domingo, 30 de março de 2008

22 = 8

Tarde cinza. Não chove, não faz sol, não faz nada. Tudo está tão parado como na exata ocasião duma espera ou duma chegada. Um momento típico daqueles quando se está parado na ânsia de aquela pessoa chegar depois de muita expectativa e então você se percebe parte de um instante congelado, no qual o tempo não passa, não chove, não venta, não acontece absolutamente nada. Apenas você e sua vontade. Até aqui, nesta espécie de bolha, não se corre risco nem se sabe mais o que venham a ser problemas porque conceitos estão fora de onde você está, porém tudo muda quando quem se espera irrompe no espaço, e você, no fundo, depois do pocar do glóbulo de vácuo, não sabe de mais nada do que está por vir, é a partir daí que começa tudo e novamente não se nota outras coisas além do seu medo da sensação de impotência que se está sentindo, pois é desconhecido o que é você quando o envólucro se rompe. Pois hoje ela surgiu, eu não a conheço, mas já se apresentou necessária porque sabe e me faz saber que sem sua presença não haveria mais vida, apenas um momento de estância, um conjunto de lembranças, que num futuro estarão apenas presas a imagens, traços de algo que um dia foi. Mas assim como trouxe o susto, trouxe também a noção de inesperado e, desde então, eu sinto que não tenho mais medo porque – depois duma seqüência de outras visitas (que se revezavam de ano em ano) – vejo que hoje, a sua chegada, vem no intuito de me deixar mais forte pra enfrentar o que tenho de encarar, pra, inclusive, me mostrar que mais uma vez eu recomeço a viver, a crescer, a ser outro, pra dessa maneira me conscientizar que há tempos e dias atrás eu, que me exigia tanto e que vivia numa linda e aparentemente perfeita terra de menino curioso e descobridor, já tenho de perceber que chegou o hoje e que ela o trouxe junto com algo mais nas mãos. Seu regalo me deixou instigado e de forma ainda pueril quis saber o que havia ali dentro. A meu pedido ela não se fez de rogada e sutilmente me estendeu seus longos braços para que eu pudesse saciar minha curiosidade. Vi então que embaixo de bolinhas coloridas, figuras de cores mil parecidas com florezinhas, palhacinhos, havia um pedaço de espelho e ao fixar meus olhos nele um mundo explodiu diante de mim e pronto eu estava numa viagem de coisas e sentimentos e ações que pululavam em grupo diante de meus sentidos...

Reflexo. Olhos. Marcas. Susto. Medo. Dúvida. Menino. Mudança. Pavor. Sozinho. Lágrimas. Olhos. Procurar. Amigos. Procura. Iguais. Encontra. Espelho. Vazio. Um. Indefinido. Pergunta.

Quem? Respostas. Onde? Nowhere... Eu. Dúvida. Quem? Duvidar. Por quê? Sabe sim. Sabe não. Sabe nada. Ceticismo. Eu. Outra vez. Só. Não. Luta. Força... Cair. Levantar. Vai!

Entende. Foge. Volta. Caminha. Trabalha. Ganha. Enxerga. Desgosta. Sai. Pensar. Questões. Pra quê? Perder. Se... Zero. Condições. Eu. Perdido. História. Recomeçar. Amiúde... Reticências...

Garota. Cintura. Cabelo. Leãozinho. Tropical. Ousadia. Sexo... Amor. Onde? Somewhere. Acaba. Procura. Encontra. Dor. Cabeça. Tronco. Membros. Plástica. Literatura. Lingüística. Filosofia. Lógica.

Futuro. Abertura. Expressões. Mil e uma. De novo. Vai conseguir. Cansaço. Fôlego. Ouvir. Vento. Gal. Fatal. Desbunde. Novo. Elis. Feliz. Trem. Azul. Viagem. Encontro. Solidão. Silêncio.

Milton. Travessia. Eu. Busco. Dormir... Acordo. Sol. Rosto. Música. Baby. Preciso. Precisar. Quê? Quem? Onde? Justificativas. Beleza. Preciso. Comer. Mito. Deglutir. Caetano.

Regurgitar. Abaporu. Enorme. Casa. Família. Construção. Refazendo. Tudo. Amar. Incógnitas. Multiplicador. Mente. Entorpecido. Verdade. Confuso. Hoje. Dois. Vezes. Seleção. Futebol. Indiferença. Grupo.

