sexta-feira, 11 de maio de 2012

I Will Survive (num Trem para as Estrelas)

São sete horas da manhã. Poderia ser aquela música cantada pelo Cazuza, mas da minha janela não vejo o Cristo. Eu falo com ele, na verdade. Peço-Lhe calma. Peço-Lhe paz de espírito.

Ontem, eu explodi. Estava indo dormir cedo - depois da novela das sete -, quando, já prestes a lavar os pratos do meu jantar, percebi que o meu celular novo não estava reconhecendo os fones de ouvido. Eu só sei fazer as coisas ouvindo música. Eu estava já fazendo os planos para esta sexta-feira; pensava: "Amanhã, conseguirei ler, ou melhor, escrever alguma coisa para a minha dissertação. Com mais algum esforço, ainda concluirei as pendências, pois não haverá os mesmos empecilhos que se apresentaram durante toda esta semana. Para isso, acordarei bem cedo". Esse lindo castelo em construção até o aparente defeito do meu aparelho, o gatilho para a minha queda de ontem. 

Ontem à noite eu comecei a ficar irritado porque esta semana havia iniciado bem tumultuada no sentido de que todo o meu planejamento de tarefas foi bagunçado por algumas pendências referentes a exames. Eu, para o checkup do semestre, precisava entregar um último teste que deveria ser feito em duas etapas há algumas semanas. A minha nova empreitada de produzir a dissertação acabou por embaralhar as possibilidades de sair ou de realizar as tais duas etapas explicadas pelo laboratório. Deixei para lá, naquela oportunidade, tendo em vista que eu tinha de entregar coisas do curso que eram prioridade. 

A segunda-feira, então, começou. Eu acordei às seis da manhã, tomei banho e fui entregar a primeira parte do exame. Aproveitando a oportunidade de sair de casa - coisa que anda se mostrando extremamente rara nos últimos tempos -, resolvi passar no supermercado para comprar algumas coisas. O tempo foi inclemente, sem dar na vista, simplesmente, foi. Já em casa, ainda tive que preparar o café da manhã - que é um dos meus prazeres, i. e., elaborar uma mesa com frutas, cereal, pão, café, suco etc. Resultado: a manhã, quando devo fazer uma porção de coisas programadas, foi tomada por todas essas outras (as quais são realizadas bem no início do meu dia). Após o café, peguei algo para ler, mas não tive como finalizar bem a nem leitura nem fichamento. Na terça-feira, tinha a segunda parte do exame para deixar no laboratório. Previ que o dia provavelmente seria da mesma maneira e, portanto, fiz um acordo comigo mesmo de não ficar aflito. Acontece que o cara que divide o quarto comigo acordou mais tarde do que o comum (eu o espero ir tomar banho primeiro porque trabalha e sai cedo; dai, fico remoendo na cama, acordado, esperando ele entrar no banheiro para que eu não o atrapalhe, e também porque os meus banhos são verdadeiros comerciais do 'Lux Luxo' - hehehehe!), o despertador dele ficou tocando um monte de vezes - e ele nada de acordar (ou melhor, levantar). Vendo que poderia me atrasar para a entrega do exame, eu me levantei para ir ao banho. Ele, ao me ver, perguntou se eu ia tomar banho... Aff, que raiva! Disse que ele poderia ir antes de mim (porque de confusão eu estou correndo). Entrou, demorou uma vida e ainda voltou para fazer a barba (mereço???). E eu E-S-P-E-R-A-N-D-O. Resultado: saí correndo, quase atrasado porque, além do mais, dependo dos maravilhosos ônibus, que, vejo, têm um acordo anual de nunca estarem no ponto quando se precisa deles. Enfim, cheguei. Entreguei a última parte da pendência e passei mais uma vez no supermercado. Lá, foi a vez de o meu cartão testar a minha paciência. Não funcionou. Eu já fiquei com aquilo tilintando na cabeça, imaginando novos problemas - como coisa de ir a banco e ficar longos minutos esperando para ser atendido. Voltei para casa pensando. Chegando ao meu doce lar, aconteceu o que previ: todo o esquema do dia foi atrasado e piorado porque o pessoal de serviços gerais resolveu vir ajeitar uma infiltração naquela manhã. Quarto interditado, cheiro de tinta, poeira e eu sem mais uma vez poder pegar no livro ou no computador (sob o risco de sair como o Pluft de dentro do quarto). Quarta-feira, os queridos camaradas dos serviços gerais voltaram para dar a "segunda mão de tinta"... O 'caos' se repetiu, mas daquela vez fui safo: peguei uns livros e fiquei no sofá, tentando (deveria escrever com 'T') estudar. Ontem, o pessoal voltou para dar a milionésima demão de tinta. Eu no sofá Tentando estudar. O meu outro companheiro de quarto vendo a MTV e rindo. Meu Deus! Ainda, dali a pouco, teria aula e eu sem ter avançado o quanto esperava. Esperançoso, pensei ser hoje o dia de redenção, quando tomo o susto do celular. Ele me fez ficar uns minutos preciosos testando outros fones, indo para a Internet pesquisar assistência técnica, imaginando que no dia seguinte teria de sair novamente e, por conseguinte, atrasar - de novo, mais um vez - o cronograma de atividades desenvolvido. 

