que ia me furar todinho. Concordo com ela quando disse que não se deve pensar nessa redução da idade penal como fórmula para dar cabo da muvuca que tem sido nosso país. Eu também creio que a resposta está na construção do cidadão, mas a questão é saber até quando ficaremos só nisso. Eu confesso, estou cansado para pensar sobre. Só sei que, antes de tudo, é preciso ter organização e compromisso. Infelizmente essas duas palavras andam meio escassas nas relações. Não quero compactuar com isso. Não mais. Cansei de clubinhos. Se for para haver, que me deem prazer, não problemas. Ainda dei uma passada pela UFS. Aff! Só perdi meu tempo, pois a tal disciplina de inverno nem aconteceu. O professor esteve lá pra explicar alguma coisa que eu, pra falar a verdade, nem prestei muita atenção, pois só queria sair pra comer. Tomara que seja interessante na hora que começar, pelo menos. Pra fechar o dia de hoje, fui pro shóps, e não tinha o celular que queria - acho que vou ter de comprar pela net, mas, é claro, só depois de um balanço nas minhas contas -, isto é, não tinha, vírgula, pois fui a uma das lojas e fiquei plantado com uma colega à espera de atendimento. Tudo bem que o lugar estava meio cheio, mas nada justifica o fato de eu não ser atendido quando vou dar dinheiro àquela joça. Parece que a gente tem que pedir pra pagar. Assim foi com a Oi, que me enraiveceu profundamente com aquela secretária estúpida, dita "inteligente", que sempre torra o saco de quem liga. Ela não entendia nada do que eu pedia e quando finalmente conseguia meu intuito - falar com a atendente - a ligação caía. Fiz questão de ser atendido só pra dizer que tinham acabado de perder um cliente pela falta de atenção dispensada. Da minha parte, vai ser assim pra pior agora. O mundo só funciona assim; se me exigem, vô-lhes exigir também! Ah! Ainda passei no Subway e comi um burgão de almôndega com minha colega. Foi demais. A gente riu muito à noite e, de lambuja, encontrei uma conhecida. Pro fecho desta terça, comprei uma revista inteirinha falando sobre Michael. Agora é só lê-la! Ser feliz e lê-la! Fui, pois minha mãe tá pegando no meu pé pra eu ir dormir!

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Mais um dia

Hoje na primeira segunda-feira de minhas férias fiz tudo o que queria: nada. Fiquei o dia todo "de boa". Primeiro, acordei às sete e alguma coisa da manhã, pois estava com vontade de ir prestar queixa do roubo do celular, mas as coisas começaram a se complicar porque ninguém sabia onde ficava nada (depois eu me dei conta de que não tinha mais os documentos do aparelho). Meu pai falou, quando contei a ele o que tinha acontecido, que àquela altura não surtiria muito efeito ir fazer a queixa. Eu também não estava com muito ânimo para enfrentar um clima de delegacia - principalmente porque não estava dando a mínima pro que tinha perdido - e, pra completar, começou a chover. Creio que não era mesmo pra eu ir. O que ia me fazer prestar a tal queixa era o sentimento de revolta por ter sido roubado dentro de um ônibus com todo mundo vendo e de manhã. O que mais quero é esquecer que aquela cena indigesta aconteceu. Tenho mais coisas a fazer do que me preocupar com um celular. Colocada a idéia da denúncia de lado, resolvi aproveitar o restante do dia. Passei a tarde toda me dividindo entre TV e PC... foi tão massa Havia um tempo que não via as coisas que queria, não lia textos que gostava, que não sentia o gosto de estar livre da pressão. Fui atrás também de umas agências de intercâmbio pra ver os destinos e o preços de algumas passagens pra fora. Quero muito ir pro Canadá, mas preciso ver o quanto vai sair esse meu desejo. Engraçado, passou hoje na MTV um programa especial sobre brasileiros que têm vontade de morar fora daqui. Foi ótimo, pois deu pra ver algumas opiniões, algumas dicas, enfim coisas que posso aproveitar, caso eu viaje mesmo. Ando cansado desse país, dessas coisas que acontecem por aqui. Não que queira abandonar tudo, a minha pátria pra sempre, mas preciso muito respirar novos ares. Não quero ficar mais sustentando um bandeira que a cada dia acredito menos, fazendo parte de discursos bonitos, nobres, mas vazios. Estou em fase de transição, mais uma, por sinal. Não ando me importando muito com o que os outros querem dizer ou pensam sobre mim, sobre minhas atitudes. Quero, sinceramente, que vão tomar banho, que se fodam aqueles que julgam, que acham que podem interpretar pessoas. Pra acabar de maneira ótima meu dia, passou na Tela Quente o filme que mais gosto do Shrek, o 2. Muito massa, pra mim este é o melhor da série - inclusive agora estou ouvindo a trilha sonora dele. Demais! - e ri bastante. Amanhã volto à realidade, tenho umas coisas pra fazer, tenho aula pra dar (um tira-dúvidas) - pelo menos é com uma pessoa que acho legal -, e tenho aula pra assistir na UFS - uma disciplina de inverno pra subtrair das que eu preciso pegar no período que vem. Acho que amanhã também vou dar uma passada no shopping pra ver o preço de uns celulares; tô de olho em um da Nokia... deixe eu ver qual é o modelo... ah! Nokia 5310 (fino, elegante, discreto e com funções de música). Se não tiver no shóps, compro pela Internet. Só não posso ficar sem celular. Até que queria, sabe. Admiro o pessoal que consegue viver bem sem, mas o negócio é que preciso (principalmente por questões de trabalho e de organização). Enfim, vou dormir. Já é meia-noite e, depois de um dia de sonho e uma noite de contos-de-fadas (mesmo que, brilhantemente, às avessas) é bem capaz de eu virar abóbora (hehehehe!).

