segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Upside Down


Eu sempre pensei sobre a solidão. Na verdade, eu sempre me achei um cara solitário, não "só", solitário. Eu nem sei se existe diferença real e significativa entre os dois adjetivos: digo, apesar de estar constantemente rodeado de pessoas, eu, na maior parte das vezes, não estive ali com elas. Não era eu no meio do povo. A solidão era, de certa forma, uma construção romântica, algo meio "mal necessário" para a continuidade da minha diferenciação daqueles que considerava "medíocres". Era nos momentos de solidão que conseguia escrever melhor, compor poemas interessantes e conversar mais comigo.

Por conversar tanto comigo, embarquei em uma empreitada ousada para os meus parâmetros de menino overprotected e exemplar (...). Estou bem no meio dela. Amanhã começará, para mim, a reta principal do mestrado e - certamente por causa das pressões que já arrumei para mim mesmo nesse segundo semestre - já me vejo descolorido. Faz três dias que cheguei a Brasília e esse pouco tempo tem sido complicado (...). É  bastante provável que isso tenha muito a ver com a minha recentíssima temporada em Aracaju, sei lá... 

Uma amiga ligou para mim quando eu já estava aqui; conversamos sobre algumas coisas relacionadas a vida: carreira, família, amor etc. Durante o papo, observei o quanto a situação era curiosa. Eu dizia a ela que não estava muito bem, que sentia falta de estar com todas as pessoas que me deram tanto calor, tanta atenção, contava que era muito ruim chegar em casa e ver paredes e, em consequência, dar bom-dia a elas. Minha amiga me falava sobre o quanto andava acossada pelo trabalho, pelas obrigações que já assumia e por conta de um antigo namorado. Devido ao rumo não muito alegre pelo qual a conversa estava indo, resolvi "fazer justiça" e reconhecer que nem tudo estava mal. Notei, então, a peculiaridade daquele momento - algo tão humana, aliás. Enquanto eu - na minha ladainha da gratidão - remoía estar bastante feliz por ter passado no mestrado e por estar morando em uma casa limpa e organizada, ela me dizia o quanto estava ansiosa por comprar o seu primeiro carro. Eu lhe dizia que queria estar na posição dela, ou seja, trabalhando, pagando (com dinheiro próprio) as minhas contas, tendo o meu carro; ela, em contrapartida, respondia a mim que adoraria estar no mestrado. "Que louco", eu pensava! Hehehe!

Outrora, eu imaginei que estando só, as coisas seriam mais fáceis no sentido de conseguir "tudo" o que quero, mas observo, agora, que não é bem assim que a banda toca. Na boa, ando cansado de ficar falando "ai, como eu sou lindo e feliz por ter passado na UnB!". Em algum tempo vai soar forçado (como já sinto que está, pelo menos para mim). É aquela coisa de autocomiseração disfarçada de autoafirmação, que, no final das contas, tem muito a ver com a insegurança de seguir. O passado - feliz ou infelizmente - deve ser lembrado, não insistentemente vivido, como em um desejo infantil de botar para funcionar algo que já não responde. A vida é agora. Neste momento, gostaria de estar diferente do modo que estou, mas até que ponto esse sentimento é real? Talvez se eu estivesse no lugar da minha amiga (com trabalho, carro e um amor) eu iria desejar estar na posição em que estou agora (longe de casa, vendo outro mundo, num mestrado fora e desimpedido), ou talvez estivesse mesmo feliz pelas coisas conquistadas.Vai saber! Pablito aqui não sabe, isso é foda, mas o que posso fazer? Eu respondo: aprender. Aquele papo de a grama do vizinho ser mais verde parece se aplicar bem a isso, mas não posso viver de olhar o jardim dos outros o tempo todo.

O fato é que estar sozinho dói, mas sinto ser também importante. Tem sido para mim assim. Acontece que algumas vezes desmorono, parece que vou me descontrolar; em outras, quero tudo para já: coisas típicas de quem sempre teve o que quis de modo relativamente fácil. Vejo, assim, que o mundo (cheio de pessoas diferentes nas suas solidões) não funciona sob regências individuais; em alguns momentos é forçoso esperar, pois certos assuntos estão além do controle, do meu, por exemplo. Creio que estar só tem me mostrado o alcance do meu poder diante das coisas do mundo.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Jardins Suspensos

Acabo de vir de um encontro com uma irmã de alma. Eu me sinto tão feliz! Esta é uma daquelas postagens que, conforme o meu atual ânimo, remetem-me a uma sensação de proximidade daquilo que chamam de amor.