Chico. Unicidade. Science. Rompante. Raul. Errante. Gil. Afro-brasilidade. Raiz. Gersiney. Viajante. Em. A. Estrada. Pablo. Eu. Ajuda. Santos. Luz. Caminho. Vida... Já!


(Olhe pra cima, deite e rume ao infinito...)

domingo, 16 de março de 2008

Grito

Hoje mais uma vez entrei no Trem. Apaguei as luzes e comecei a sentir mais. Por que somos assim? Não entendo. Não mesmo. Tem algum tempo que não escrevo, na verdade, amanhã fará um mês exato. Só escrevo e faço as coisas quando tenho vontade. Agora tem sido assim. Venho observando muitas coisas e me entristecendo bastante com as pessoas, pois vejo que cada punhado de dia, de tempo qualquer que passa elas vão se modificando. Não quero dizer que sou contra mudanças, mas sim que é direito meu o de reclamar quando qualquer coisa me afeta, e isso tem me afetado deveras. Por mim, o mundo inteiro poderia mudar, menos aqueles que cruzaram meu caminho e me marcaram de alguma forma. Durante esses últimos dias venho lendo sobre alguns temas ligados à Filosofia e tem um pensador grego, o caro Heráclito, que dizia das coisas serem uma eterna tensão contrária necessária para a harmonia do todo, vejo que é bem provável a veracidade disso e eu é que talvez ainda não queira perceber de fato. (In)felizmente tudo muda, tudo tem de tomar novos formatos, rótulos ou desaparecerá, não é a lógica? Não é a razão? Não são essas as palavras de ordem atuais? Não quero concordar, mas enfrentar Rodas Vivas e manter-se intacto é muito difícil. É como andar na beira de uma praia, ver um mar que você não quer entrar, mas que te puxa, às vezes lentamente, às vezes rápido, mas que te assusta porque, de repente, você já não se vê onde estava. Creio que o real problema é dar-se conta disso durante o processo, é o que atemoriza de verdade. Vejo muitos, converso com poucos e me sinto cada vez mais estranho, um traço de como se sentia Harry Haller, o lobo da estepe, diante do mundo. Eu não quero mudar certas coisas, mas um sentimento sufocador de dúvida se contorce em mim, e por mais que tente ignorá-lo simplesmente não dá.
Duas coisas me motivam a escrever hoje. A primeira tem a ver com o início do texto, mas que também está ligada à segunda. Ambas me deixam na incógnita de não saber para onde vou. Quando falo "gosto de você", "te admiro" ou "te amo" é verdade, e nestes momentos estou mais junto da idéia de que algumas coisas que realmente são verdadeiras e merecem atenção são unas, não se modificam, pois se o fizessem deixariam de ser. Mas quem vejo parece nem pensar no que seja "ser", uma vez que participam do conceito mundial que diz que o que vale é a casca, a quantidade, o monte... e assim vamos todos nos perdendo. E os amigos parecem ser amigos apenas quando passam tempos quase obrigatórios com você... Ai, enfim, não quero mais esses papos down perto de mim, pois é muito fácil pagar de triste e choramingar que não é feliz e coisa e tal, contudo o que escrevo aqui é uma espécie de grito de alerta; um que braveja e reverbera dizendo que enquanto eu me der conta, vou ser o que acredito e defender minhas opiniões. Não importa quem não as respeitar, chega de mediocridade, EU CUSPO NA CARA DA MEDIOCRIDADE, escarro nela, eu odeio a mediocridade e tenho pena de quem quer ser medíocre, do cego.
Enfim, não estou triste porque me recuso a olhar a vida por apenas um de seus lados. Eu tenho muitas coisas de que me orgulhar, pra aproveitar, pra viver. Não tenho tempo pra tristeza porque, mesmo que o Homem não valorize, ainda existem o céu, as flores, o vento nos momentos de calor, o riso, a dança, as artes, os livros e tantos mais "etecéteras" através dos quais o amor e a verdade se fazem presentes que seria o maior exemplo de mediocridade insistir no que que querem os espiões - como diria Chris Martin in Spies. Também não tenho horas vazias para dividir com quem quer ser triste, ser mais um e nem se importar com isso; que construam suas ordinárias casas-padrão para que, quando morrerem, outros iguais possam habitá-las até que, de tão velhas e usadas, ruam e destruam quem estiver ao redor. Não quero fazer parte desta vizinhança. Há um Sol iluminando e um caminho inteiro pela frente e para enfrentá-lo é imprescíndível estar bem. Principalmente pra mim. Este é meu grito de hoje.