Graças a Deus hoje estive mais calmo - salvo as horas que o telefone de minha casa tocava e eu pensava ser o assaltante -; ninguém me encheu o saco pra eu contar a história do que aconteceu e estava em minha casa, com minha família. Em paz. Graças a Deus.

domingo, 12 de julho de 2009

Going ahead...

Ainda estou meio em choque. Não consigo parar de lembrar da cena em que eu argumentei com o bandido na porta do ônibus diretamente, com todo mundo vendo. Meu Deus! Foi terrível. Quando fui dormir hoje mais cedo - na hora que terminei de postar o texto anterior -, fiquei pensando sobre o que eu poderia ter feito, ou o que poderia ter acontecido, mas, no final das contas, acho que acabou tudo bem.

O que está me deixando mal é o medo da possibilidade de ver o assaltante na rua, no ônibus, enfim. Estou numa idéia fixa com relação a isso. A todo momento digo a mim mesmo que não tem porquê isso, que se for para encontrá-lo novamente, não vou mais ser tão passivo e, se precisar, brigo também; a questão é que temo muito pela minha vida, pela minha integridade física: não fui criado, nem acostumado, a brigar em lugares públicos, e, provavelmente, levaria a pior, não sei. Não gosto disso, mas se for necessário, faço. Ele levou meu celular porque uma moça - para me deixar mais calmo -, na hora do roubo, disse "Ele tá com uma faca!". Primeira vez que fui roubado, não sabia como proceder, a não ser fugir de um lado para o outro naquele ônibus. Na cara de pau, ele disse "passe o que você tem aí no bolso ou vou descer no seu ponto e furar você todinho"... Foi ruim demais, pior quando dei conta que o garoto (porque era um garoto) não estava sozinho; havia um comparsa - muito calmo, por sinal - no fundo do ônibus, que só observava a situação do rapazinho alterado (o guri falava coisas desconexas com as pessoas do veículo; uma mulher, inclusive, quando desceu, fez o sinal da cruz) e que seguiu a direção do menino quando este gritou "Não desça ainda não". Neste momento, eu tentava me desvencilhar da perseguição do moleque que já tinha me dado aquele aviso nada amigável. Foi na parada do meu trabalho que percebi o outro: os dois iam saltar (e me assaltar) no meu ponto. Eu, que ia descer sozinho, já imaginava o estrago que poderia acontecer caso a dupla fosse em minha companhia; tremendo, dei sinal. Ele me observou. Na porta, fingi que ia e voltei atrás. O garoto fez o mesmo (na cena do grito ao segundo marginal). Sem saber mais o que fazer para acabar com aquela agonia, decidi entregar o aparelho NA FRENTE DE TODO MUNDO, ÀS DEZ HORAS DA MANHÃ... Desci dois pontos depois do meu, peguei um táxi e afinal respirei. Ainda tinha que ir para o trabalho aplicar prova e resolver alguns problemas. Minha cabeça estava a mil.

Acordei cismando sobre mais uma cabeça desse monstro chamado MEDO, no entanto estou tentando colocar em minha mente o que venho aprendendo e dizendo a meus amigos: o medo só está dentro da cabeça da gente; então, só a gente é que diz a força que ele vai ter. Estou abalado, afinal o troço aconteceu ontem, mas não quero ficar refém desse sentimento. Pelo contrário, devo tirar daquele dia algum (ou vário) aprendizado. E existe sim. Pode parecer louco, mas o que aconteceu me deixou um pouco mais feliz. Feliz por saber que não titubeei em preferir entregar meu celular. Isso se dá porque, numa situação dessas, imaginei que seria apegado a ponto de brigar para ficar com o objeto. Isso mostra que as coisas valem nada se comparadas a sua paz, a sua VIDA. É sobre ela a segunda ligação para minha felicidade: estou vivo, meu Deus! Qual presente poderia eu pedir? Posso trabalhar para conseguir outro celular, outras coisas; tenho minha família, tenho minha casa, pessoas que me amam, que cuidam de mim, que eu posso abraçar quando me sentir frágil e assustado. Aquele menino, provavelmente, não. E então, quem mais sai(u) perdendo nessa história?