Desde a última vez que vim a Aracaju, não me lembro de ter me sentido tão bem como estou me sentindo agora. São dez dias que terão o seu último dia "útil" (quando ainda poderei sair despreocupado) na sexta. A cada momento que passo dentro ou fora de casa sinto uma sensação tão boa, tão gostosa e, ao mesmo tempo, meio melancólica. Lembro-me de que esta é a terra onde nasci e cresci, mas que ainda é pouco familiar a mim. Na verdade, eu não estou pronto para voltar definitivamente para cá. Aliás, essa foi outra coisa que me chamou a atenção: o fato de eu amar este formoso lugar bagunçado, pequenino e algo tacanho chamado Aracaju, mesmo não me sentindo encaixado nele.

Os meus amigos estão aqui. Como é bom senti-los por meio de um amor diferente, um de pessoas que acompanharam alguns passos da minha vida, não todos, mas o suficiente para me oferecerem estrutura firme (em abraços confortadores e emocionados). Os amigos que estiveram comigo nesses últimos dias deram a mim a constatação de que não estou neste mundo (de) concreto sozinho, que posso contar com eles e que - o mais incrível - sou importante para as suas vidas também. É um presente, um jardim dado a mim tal qual os Suspensos da Babilônia.



A família é um episódio à parte. A minha mãe, como já previsto, levou-me para visitar um lado da família da qual tenho orgulho devido à força, simplicidade e leveza no viver a vida. Como sou abençoado por tê-los, agradecido pelos abraços, palavras e expressões de admiração quando conversamos, por exemplo, sobre eu ter visitado um lugar onde não estiveram. Coisas difíceis de descrever, feitas para serem apenas sentidas na experiência. A satisfação por ver meu pai com saúde e animado fazendo as mesmas perguntas do tipo "E Brasília, meu filho, tá gostando?" (hehehehe!). Eu respondendo a ele a mesma coisa, com algumas variações verbais. A minha irmã brandamente preocupada com o futuro, enfurnada no quarto e rodeada pelo seu computador, livros de direito e fotos do namorado e dos amigos: tão bonita. E a minha mãe fazendo tudo para mim, deixando de lado o fato de que ela sempre faz tudo para mim (e por mim), escondendo as palavras saudosas e buscando não se emocionar quando lhe digo o quanto a amo por tudo o que ela faz e é por mim e para mim... Os velhos muros da minha casa... Lá dentro, como sempre, as coisas em cima da mesa central; ela toda impregnada de passado e presente. O meu quarto cheirando a lembranças...

Depois de amanhã, terá prosseguimento a minha jornada rumo a... ah! a algum lugar diferente da realidade fantasma que vislumbrei na minha mente de vinte e poucos anos. Com a minha amiga, hoje, conversei sobre como são incríveis os contornos tomados pela vida da gente; como é importante preservar o que nasce lindo e saudável. Eu sinto o que ela me disse: estou num caminho certo, pois tenho pessoas como ela por perto, que não fuzilam os encontros com ironias e questionamentos tolos, mas escutam e dialogam: fazem questão de mostrar que ali existem dois seres com luzes diferentes e, em simultâneo, complementares. A concretização do que há de mais belo. Eu aprendo muito com a amizade. É concreta a sua imprescindibilidade.

Agora preciso de estar centrado, atento e paciente (...). Tenho de cultivar as flores que compõem o meu Jardim, tão raro, repleto de belezas; regá-lo com poesia e adubá-lo com sementes importadas de cuidado.

domingo, 21 de agosto de 2011

Ligeiro

É domingo e eu estou em Aracaju. Mais uma viagem, uma viagem mesmo. Quando no avião, ficava pensando sobre voltar, sobre a minha vida aqui, sobre o que eu iria ver etc.

Tudo começou pela minha casa. Não faz um ano desde que vim da última vez para cá. Ver meus pais pessoalmente é algo que não consigo descrever, depois meus amigos e, finalmente, dar-me conta de que estou onde está toda a minha vida - com seus pontos altos e baixos - tem sido incrível. Aracaju para mim mudou. Estar longe de casa fez com que eu visse diferenças diversas das que estou em contato todos os dias em Brasília: por exemplo, o fato de as pessoas serem tão familiares a mim, acolhedoras, tanto que certas coisas, cuja existência me davam irritação, de algum modo, tornam-se agora engraçadas e folclóricas. Até mesmo a bagunça do trânsito e o tumulto das ruas trouxeram para mim recordações de um tempo que, por incrível que pareça, não faz tanto tempo assim.

Uma das coisas que tem me dado mais alegria é encontrar os meus amigos. Caramba, como é bom encontrar  quem a gente gosta e gosta da gente! Vixe! Eu agradeço(...). Queria escrever mais, mas tenho que sair para a casa de uns amigos. Quero aproveitar a minha Aracaju da melhor forma até o dia de voltar.

