domingo, 22 de abril de 2012

Fora de área


Acabo de passar um final-de-semana indescritível. Eu fui com o meu amor para uma chácara afastada de tudo. Foi como se estivéssemos em um universo paralelo. Eu, definitivamente, precisava disso.

Como falei nas últimas postagens, as coisas andam bem intranquilas na minha cabeça, no entanto não vem ao caso lembrar disso agora. Resolvi passar aqui para registrar esses dias.

Eu fiquei muito feliz porque estava entre iguais, entre pessoas que não são iguais. Eu durante esses dias pensei sobre aquilo, sobre a loucura desse mundo que separ pessoas, mas que estas encontram estratégias para driblar os constrangimentos. Isso me dá menos medo. Ver que há pessoas iguais amim e que há ainda aquelas que não reforçam o tolhimento de existir exercido por outros que se acham os donos da 'verdade'. Estou falando laconicamente porque ainda estou aprendendo a ser do segundo tipo de pessoa. Foi para isso que também resolvi investir na Estrada. Não quero ter de me esconder como medo ou vergonha de ser quem eu sou, com todas as minhas peculiaridades.

Eu me sinto - ao contrário da outra postagem - feliz por estar vivendo as coisas que estou vivendo. Eu, como neste momento, penso não ser clara a minha razão de estar nesta vida, mas, ao mesmo tempo, sinto que estou aqui para viver; viver, sabe, para aprender bastante. Para quê? Não sei. Eu não sei de nada, mas vou andando, seguindo realmente as minhas metáforas. Ser quem eu sou. E eu nem sei tão bem assim  quem  eu sou. Também não sei quem sabe, não é.

Agora estou no ônibus, indo para o hotel. Segunda-feira volta tudo ao normal. É tão esquisito saber que este "normal" é mais um pedaço de algo não concreto do qual depende, em tese, a minha vida. Hoje estou ainda no meu universo paralelo. Que bom.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Aéreo


Agora, estou em um voo. Indo para Campinas. A minha cabeça super cheia. Faz algumas semanas que estou assim, meio aéreo, às vezes desmotivado. Dia desses até chorei. Alerta!

Acho que ando cansado. Na verdade, atribuo esse desequilíbrio a algum processo de estafa, inicial, talvez. Acontece que entre os meus colegas e amigos da universidade anda circulando a 'paranoia da dissertação'. Todos só falam no quanto estão atrasados na escritura do trabalho de mestrado. Eu, que nem comecei de fato, contagio-me e fico tenso, pois, além de presenciar esses campeonatos de 'eu-tô-pior-que-você', ainda me vejo aflito toda vez que ouço a minha orientadora, pois penso saber o insuficiente, ou nada. Putz! Isso acaba comigo.

Ultimamente, nas aulas de preparação para a dissertação, eu estou voando mais do que pipa na Esplanada dos Ministérios. Eu não ando entendendo o que a minha orientadora fala nem o que ela quer e, apesar de ter elaborado um plano de estudos bem organizado (com vistas a um bom trabalho de dissertação), nunca consigo realizar as tarefas que são solicitadas por ela de modo completo. Então, chego à aula com a leitura/atividade inconclusa, sou convidado a participar das discussões mas não me sinto à vontade para contribuir. Fico me questionando se algum dia eu entenderei as coisas como elas devem ser entendidas. Não quero fazer um trabalho acadêmico e ganhar um título apenas: quero ser um profissional de excelência no que faço. Mas não está rolando.

Esta é a segunda semana de 'implementação' do meu plano de estudos. O que tenho mais feito é fichar textos, e nem isso eu consigo finalizar. Eu fico tão desanimado. Não que a 'culpa' seja minha - visto que venho me esforçando para me disciplinar (tenho acordado diariamente às 6h para ir para a biblioteca e só volto às 20h, por exemplo (como fazia na época da seleção de mestrado)) -, cabe dizer que os textos são complexos, e eu não consigo atrelar claramente a minha pesquisa à teoria que estou lendo. Fico mal com isso.