Under panic

Finalmente estou de férias. Tenho um mundo de coisas para fazer, principalmente as que não fazia graças à universidade. Um delas é escrever, de fato, aqui no blog. Só Deus sabe o quanto estava precisando de férias, de algum tempo livre e fora da universidade, de algumas pessoas de lá, enfim, andava precisando de um tempo a sós. Minha vida tem sido uma correria de uns tempos para cá e poucas vezes tenho possibilidade de me sentar e escrever com calma. Hoje meu dia - o primeiro das férias - foi marcado por um acontecimento difícil: fui roubado às 10h da manhã dentro do ônibus. Percebo que ainda estou em choque, pois vira e mexe me lembro do indivíduo tentando abrir minha mochila, depois me perseguindo pelo veículo, num terrorismo psicológico terrível. Não me importei tanto com a perda do objeto, mas sim com a aflição por que passei. Não quero mais falar sobre esse assunto hoje.

(...)

Quando melhorar e parar de rever as cenas de mais cedo, eu volto...

quinta-feira, 25 de junho de 2009

... (II)



Now he is a Star... Go in peace, Michael.

They don't see you as I do. They don't care about us.

:(

domingo, 14 de junho de 2009

Leitura, Suco de Soja e muita Legião Urbana

"Essas são alguns dos meus desejos mais fortes", já dizia a música (que também se tornou um dos meus cravings). Queria que fossem mais. Essas tem sido as minhas queridas companhias nesse final de ciclo pelo qual estou passando. Acho que esse é um dos momentos mais críticos da minha vida. Ontem, antes de dormir, assisti a um vídeo - que inclusive está aqui no blog - que falava sobre novas tecnologias na educação, ou seja, que falava sobre a educação aqui no Brasil. O palestrante era ótimo e trouxe algumas coisas para se refletir sobre. Ele usou recorrentemente a palavra "critério", que era preciso ter noção e prática dela. Às vezes (muitas vezes, para dizer a verdade) perdemos tanto tempo com tanta coisa que não quer dizer nada: isso se dá pela falta de critério. Amanhã, por exemplo, tenho uma apresentação na disciplina que, de longe, mais gosto das cinco que peguei, a de estágio em português, aquela polêmica do meu indignado texto "Os novos e os velhos 'Podres Poderes'". Tenho dois textos diferentes para ler - um para o seminário de ESLP1 (estágio de português) e outro para ESLI1 (estágio língua inglesa) - e estou diante de uma coisa que já se tornou comum na minha graduação: ler por enxergar utilidade e ler por obrigação, por nota. Foi sobre isso que Luli Radfahrer, o palestrante, tratou em sua fala. Os professores ainda mantêm a mania infeliz de obrigar, de mandar. Observo que até na universidade, subtendida enquanto lugar para o desenvolvimento (aumento da capacidade ou das possibilidades de algo; crescimento, progresso, adiantamento; aumento de qualidades morais, psicológicas, intelectuais etc.), não desenvolve nada, a não ser uma ruma de repetidores, que se acham alguma coisa por falar o que alguém já falou. Um nojo isso. Não percebo o incentivo à pesquisa (não estou falando PIBIC), mas de maneira que ficasse claro que é importante fazê-la por ela mesma, pela busca do conhecimento, não na barganha de receber uma nota ou premiação. Apesar de amanhã ser o dia de um seminário - que é igual a avaliação, que é igual a uma nota -, observo que o professor de ESLP1 ainda tem uma noção diferenciada, no que diz respeito a relação professor-aluno. Ele, é claro, não é perfeito, mas desconsiderando o platonismo, existe alguém assim? Provavelmente, eu, que estou criticando, irei me confrontar diversas vezes com situações em que questionarei tudo o que já disse, como ser humano que sou. A vida é desse jeito, repleta de contradições. Enquanto ela vai assim, adversa, eu vou ouvindo o que me diz Caê, Renato, Rufus enfim, meus distantes amigos que me ajudam numa das fases desse meu caminho: depois da visão panorâmica, de cima do farol, eles me ajudam na visão interior. Escuro, íngreme e cansativo, tem sido um trabalho esse olhar, e eu vou respirando, bebendo e andando. Caminhando.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Glimpse

