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sábado, 31 de julho de 2010

Élan Vital

O abismo de madeira da mesa de jantar
Separa o presente e um trêmulo futuro
Vozes familiares, quase impossíveis de suportar
A prisão num lar de fim-de-tarde mudo

Fuggi Regal Fantasima, frase de Verdi
Mas numa canção ela veio e tudo pareceu voltar
Aquele tempo em que pagou por andar diferente
Quando sentira necessidade de crescer e tentar

Com fantasmas visitou concertos e imaginou
E se não pensasse nos contras e nos males
Só Caetano, apenas Gal e unicamente os Beatles
Qual o grande problema se ousasse

Quanto custa a coragem da mudança
É um valor raro para, aos poucos, sentir
Não cabe mais carregar a velha criança
The Killers, The World We Live in

Experimentando dias faraônicos e de Aida
Ser dividido entre a ambição e o esforço
No guarda-roupa o MacBeth não lido ainda
Na cabeça, Huxley e dois mundos novos

É preciso ouvir, conhecer e amar Chicos
Viajar pela Ciência e um dia à Holanda
Passear de bicicleta por campos índigos
O desejo de experimentar ser enfim vivo

Das mesas com cadeiras aos recitais ermos
A televisão noturna e as pragas tecnológicas
Esse bolo imundo de dígitos, vícios e malogros
Servirão a consulta qual caderno roto de notas

Sem olhar para trás, não hesitar ante o nada
Indescritível sabor é o de livrar-se do Sempre
Olhar para os pés e senti-los tocar a Estrada
Caminhando e cantando: Smile like you mean It...


Bito

domingo, 4 de julho de 2010

Operático 2010

Criei poemas precisos, abri portas e tive medo: virei algo tácito
Cogitei ver outros filmes ou por ação no musical de 50
Decidi atentar nas minhas veias, mas insistia em ser clássico
Ter predileção pelo dito "belo" e pelo rebuscado, ouvir Aretha
Sensação de estupidez batida nas notas de um instrumento
Um piano que você parecia, inocentemente, não escutar direito

Ontem foi tudo diferente, mesmo não sabendo por quê
Perdido do mundo comum, eu estava junto de você
Mesmo que o seu celular fosse o de jornalistas cobrindo eleições
Queria ser eu o único escolhido para o cargo das suas atenções
Ou apenas ler o seu nome na lista de visualizações do meu orkut
Ficaria tão feliz que abriria mão de ver o sorriso perfeito de Judy

Acordei incomodado hoje, você não manda mensagens
Nas redes sociais, todos continuam ridentes da minha condição
Desconheço o motivo de olhá-los, eu detesto fotos com cara de paisagem
Estar com você tem sido um absinto sem álcool: só cor, só imaginação
Você me mata, não está aqui e nem sei se liga para isso, na verdade
Para você talvez eu seja um objeto apenas de burra admiração

Sinto falta de algo e escuto I don't know what it is neste domingo
Contudo Peach Trees tem sido o meu doce e venenoso hino
Começo a notar o desgaste das relações vizinhas
Temo pela nossa que sequer nasceu ainda
O tempo passa; preciso de uma mudança; decido viajar
Conseguiria viver sem a sua presença mitológica já?

Aí eu escrevo o que não tenho coragem de contar
Sou jovem, sou forte e desconsidero a precisão de certos esforços
Se você pudesse me ler, iria ter paciência de me interpretar?
É uma pergunta calada que grito se consigo olhar nos seus olhos
Seria você alguém ofuscado pelo monte de suposições donde vim morar?
Se sim, quero descê-lo a ser recebido nos seus heróicos braços

Acabo o texto cada vez mais lírico e pesado de coisas tolas e afins
Penso aonde vou parar de tal modo, se vale a pena erodir assim
Queria ser tão forte, elegante e seguro quanto Lord Henry
É incoerente, pois se vejo sua foto no meu twitter minhas pernas tremem
Mas do jeito que estou, sou um "quase-ser", um seminarista sem atitude
Desejoso como Dorian e atormentado como Eugênio ante a juventude


De volta das Ideias, ando neste mundo viciado
Encontro pessoas que queria esquecer por um ano
Desprezo os elogios fáceis a alguém como eu deslocado
Sou mal, sou perverso, sou terrível, sim, creio deveras
Um dia quero não me envergonhar de ser humano
Cansei. Estou indo ouvir Stormy Weather


Bito

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Que mundo...