Ah, voltar...

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Tanto Mar


Acabo de acordar. Faz três dias que voltei ao Brasil depois de uma curtíssima temporada (de dez, ou melhor, nove dias) em Lisboa. Para falar a verdade, não foram "férias na Europa", tendo em vista a participação em um congresso que tomou boa parte da minha atenção e ânimo durante cinco dias. Assim, nos quatro restantes, não consegui ver tudo o que tinha de ver.

Acredito, no entanto, que valeu muito a pena. Lisboa me surpreendeu positivamente. Ah! Como eu precisava de ser surpreendido de uma forma boa. Eu fico feliz pela oportunidade de ter saído um pouco do lugar onde estou. Eu sei, isso é o que se chama ser inconstante. O fato é que era necessário um novo mergulho para voltar à superfície renovado. E é sobre isso que este texto e esse meu retorno têm a falar.

O congresso em si não teve para mim tanto destaque (achei a bolsa horrenda! hahaha!), pois o que queria mesmo era apresentar os meus trabalhos e conhecer a cidade (#prontofalei). O primeiro trabalho, cuja importância era menor do que o outro, foi muito bom, quer dizer, "funcionou". O segundo foi terrível: na plateia (mirrada) havia um daqueles que adoram contestar detalhes e a partir deles criar uma arena de combate. A sorte estava no fato da presença da minha orientadora ali, que se saiu muito bem na argumentação, deixando-me tão orgulhoso de ser seu discípulo. Tenho mais é que corresponder a tanta competência, sendo-o também. 

Sobre a Terrinha. Lisboa, para mim, nos primeiros três dias, mostrou-se um lugar bonito, mas acabou me dando um gosto de repetição pela grande quantidade de coisas históricas, tais como castelos, museus (na maior parte, pagos) e estátuas de nomes consagrados por uma tradição europeia secular. Conheci uns tantos castelos, mas não me empolguei a ver mais deles. O clima estava de verão no nordeste. Terrível para mim: andava um pouco e já estava suando em bicas. Por outro lado, a gente lisboeta é muito atenciosa e algo pitoresca, especialmente, os taxistas. As ruas são movimentadíssimas: carros e pessoas trafegam constantemente em um trânsito um pouco confuso para mim - acostumado a Aracaju e a Brasília. À noite, a cidade não para, é claro. Numa verdadeira babel, turistas circulavam e tiravam tantas fotos, riam e fumavam. A cada esquina, era possível ver aquelas marcas do shopping que a gente olha de canto de olho devido aos preços. O que gostei mesmo de lá foram os metrôs - chamados por eles de "metro" - por causa da facilidade de locomoção entre as estações - muito bonitas, por sinal, nas cores (linhas) azul, verde, amarela e vermelha. Ficaria facinho um mês ali - hehehe!

Agora voltando ao Brasil. 

Desde antes da viagem, andava observando que as coisas estão caminhando para mais uma fase. Acredito que agora é a minha "terceira temporada" aqui em Brasília, o que é algo bom, mas, em simultâneo, bastante pesado. Sinto que este é o momento para consolidar planos, provavelmente, o tempo com o qual sonhei e que me fez sair da minha casa. 

Não quero com isso me entupir de expectativas. Algumas coisas têm acontecido e me apontado possibilidades. Sim, elas, as possibilidades, de que reclamo tanto, mas que, ironicamente, são as coisas que tenho de concreto. Quero dizer que talvez esteja chegando o tempo de deixar de ser virtualmente vivo, de viver em meio aos sonhos, começar, de fato, uma vida minha - coisa que já dei início ao pisar em Brasília.

Feeling Good
Hoje estou na casa de umas pessoas que me ofereceram ajuda, mesmo sem sermos "os velhos melhores amigos de infância". É impossível para mim não atribuir isso a Algo Maior, pois quando se está só, de alguma forma sob a sua própria responsabilidade, coisas e situações, anteriormente corriqueiras, passam a assumir novos contornos. Observo diversos novos contornos e, muitas vezes, vejo-me chorando por tudo o que está acontecendo comigo: um menino, agora homem, que luta para se segurar em meio a terremotos internos, alguém que tenta preservar e recolher as partes que o formam a fim de compreendê-las de fato. 

Estou em um momento novo. É mais uma parte do meu ciclo de evolução. O que sei é da minha necessidade de aprender cada vez mais. Caio tantas vezes, mas, com um apoio especial, eu me refaço. É incrível viver!  

It's a new day, it's a new dawn...