Um olhar rapidíssimo sobre alguma coisa, um vislumbre, mas também um breve fecho de luz que aparece para a pessoa. Enfim, o que acontece é que ando tendo isso, e hoje foi pior. Não estou em paz com o perturbar desses flashes. Mais uma vez me vejo, como na música insistente do NX Zero, entre razões e emoções. No entanto, diferentemente do que ela expressa na continuação do refrão, não dá mais para fazer "valer a pena" - porque, no fundo, nem sei bem o que isso significa realmente a expressão aspeada -, pois não está valendo assim tanto. Transportando a dúvida para uma questão mais, digamos, filosófica, outra vez estou entre meus amigos Dioniso e Apolo. Há um tempo tenho dedicado muito da minha atenção e suor a um projeto que eu agarro de todos os modos para evitar seu desmaio, queda e consequente morte, contudo às vezes percebo que algumas pessoas não têm essa mesma noção. Resultado: apaixonado, ando preterindo tudo o que não está no plano da minha maior predileção; estou vendo ser fato que se apaixonar emburrece. Não que acredite ser isso de todo negativo, mas é que nesse atual momento não estou vendo o tal lado bom. Quando nutro em mim algum sentimento fico a um passo da cegueira, de apenas vislumbrar coisas, então tropeço e sinto algum tipo de dor. Eu não gosto de (detesto) sofrer dor. Então, paro para pensar no sentimento incômodo e logo vêm todas as minhas nóias, compensações, bloqueios, dúvidas, ou seja, uma enxurrada de coisas que me fazem perder o tino. Estou nessa tormenta no momento. Vejo a mim mesmo como alguém de potencialidades, de valor, um ser se entregando a uma relação pouco fértil. O que estou colhendo tem sido pouco para mim. Aprendi que não devo nem preciso perder tempo, tenho muito o que fazer. É isto o que me visita nas horas a sós de meu tempo: um"glimpse", (que em inglês quer dizer) um olhar-relâmpago sobre alguma coisa, igual àquelas cenas de filme de suspense em que flashes vão aparecendo na cabeça de alguma personagem atormentada. É também o vislumbre de algo. Venho tendo "glimpses" vários ultimamente. Eles se juntaram, o que me faz formar uma imagem de todos eles. Creio ser tempo de mudar, voltar a tomar conta das minhas coisas, não ser mais arrebatado por paixões, sem pesar as consequencias, sentimentos que me oferecem uma rota de estrada anuviada que perigosamente não sei aonde vai dar. Posso estar sendo covarde, mas tenho muita coisa a perder se continuar a fazer de conta que tudo vai ser como eu gostaria que fosse, por isso, chamo de retirada, de estratégia. Haverá momentos em que poderei me deixar capturar. Não agora. E só eu sei porque penso e digo tudo isso. Só eu sei.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

São Renato


"Nada mais vai me ferir
É que eu já me acostumei
Com a estrada errada
Que eu segui
E com a minha própria lei...

Tenho o que ficou
E tenho sorte até demais
Como sei que tens também..."

(Andrea Dória, Legião Urbana)

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Avaliar, verbo indefinido

Ter vinte e poucos anos na sociedade dos anos 2000 não é coisa fácil. Ora, muitos podem pensar "dizer isso é uma atitude esperada numa faixa etária ainda imatura, que acha ser tudo 'terrível'". Ou seja, tal afirmação seria, possivelmente, interpretada como mais uma frase lugar-comum, como tantas ditas pelos jovens. A questão se delimita melhor quando refeita, melhor dizendo, contextualizada: Ter vinte e poucos anos, e ser um estudante de Letras no Brasil, na sociedade dos anos 2000, não é coisa fácil. Há questões e provas difíceis de serem resolvidas; exemplo disso são os temas necessários de atenção, qual os métodos de avaliação (pelos quais todos passam), que se mostram, por ora, distantes de compreensões mais aprofundadas.

Chegar à universidade é um sonho, hoje, embalado desde a tenra idade. Quando finalmente se é parte dela, as coisas desenham-se de maneira curiosa. Para uns – mesmo depois de certo tempo passado –, o ensino superior não é nada mais do que uma extensão dos bancos da escola básica, no qual se passarão mais alguns anos com a recompensa, ao final dele, de um diploma de conclusão de curso. A outros – que aprendem com o tempo dedicado –, a universidade é uma nova etapa da vida, uma de crescimento e ampliação de pontos de vista, de revisão de idiossincrasias, enfim, uma oportunidade outra de repensar aspectos vigentes. Com o público de Letras as coisas não se diferem. Certamente, há universitários e há muitos universitários.