Os meninos devem ir à escola
Os pais veem os alertas da TV
As mães compram mochilas
"Não leve mochila pesada!"
O mundo é tão repetitivo

Os pais enchem mochilas com futuro
Os filhos penam para carregá-las
Os pais colocam mais coisas nas costas dos filhos
E dão-lhes broncas se não as levar
O mundo é tão redundante



Os pais exigem respeito pelas mães
Os filhos têm de consagrar seus pais
Os pais adoram a rua
As mães pagam os pecados por isso
O mundo é tão contraditório

As mães não querem palavras feias nos filhos
Uns pais ensinam palavrões aos filhos
Umas mães xingam os próprios filhos
Os pais não abraçam de graça seus filhos
O mundo é tão esquisito

As meninas são pequenas freiras
Os pais são os papas
As mães já foram meninas
Agora são religiosas casadas
O mundo é tão irônico

Uns meninos amam a escola
Uns meninos preferem a vida
As escolas ensinam para a vida
Mas viver não tem caído no vestibular
O mundo é tão disciplinado

Os meninos virarão homens
As meninas mulheres
Lê-se estável a união entre eles
Há famílias de homens e mulheres
O mundo é tão parcial

Todos já fomos crianças e ensinados
Seres encantados vão até a página final
Hoje não pensamos no fim das coisas
No exercício da inveja aos diferenciados
O mundo é tão frustrado

Eu sou tão jovem
Sofro pelo futuro
Reflito sobre o presente
Grudado no passado, penso
O mundo é tão engraçado

Bito

domingo, 16 de maio de 2010

Segunda-feira


Abro os olhos e mais uma vez a porta
O chuveiro é o meu pensamento
Um banho frio para ficar inteiro
Esquecendo as coisas monocórdias

Deixo músicas me acariciar
Um violino vigoroso me atinge em partes
A água me derrete como uma barra de chocolate
Eu fecho os olhos e volto a respirar

Um novo dia começou

Como, saio à rua, vejo semáforos, carros, pessoas
Não parecem ver a segunda tão jovem
A manhã é um gira-gira onde todos correm
Em busca de coisas adoravelmente tolas

Aperto o play... What a wonderful world

[Bito]

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Logo eu...

Ontem, primeiro dia do quarto mês do ano, só pensava em março, só pensava no tempo: e, de repente, já é abril...


Abril
Adriana Calcanhotto

Sinto o abraço do tempo apertar
E redesenhar minhas escolhas
Logo eu que queria mudar tudo
Me vejo cumprindo ciclos
Gostar mais de hoje e gostar disso

Me vejo com seus olhos, tempo
Espero pelas novas folhas
E imagino jeitos novos
Para as mesmas coisas
Logo eu que queria ficar
Pra ver encorparem os caules

Lá vou eu
Eu queria ficar
Pra me ver mais tarde
Sabendo o que sabem os velhos
Pra ver o tempo e seu lento ácido
Dissolver o que é concreto

E vejo o tempo
Em seu claro-escuro
Vejo o tempo em seu movimento
Me marcar a pele fundo
Me impelindo, me fazendo
Logo eu
Que fazia girar o mundo
Logo eu
Quem diria, esperar pelos frutos

Conheço o tempo
Em seus disfarces
Em seus círculos de horas
Se arrastando feito meses
Se o meu amor demora

E vejo bem
Tudo recomeçar
Todas as vezes
E vejo o tempo
Apodrecer e brotar
E seguir sendo sempre ele

Me vejo o tempo todo
Começar de novo
E ser e ter tudo pela frente
Me vejo o tempo todo
Começar de novo
E ser e ter tudo pela frente...

segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Once upon a time

Se te disse linda é porque sou fraco
Por não ter relutado quando o chão virou lago anil
E meu pés se encharcaram e esqueceram do frio
Cada vez que eu e você éramos abraço

Se te disse inteligente foi por seus olhos
Que de astutos se desviavam dos meus
Só pra me fazer revelar sentimentos crus
Sem medo de serem a você apenas alguns restolhos

Se senti sua falta foi pela desumana abstinência
Da ambrosia que sua presença pra mim sintetizava
Que nenhuma Afrodite nem Minerva imaginava
Sua necessidade pra o vir de uma nova existência

Os anos podem ir-se, porém qual Peri
Estarei fiel ao que me faz voltar a sentir
E cantarei um milhão de cirandas de bailarina
Pra espargir o milagre de observar-te cada dia mais linda

Mesmo que as estrofes e os parágrafos mudem
Ainda haverá um cara que vê figuras em nuvens
Que sairá das fáceis metáforas pra enfrentar gradações
Que culminarão no fim do meu eterno viver de abstrações

Que pelo poder de não virem a acontecer
Coçam, machucam, marcam e me fazem fenecer
Colocando as mãos na cara
Privando de ver-te, que é o Sol, a minha seara

Senti seus raios de dentro de um alçapão
Percebi que não é fácil encarar uma aparição
Voltar a crer em verdes bosques e fadas aladas
Vislumbrados num happily ever after


(Bito)