Analisando mais friamente, percebo que o episódio do aparelho, como disse, abriu as comportas de controle. Eu comecei a pensar porque justamente no dia em que eu poderia fazer as coisas sem empecilhos aparentes, a porra do meu celular se colocava como mais um motivo para eu não estar em casa, pegar  ônibus e complicar a minha rotina. Comecei a chorar pensando que estava dando tudo errado, até a me questionar sobre mim mesmo. Comecei, por exemplo, a dizer que eu era uma farsa porque não estava produzindo como deveria. Logo me vieram as imagens dessa casa onde estou, que por vida está desorganizada, suja e da desfaçatez dos outros dois, que parecem não dar a mínima para um espaço limpo. O meu companheiro de quarto está estranho, frio. Eu não estou bem no meu 'relacionamento'. Tenho saudades da minha mãe, de estar com ela, e até da comida dela. Ficava concomitantemente me dizendo "Pablo, tenha calma; se você se desesperar e tiver um troço, quem vai cuidar de você? Quem? Você não se abre tão facilmente com as pessoas, e elas têm a tendência de não perguntar também. Você depende de você mesmo para prosseguir, gato.", no entanto, não adiantava: desatava a chorar; em seguida, pensava no ridículo de estar chorando por um celular, depois, constatava que não era o celular, mas um conjunto de coisas, cuja existência, muita vez, não tinha relação com as minhas ações de forma direta. Chorei muito. De verdade. Pensava sobre o meu futuro, inclusive. "Se a única coisa que ocupa a minha vida atualmente de forma importante é o mestrado e eu nem consigo cumpri-lo competentemente, então, o que será de mim?",   cismava. Foi horrível ontem. Eu queria parar de chorar, mas, ao mesmo tempo, dizia a mim que eu precisava daquele momento. Conversava com Deus, dizendo-lhe que não queria isso de barganhar graças, pois eu abomino essa concepção cristã de culpa e castigo versus obediência e premiação; contudo sou ciente de ela ser parte de mim, como uma mancha na perna, que se pode esconder, mas que sempre estará lá (e ainda que apagada, será relembrada a cada lance de olhar).

Ah! Uma coisa engraçada. Na minha angústia de ontem, sonhei com coisas super estranhas. Em algum momento me vi viajando em uma van com Marisa Monte para uma espécie de formatura na qual eu seria um dos formandos. Na viagem, a cantora se comportou de forma fria e me dava várias cortadas; acho que até me chamou de chato. Depois, surgia uma grande tabela com o meu horário da UnB deste semestre em que eu via a palavra 'trancamento'. Divertido porque eu me acordei querendo ir à desforra com Marisa, cheio de raiva dela, até o momento do "é a Marisa Monte, Pablo!" - Hehehehe!

Sabe, eu penso às vezes que me cobro demais, mas o que fazer de diferente não está claro para mim. Não quero ficar dependendo da minha mãe. De acordo com a pessoa que encontro, estou constantemente reclamando, calado ou falando platitudes para afetar uma normalidade, um alheamento em relação a coisas do mundo. 

Precisava escrever porque não aguento carregar essas coisas. Eu permaneço desconfiando de tudo e de todos; cada vez mais, para mim, a vida e as ações de muitas pessoas do meu convívio giram em torno de uma espécie de script (incluindo a minha também), mas eu não quero participar conscientemente desse teatro de vampiros. Não sei se o Criolo está totalmente errado quando diz que "quem sorri pra ti quer ver tu cair". Não quero que as pessoas sejam condescendentes ou tenham pena de mim: já existem irritantes milhares que adoram se colocar como vítimas para amealhar 'graças'. Eu não. Recuso-me. Talvez esteja pagando por essa 'temeridade'. Eu não tenho mesmo nada a perder. Sigo ouvindo I Will Survive. Sobrevivendo.

terça-feira, 8 de maio de 2012

"É tarde! É tarde!"


Estou na hora do almoço. Ainda aquela neurose de tentar me adequar a um quadro de horários que formulei para mim. Esta hora, pela minha programação, é a única em que não tenho de estar lendo ou digitando alguma coisa.

Enfim, a despeito dessa pretensa organização, ando me sentindo mais perdido do que nunca. Sinto-me beirando a paranoia, pois sempre estou preocupado se dará tempo de cumprir o que está programado. Isso não está sendo algo do tipo 'estou aprendendo a ser organizado'; está mais para o coelho branco da Alice saindo do nada correndo para lugar nenhum. Eu sempre acho que fiz um quinto do que estava planejado. É horrível!

Isso tem acontecido porque estou querendo fazer um bom trabalho, escrever super bem, sabe. Quero acabar no tempo - quiçá antes. E nem estou conseguindo escrever. Não sai. Não pensei que fosse passar por isso. Não mesmo.

Ando irritadiço; sinto como se estivesse aéreo em meio a uma cachoeira - que como é de sua natureza - não cessa de trazer mais água. Com a água vêm um zilhão de objetos que me impedem de transpor a queda. Por exemplo, eu farei algo de que não estou muito orgulhoso, mas antes impelido pelo desespero: trancarei uma disciplina. Tudo bem que ela não está no rânquim das 'dez disciplinas mais bem ministradas de todos os tempos', mas desistir é algo que sempre mexe com os meus brios - de quem cumpre o que se empenha a fazer. Ainda isso. Mas não posso fazer 'a diva' nessa situação. Tenho que focar no meu trabalho de dissertação.

Sobre ele, fico me questionando diversas vezes sobre o porquê de isso estar acontecendo. Eu acho que nunca está bom o - pouquíssimo - que produzo, e nunca dá tempo. Nunca! Tipo, fico de duas a três horas remoendo duas páginas; logo acho que estou perdendo tempo e que poderia produzir algo mais com uma nova leitura, a qual implicará um fichamento, que, por sua vez, não terei tempo de concluir. U-m-a-m-e-r-d-a! Ora porque me canso e me levanto, ora porque preciso sair para suprir alguma necessidade fisiológica eu não consigo cumprir o planejado.

Tem sido assim. Dias não muito fáceis. Cansei de falar sobre isso. Vou ler algum texto.