O curso de graduação em Letras é imenso, com um número idem de pontos e de abordagens. Ele, dividido em algumas habilitações, tem duração média de quatro a cinco anos. Durante esse tempo, existem diversas discussões em sala de aula sobre assuntos referentes a Literatura e Linguística, bem como a Ensino, uma vez que o direcionamento principal dessa graduação é à licenciatura. Contudo, fala-se muito acerca de bastantes coisas, sendo que delas nem sempre são retiradas conclusões práticas e/ou originais.

A avaliação é um desses pontos ainda não bem elucidados pelos pensadores que compõem a estrutura superior. Trata-se de um assunto delicado, pois para estarem ocupando as vagas universitárias, todos tiveram que passar por uma avaliação, ou melhor, por uma prova. As opiniões pouco divergem, posto que boa parte dos estudantes – já acomodados – não problematiza muito a respeito da chamada prova, eufemizada como "avaliação", sendo praxe ouvirem-se frases simpáticas a aplicação desse método no que diz respeito ao "conferimento" do que foi dado em sala de aula. De fato, brigar contra "a prova" seria o mesmo que empreender uma batalha de um homem contra a Hidra de Lerna. Destarte, se a criatura está confortável entre os humanos, que sejam pensadas maneiras para uma convivência, no mínimo, não-danosa.

Em seu texto, "Avaliação – da excelência à regulação das aprendizagens entre duas lógicas", Perrenoud coloca que o sistema de avaliação utilizado hoje na maioria das instituições de ensino não passa de uma "criação de hierarquias de excelência", no que tange à maneira que são feitas, baseadas na diferenciação dos "melhores", dos "piores" e dos "menos ruins" (até o dicionário do computador sugeriu a troca deste termo por "melhores"). Ele aponta o risco que pode causar uma atitude dessa espécie, pois as tais hierarquias mexem profundamente nas vidas dos alunos rotulados. De acordo com ele, a avaliação (posta atualmente) mostra-se como uma espécie de "negociação entre o professor e seus alunos", a fim de que eles realizem as atividades e cumpram seu papel de receptores a serem cobrados num momento em breve. O autor ressalta inclusive a conivência da família nesse verdadeiro mercado de concessões. Os pais, durante a escola, torcem pelas notas azuis do filho, firmes na crença de que o resultado delas implica no conhecimento adquirido pela criança e, por conseguinte, num futuro brilhante. Surgem, então, as "promessas": o menino é um bom aluno e, portanto, se dará bem na vida. Àqueles que não lograram o mesmo êxito serão dedicados castigos, reclamações, rótulos e até mesmo agressões físicas, pois são a camada "pior", de futuro nebuloso. Perrenoud traz questões para serem pensadas no que diz respeito a teorias muito vistas e pouco aplicadas e chama a atenção para uma "avaliação formativa", cujo foco seja na real aprendizagem do estudante, observando suas falhas de maneira que suas competências não sejam mensuradas por valores de finalidades em si mesmos. Sua proposta é a de um ensino mais democrático e atento às peculiaridades daqueles que estão nos bancos escolares.

Por outro lado, Stephen Kanitz, administrador e articulista da Veja, no seu "Por uma sociedade justa e eficiente", dirige sua crítica para os "menos ruins" (abordados mais acima neste texto); seu questionamento vai aos mestres que "passam a mão na cabeça dos seus pupilos". Comentando sobre sua fase de universitário, ele relembra o tempo em que não agia de maneira "justa" com seus professores, e tipifica a classe docente. Segundo ele, tem no Brasil dois modelos de professores: os "que corrigem de acordo com o que é certo e errado" (e os enumera, logo em seguida, como professores de engenharia, matemática, direito, produção, recursos humanos e, é claro, de administração) e os do tipo "mais humano e socialmente engajado, que dá nota pelo esforço despendido pelo aluno e não apenas pelo resultado". Provavelmente, fora com os deste segundo tipo que sua atitude não tenha sido a mais recomendada, pois, lembra ele, escrevia montes de "abobrinhas", com o objetivo de passar um bom tempo na prova e conseguir, desse modo, alguma nota diferente do temível zero. O administrador, mestre em Harvard, continua descrevendo que os alunos ensinados pelos professores "mais humanos" são muito simples de serem percebidos, tendo em vista que seus textos são repletos das "abobrinhas" – das quais ele mesmo se utilizou na juventude – e de frases-feitas. Kanitz completa que o assunto está longe de ser encerrado dado ser ele mais uma "famosa briga da turma da filosofia contra a turma da engenharia". Inicia, então, algumas indagações que flutuam em torno da contraposição dos adjetivos do título relacionadas à sociedade: justa (pelo esforço, pelo intuito de querer fazer) ou eficiente (com resultados efetivos e aplicáveis).