Com isso, outro ponto problemático se desenrola. Entro em uma espécie de crise de identidade em relação à meu trabalho. Uma vez que ando lendo para fichar, sinto-me como se estivesse fazendo um dever de casa para entregar à professora, ou seja, é como se eu estivesse cumprindo uma espécie de praxe, como na época da escola nas aulas de português (que eu até gostava, mas que era uma recorrência mais agradável em relação às demais). Eis o problema: não dou conta de completar leituras e fichamentos em tempo hábil, o que me toma horas para problematizar as leituras, e que, por sua vez, deixa-me impotente quando da apresentação de definições importantes para a minha pesquisa. É o caos. Tenho medo de essas coisas atrapalharem o processo de construção das minhas atividades ligadas ao mestrado.

Ao mesmo tempo em que me vêm essas questões, sinto-penso que o meu tema de pesquisa - a situação de rua - é tudo o que eu gostaria de me deter. A minha ideia para o mestrado era a de fazer algo relevante para mim e para o meu País; depois, observando esse mundo, aprendi a ver o quão necessário é lutar junto com o meu povo. O meu trabalho, assim, trata de algo relevante para o Brasil, além de ter o meu povo como o mais afetado. Daí, no entanto, vêm as teorias, as epistemologias, as metodologias etc. E eu preciso (pensei em usar 'devo', mas não quero tornar isso uma obrigação) dominá-las, mas bem mais do que para mostrar a outros que detenho o poder do conhecimento em determinada: elas são ferramentas para que a mudança possa acontecer. É terrível isso, pois, como já disse, eu me sinto fraco em relação a elas.

Unem-se a essas inquietações questões relacionadas a mim, ao meu futuro. Penso nos meus pais, no tempo em que não estou com eles, penso em suas horas indo e eu 'ainda' sem dar-lhes uma vida sem mais preocupações. Eu sei que isso tem pouco fundamento, pois eles vivem super bem, mas queria dar mais a eles. Penso, em determinados momentos, que isso é, em boa medida, algo mais para mim, para a minha vaidade do tipo "ele conseguiu. Venceu.". Penso que, talvez, esse "mais" não lhes seja tão necessário e que eu o construo, quiçá, para que tenha um propósito para fazer as coisas, para, de algum modo, sobreviver em um mundo agridoce. Isso também me entristece, pois até quando elegerei representações para erguer a construção da minha vida?

Enfim, são coisas que preciso organizar. Apenas eu posso fazer isso por mim. Tem sido assim. Vejo-me perdido porque, conforme a ordem das coisas, eu mesmo tenho de encarar os meus demônios; o que me dói e ter de me atracar em combates que parecem transcender o meu controle. Não estou reclamando, mas tentando entender o que está acontecendo.

Está difícil - but I will survive.

sábado, 7 de abril de 2012

Guerra Fria

Ontem foi sexta-feira da Paixão. Feriado. Brasília estava como está hoje, com cara de final-de-semana. Como foi dia útil, eu deveria ter estudado, seguido uma tabela que desenhei para mim para conseguir levar a cabo o meu mestrado. Enfim, eu comecei a escrever este texto ontem (como está marcado com a dêixis temporal - hehehehe! :( ) porque já estava me sentindo estranho.

Eu não sei. Acho que uma vibe estranha está passando por algumas regiões do planeta, pois um monte de gente que conheço está passando por situações complicadas: término de namoro, falta de grana, aflições relativas a trabalho etc. Eu sinto isso porque não estou muito tranquilo esses dias. É o que me faz voltar aqui, para que possa, de alguma forma, extrair de mim essas coisas chatas e vê-las de perto, examiná-las.

