sexta-feira, 20 de abril de 2012

Aéreo


Agora, estou em um voo. Indo para Campinas. A minha cabeça super cheia. Faz algumas semanas que estou assim, meio aéreo, às vezes desmotivado. Dia desses até chorei. Alerta!

Acho que ando cansado. Na verdade, atribuo esse desequilíbrio a algum processo de estafa, inicial, talvez. Acontece que entre os meus colegas e amigos da universidade anda circulando a 'paranoia da dissertação'. Todos só falam no quanto estão atrasados na escritura do trabalho de mestrado. Eu, que nem comecei de fato, contagio-me e fico tenso, pois, além de presenciar esses campeonatos de 'eu-tô-pior-que-você', ainda me vejo aflito toda vez que ouço a minha orientadora, pois penso saber o insuficiente, ou nada. Putz! Isso acaba comigo.

Ultimamente, nas aulas de preparação para a dissertação, eu estou voando mais do que pipa na Esplanada dos Ministérios. Eu não ando entendendo o que a minha orientadora fala nem o que ela quer e, apesar de ter elaborado um plano de estudos bem organizado (com vistas a um bom trabalho de dissertação), nunca consigo realizar as tarefas que são solicitadas por ela de modo completo. Então, chego à aula com a leitura/atividade inconclusa, sou convidado a participar das discussões mas não me sinto à vontade para contribuir. Fico me questionando se algum dia eu entenderei as coisas como elas devem ser entendidas. Não quero fazer um trabalho acadêmico e ganhar um título apenas: quero ser um profissional de excelência no que faço. Mas não está rolando.

Esta é a segunda semana de 'implementação' do meu plano de estudos. O que tenho mais feito é fichar textos, e nem isso eu consigo finalizar. Eu fico tão desanimado. Não que a 'culpa' seja minha - visto que venho me esforçando para me disciplinar (tenho acordado diariamente às 6h para ir para a biblioteca e só volto às 20h, por exemplo (como fazia na época da seleção de mestrado)) -, cabe dizer que os textos são complexos, e eu não consigo atrelar claramente a minha pesquisa à teoria que estou lendo. Fico mal com isso.

Com isso, outro ponto problemático se desenrola. Entro em uma espécie de crise de identidade em relação à meu trabalho. Uma vez que ando lendo para fichar, sinto-me como se estivesse fazendo um dever de casa para entregar à professora, ou seja, é como se eu estivesse cumprindo uma espécie de praxe, como na época da escola nas aulas de português (que eu até gostava, mas que era uma recorrência mais agradável em relação às demais). Eis o problema: não dou conta de completar leituras e fichamentos em tempo hábil, o que me toma horas para problematizar as leituras, e que, por sua vez, deixa-me impotente quando da apresentação de definições importantes para a minha pesquisa. É o caos. Tenho medo de essas coisas atrapalharem o processo de construção das minhas atividades ligadas ao mestrado.

Ao mesmo tempo em que me vêm essas questões, sinto-penso que o meu tema de pesquisa - a situação de rua - é tudo o que eu gostaria de me deter. A minha ideia para o mestrado era a de fazer algo relevante para mim e para o meu País; depois, observando esse mundo, aprendi a ver o quão necessário é lutar junto com o meu povo. O meu trabalho, assim, trata de algo relevante para o Brasil, além de ter o meu povo como o mais afetado. Daí, no entanto, vêm as teorias, as epistemologias, as metodologias etc. E eu preciso (pensei em usar 'devo', mas não quero tornar isso uma obrigação) dominá-las, mas bem mais do que para mostrar a outros que detenho o poder do conhecimento em determinada: elas são ferramentas para que a mudança possa acontecer. É terrível isso, pois, como já disse, eu me sinto fraco em relação a elas.

Unem-se a essas inquietações questões relacionadas a mim, ao meu futuro. Penso nos meus pais, no tempo em que não estou com eles, penso em suas horas indo e eu 'ainda' sem dar-lhes uma vida sem mais preocupações. Eu sei que isso tem pouco fundamento, pois eles vivem super bem, mas queria dar mais a eles. Penso, em determinados momentos, que isso é, em boa medida, algo mais para mim, para a minha vaidade do tipo "ele conseguiu. Venceu.". Penso que, talvez, esse "mais" não lhes seja tão necessário e que eu o construo, quiçá, para que tenha um propósito para fazer as coisas, para, de algum modo, sobreviver em um mundo agridoce. Isso também me entristece, pois até quando elegerei representações para erguer a construção da minha vida?

Enfim, são coisas que preciso organizar. Apenas eu posso fazer isso por mim. Tem sido assim. Vejo-me perdido porque, conforme a ordem das coisas, eu mesmo tenho de encarar os meus demônios; o que me dói e ter de me atracar em combates que parecem transcender o meu controle. Não estou reclamando, mas tentando entender o que está acontecendo.

Está difícil - but I will survive.

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