Os textos mostram duas visões que permeiam os pensamentos atuais, abordadas mais explicitamente no último, da Veja: a dúvida se avaliação deve ser calcada nos conceitos humanísticos (de atenção à individualidade e compreensão das diferenças estruturais de formação do sujeito) ou nos dicotômicos (de certo/errado e melhor/pior). Ambos os escritos apresentam lacunas: o primeiro traz, novamente, um problema enfrentado pela maioria dos graduandos das Ciências Humanas, o do mundo de teorias ideais e pouco aplicadas, já o segundo deixa clara a opinião vigente das demandas do Mercado, que nivela entre melhores, piores e medíocres.

Daí dizer quão complicada é a vida de um estudante de Letras no Brasil nesses anos 2000. Há algum tempo, o mundo vivia o nascimento de idéias, hoje muito difundidas, e, preservados os contextos, claro, vislumbrava-se uma motivação forte em defender ou adotar atitudes que levariam a uma eventual mudança, porém na dita "pós-modernidade", todas as ações são permitidas, o que não implica uma clareza nas intenções. Observa-se ser mais fácil preservar o status quo, isto é, não ir de contra ao "Sistema", afinal, para muitos (mas muitos, mesmo) teorias não levam a nada e o que realmente importa é o rendimento. Em contraposição, existem os que não vêm justiça num sistema tipificador de capacidade sustentado por provas realizadas em momentos definidos (e nada esclarecedores) de avaliação. A atual regra para alcançar uma excelente situação financeira, enriquecer, dar inúmeras palestras ou chegar a Harvard é apresentar resultados que correspondam à expectativa mundial, a que premia quem melhor se sair nas diversas provas e diplomações reguladoras da sociedade. Com relação às teorias humanísticas, as quais estudam os alunos de Letras – assim como os diversos outros de Humanas (ou não) –, é imprescindível se encontrar um modo pragmático, aplicável, a elas, do contrário, como disse Kanitz em seu artigo, será absolutamente fácil entender por que o Brasil é um dos últimos países do mundo no que diz respeito a patentes, por que nossos políticos são tão prolixos, por que há tanta gente usando de má-fé e, afinal, por que nossos cientistas e professores pertencem à Academia de Letras.

segunda-feira, 30 de março de 2009

30/03: Meus novos 3 anos

30 de março. Mais um dia em que eu marco um encontro só comigo. Na verdade, nesses dias especiais fico pensando em mim, na minha vida, em que estou crescendo, em que estou estagnado. Por isso sumo. Há um ano estava mais poético, escrevi um texto bonito, interessante, no entanto hoje a poesia não tem sido minha companheira. Eu, que vinha sempre pregando uma espécie de diferenciação, me vejo novamente no coletivo que é o medo. Dessa vez o sentimento vem de maneira mais perversa, subliminar. Este novo ano de 2009 será decisivo na minha vida - infelizmente, não é desejo -, ou seja, não será como os outros em que a situação se desenhava quase previsível (em que eu ia com um pincel e brincava de desarrumar para uma deliciosa adaptação). É qual voltar a minha lembrança um trato consentido, em que a mim houvesse sido dada uma sentença: durante cinco anos, eu entraria num mundo novo e instigante, no qual iria me deparar com muitas trilhas, mas seguir por apenas um caminho, "o caminho". O prazo seria de cinco anos. Pois bem, quatro vêm passando e sinto como se esse novo lugar estivesse em tempo regressivo para desabar e eu ainda sem achar "o caminho". Este é o sentimento que povoa meu peito neste trinta de março, no terceiro ano que venho convivendo com meus vinte, que venho sendo alguém. Durante a procura pelas trilhas, para me nortear, criei um relato das andanças, pois preciso dialogar nesse novo mundo. É como numa espécie de jogo de video game: a fase está sendo superada, a cada queda em abismos, a cada esquecimento de salvar as partidas na memória, a cada impossibilidade gerada pelos meus superiores, ela já está chegando ao fim, é um fato. Um novo cenário como novos desafios está se configurando para mim. Eu sei, e isso tem me matado. Não posso deixar de colocar que nesse mundo vi coisas tristes, pessoas me deixaram triste, eu tenho ficado assim. Às vezes, sinto que não vou aguentar, que vou fenecer, mas eu durmo e logo estou como um celular depois de recarregado: pronto para me desgastar uma vez mais. Mas até quando isso? Realmente não estou querendo ficar para saber. Não gosto de me ver "funcional", substituível. É uma batalha diária, constante, para não me tornar mais um aparelho nesse mundo de bens-de-consumo. O medo durante esse meu caminhar é companheiro, pelo visto, nunca vou me livrar dele. Ainda não atingi esse elevar. Contudo hei de lutar arduamente pela minha vida em detrimento do meu medo. É o que uma amiga que fiz durante as andanças, a Consciência, me mostra sempre: "enquanto eu puder com ela contar, será mais fácil andar"... É assim, em vinte anos, muitas coisas me convenceram do quanto ainda há por aí. Não quero ficar aqui. É escuro. Existe uma luz que pulsa pelas frestas da porta e que, de passo em passo, me encaminho em sua direção. A cada observar, me aproximo e o farei até o momento de tocar sua maçaneta, embrulhá-la com minhas mãos, até o instante de virá-la... Neste intervalo não-cronológico, já não poderei mais regressar, e o que terei será apenas uma mochila cheia de todos os itens que coletei durante o percurso das minifases. Chegará, assim, o momento dele deixar de ser percurso para se tornar "o caminho"; será neste tempo que colecionarei os itens, e eles não serão mais itens, mas pedaços de mim. Há três anos convivo com meus vinte e em vinte e dois anos nunca aprendi tanto quanto nos cinco que me foram dados. Sou um bebê pasmado diante do que não sei.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Os novos e os velhos "Podres Poderes"