Há algum tempo estou enfrentando coisas meios chatas. Tem acontecido aqui na minha nova casa. Eu convivia com mais três caras, atualmente são dois. Desde o início vi o quanto seria complicado lidar com alguns comportamentos que observei em visitas antes da mudança efetiva. Eles são muito negligentes com limpeza, com contas, com uma porção de coisas que aprendi serem importantes - no sentido de se ter uma boa convivência social (uma coisa que observo hoje). São fatos que me atingem diretamente porque estou vivendo em no lugar; então, na maioria da vezes, vejo-me lembrando (que é preciso ser limpo para, por exemplo, evitar insetos andando pela casa) ou exigindo (que tenham atenção ao usar o banheiro no sentido de não deixar o chão sujo de lama) obviedades, pelo menos, para mim. O resultado é que não me sinto bem com isso, pois não gosto de me colocar como mais do que ninguém, ou seja, mais organizado, mais responsável, mais atento às coisas etc. Eu devo ser assim, mas para mim e somente para mim. Tenho muito medo porque eu já tenho uma veia megalomaníaca, algo que sei que existe em mim e que venho tentando dominar, distraindo-a aos poucos. É como um monstro que está dentro de mim, com algum custo eu consigo dar-lhe bolas com guizos para deixá-lo ocupado, mas eu sei que a qualquer deslize ele pode tomar conta da situação. Atitudes como as que andam ocorrendo (de eu normatizar as coisas na casa e de ver-me "acima", diferente daqueles dois que parecem ter o mínimo necessário de civilidade) dão um alimento que aumenta a força desse monstro. Fico triste por às vezes sentir que estou perdendo o controle e por sentir que isso me levará por um caminho perdidoso.

Então, fico pensando se devo sofrer assim sozinho. Minha mãe nos educou de forma a sermos pessoas aptas ao ótimo convívio social: precisávamos deixar casa e quartos arrumados para uma entidade imprevisível chamada "alguém", amiúde referida como visita. Sempre recebi elogios pelo modo cortês com que me dirigia às pessoas e como lidava com situações acres. Aprendi que ser assim me abria caminhos. Gostei. Hoje, longe de casa, e do meu reino, observo existem coisas na vida que não se consegue resolver por meio da elegância e dos bons-modos. Isso está me matando, pois é como se precisasse aderir a um comportamento extremamente desagradável, que abomino quando o vejo nas pessoas. Entrar em discussões, gritar, ser bruto são coisas que a minha mãe sempre evitou fazer e eu, por tê-la como meu referencial, assimilei.

Falo dessas coisas porque estou observando que precisarei ter de deixar esses traços principescos para começar a ter comportamentos mais contundentes, na verdade, contundência não define bem o que terei de aprender a ser. Vejo que as pessoas parecem não ter atenção ao quanto as suas ações influem na vida das outras. Elas parecem viver neste mundo sozinhas ou com aqueles de quem gostam (o que exige delas um pouco mais de cuidado). É como aqui em casa, que se transfigura em um verdadeiro microcosmo: alguém come; deixa talheres, pratos e panelas sujos dentro da pia e não atentam que - uma vez que dividem o apartamento - outra pessoa poderá precisar daqueles utensílios; ou, ainda, colocam o único pano de prato da casa para lavar deixando-o por mais de duas semanas dentro de um balde de água parada (que logo se torna fétida e mais sujará do que limpará o tecido). O que devo fazer, visto que me incomoda profundamente ver coisas assim? Ir lá, tirar e lavar? Perguntar pela quinta vez quando a pessoa que se propôs a lavar o pano terminará a ação, e ouvir indiretas ou respostas grosseiras? Eu não sei. É complicado. Tem sido bastante complicado.

Resolvi que adotarei a estratégia de batalha. Não fugirei mais dos conflitos se eles se apresentarem. Talvez, tudo isso seja para que aprenda de uma vez por todas que não alcançarei o consenso, que a vida é lutar, brigar pelas suas posições quando elas são invadidas. Eles sabem que me sinto incomodado quando vejo coisas extremamente sujas e ainda assim o fazem, se assim acontece, eu não ficarei mais evitando entrar na minha própria casa para não ter de encarar visitas que se convertem em moradores fantasmas (mais um presente de um dos que dividem a casa comigo). Não aguento mais ficar calado diante dessa situação e se for para brigar, vamos à luta! 

Em algum momento eu terei de aprender.