Hoje foi um dia muito importante e complicado para mim. Nada comum. Na aula de Estágio Supervisionado houve uma polêmica, e fui ingrediente dela, um bem apimentado - por sinal! -. A questão foi que a aula estava morta, o professor falando aquelas coisas mais-do-mesmo que a gente cansa de ouvir desde o início do período: "O aluno precisa ler" e "Vocês, que serão professores, tem de despertar o desejo neles"; contudo o que me incomodou bastante foi o discurso de "A leitura pode mudar o mundo, pois ela é capaz de tornar o aluno cidadão consciente, reflexivo". Realmente não suportei aquele lero-lero do professor e comecei a questioná-lo sobre aquela ruma de coisas tão lugar-comum ditas por ele; disse-lhe que precisávamos partir para a algo mais praxis, pois havia um zilhão de estudos com tanta, mas tanta teoria e, no entanto permanecíamos sentados, literalmente. Um colega meu se pronunciou e começou a argumentar, mais ou menos, que era complicado colocar aquelas coisas em prática, pois era difícil trabalhar num "sistema" igual ao nosso e "inovar". Pronto. foi o que faltava. Comecei a dizer, um pouco exaltado, que aquele espaço, no caso a universidade, era o local para pensarmos aquelas e outras mais problemáticas, que era um espaço privilegiado, uma vez de não existem muitos como ele. Comecei a tentar colocar as coisas de modo a fazê-lo entender que nós, futuros professores, não deveríamos nos submeter ao que o famoso Sistema (vou grafá-lo desta forma, pois já se antropomorfizou) nos impunha. Ele alegou que tudo era muito bonito de se dizer, mas que precisávamos de coisas concretas como o dinheiro para viver e tudo mais; citou, inclusive, que um Agente de Polícia ganhava muito mais em pouco tempo de vida e de trabalho. E assim a discussão foi, minhas respostas sempre eram no sentido de mostrar que, antes de exigirmos ou desejarmos algo dos nossos alunos, precisávamos nos questionar se estamos de fato cientes do papel que exercemos na universidade.
Disse algo que acredito mesmo: algumas pessoas que estão na universidade e só esperam dela um diploma no final do curso são, sem sombra de dúvidas, no meu conceito, cabeças de ostra, ou seja, coisas levadas pela Maré, que se movimentam ao sabor do Vento. Eu hoje detectei que alguns são meio ostras mesmo. Um menina me interpelou, me dizendo que tinha sido muito desrespeitoso com os meus colegas. Eu respondi que não tinha me dirigido a ninguém, que ali era também um espaço para o debate e que se ela estava incomodada é que vestira a carapuça. Ela, colérica, afirmou que eu me sentia superior aos meus colegas, que tinha sido arrogante, enfim, que não deveria estar num espaço povoado pelas ostras. Foi uma discussão meio séria, pois a garota, possivelmente identificada com as minhas palavras, tomou como uma ofensa, mas era o que tinha a dizer, é a minha opinião. Fiquei mal por dois motivos, primeiro porque não gosto de me colocar ou comportar de maneira desdenhosa diante das pessoas, e depois também por sentir a tristeza que é notar pessoas, quase concluindo seus cursos, com a mentalidade submissa ao que está aí, recebendo informação sem questionar, sem trazer para as suas realidades docentes. Que engodo é a nossa educação (dita) superior.
São esses os velhos "Podres Poderes". É justamente isso que querem os "poderosos": uma população de universitários e profissionais novos comportando-se de maneira medíocre e estúpida, que se contentem com o preço vil de quantias individualizadoras em vez de formar pessoas e de exercer de maneira consciente ações éticas e efetivas numa etapa importante da existência delas. Se continuar desse jeito, o Brasil sempre será o país dos bobos governado por tolos. Afundamos todos assim na lama opaca e massenta que é a ignorância. Aliás, são esses tolos hipócritas que, envenenados, sabem manipular e articular os bobos que os defendem, qual parvos, sem saber que o estão fazendo. É engraçado, as pessoas não pensam no que estão lendo ou vendo... Não aguento. Hoje vi que eu não.
Por ter me colocado, passei a ser olhado meio de esguelha por alguns. É chato quando você, em algum momento, nota que não é unânimidade, mas é importante saber que você pensa, que raciocina e que tem coragem de colocar o que acredita. Fiquei trista, mas ao mesmo tempo orgulhoso por ter sustentado de maneira íntegra, talvez exaltada, o que vejo e não concordo, afinal é o destino do nosso país. Não quero uma superdosagem de conhecimento, quero tê-lo de maneira que ele possa curar problemas de visão, de respiração e de caminhar. Eu sou a Pólis!

sábado, 21 de fevereiro de 2009

O Feitiço e o Aço

Se em meio aos caminhos que me aparecem à frente, na minha infinda rota, eu pudesse contar o número de vezes em que pensei na possível perfeição do mundo-destino - que imaniza meus pés -, de fato, esqueceria o propósito de querer estar constante no trajeto. Isso aconteceria devido à grande quantidade de imagens que vêm e acabam indo depois de se chocarem com a parede concreta da realidade. A saber, o caminho é longo e a peleja é grande. Não sei se a frase pertence a alguém, mas não faz mal apropriar-me dela para expressar a alma.

Hoje, meu relato mora numa "semimelancolia", aquele sentimento que faz pensar - quando se é inteligente - ou dormir - quando se está fraco -, que sempre nos faz visitas nos momentos mais inoportunos. No meu andar, passei por um lugar onde uma manifestação, chamada Carnaval, acontece. Vi tantos sorrisos, tantos corpos, tanta efusividade que não houve como continuar sem ficar parado, prestando atenção ao que estava se passando, naquele verdadeiro momento apical do dionísiaco. Alguém me chamou para a folia. Fiz que não percebi porque eu e Dionísio nunca tivemos um relacionamento substancial, uma vez que, mesmo simpático, nunca me senti forte o suficiente para estar diante dele, de ouvir sua voz entorpecente; pelo contrário, preferi sempre a presença de Apolo, até mesmo neste mundo de apolos. Nesta farra generalizada o deus solar não me deixou dar atenção a quem me sinalizou porque me viu enfeitiçado, e para ele ou é ou não é: não existe meio termo, não existe ambigüidade, não se toleram dúvidas, não há linha de recalque. E a festa a continuar, as bandas e as fanfarras a passar e eu com o sisudo Apolo, vendo o que a todo momento sua voz racional me dizia, tudo aquilo acabaria na esquina que ceifava o caminho deliciosamente antropofágico daqueles patuscos, que aquela cena era como o capim que sempre estaria, por ser teimoso, mas que brevemente seria cortado pelos que prezam pela razão do harmônico e do belo. Aquilo não era belo. Só que o cheiro de vinho fresco é como mãos delicadas de gueixas cor-de-pérola-negra e, dessarte, mostra-se difícil resistir a suas carícias. Pois bem, me vi numa sofreguidão urticante de ser parte daquilo, afinal o doce das mãos femininas me hipnotizava e me fazia sentir um dependente convicto. Assim que me vi um pouco mais apartado da companhia iluminada apolínea, quis morder maçãs. Elas se mostraram todas e cada vez mais para mim. Fui abraçado. Mergulhei num sentimento intenso que fazia o mundo girar e minha respiração arfar num desejo insano de perambular e abraçar a tudo e a todos, e fazia, sabendo que o estava fazendo, naquela sensação de uma culpa lúbrica, que sempre me colocava olhando, mesmo que de esguelha, para Apolo. De repente ele também me fitou e entre as minhas vistas e as dele se desenhou um fio reto, do qual brotaram vertiginosamente blocos de pedra de onde saíam, em rasgos, vigas e vergalhões que se entrelaçavam, configurando sólida, em cima da vulnerabilidade da simples troca de olhar, uma ligação estabelecida entre suas retinas e as minhas. Era o caminho. Quando dei por mim, a esquina já devorara as últimas partes do animado cortejo e eu, concreto, me conformava em caminhar na direção da extremidade iluminada daquela estrada de pedra e de aço.