segunda-feira, 24 de maio de 2010

Que mundo...



Os meninos devem ir à escola
Os pais veem os alertas da TV
As mães compram mochilas
"Não leve mochila pesada!"
O mundo é tão repetitivo

Os pais enchem mochilas com futuro
Os filhos penam para carregá-las
Os pais colocam mais coisas nas costas dos filhos
E dão-lhes broncas se não as levar
O mundo é tão redundante



Os pais exigem respeito pelas mães
Os filhos têm de consagrar seus pais
Os pais adoram a rua
As mães pagam os pecados por isso
O mundo é tão contraditório

As mães não querem palavras feias nos filhos
Uns pais ensinam palavrões aos filhos
Umas mães xingam os próprios filhos
Os pais não abraçam de graça seus filhos
O mundo é tão esquisito

As meninas são pequenas freiras
Os pais são os papas
As mães já foram meninas
Agora são religiosas casadas
O mundo é tão irônico

Uns meninos amam a escola
Uns meninos preferem a vida
As escolas ensinam para a vida
Mas viver não tem caído no vestibular
O mundo é tão disciplinado

Os meninos virarão homens
As meninas mulheres
Lê-se estável a união entre eles
Há famílias de homens e mulheres
O mundo é tão parcial

Todos já fomos crianças e ensinados
Seres encantados vão até a página final
Hoje não pensamos no fim das coisas
No exercício da inveja aos diferenciados
O mundo é tão frustrado

Eu sou tão jovem
Sofro pelo futuro
Reflito sobre o presente
Grudado no passado, penso
O mundo é tão engraçado

Bito

sexta-feira, 21 de maio de 2010

2012

Mais uma vez, encontro-me em um situação diferente e merecedora de registro. Conversei com a minha mãe sobre algo de que tenho quase certeza: Deus manda a nós alguns sinais necessários para a nossa própria aprendizagem e consequente evolução. Nessa Estrada, pela qual empreendo jornada, tenho observado coisas marcantes, cuja existência não imaginava. São coisas duras, posso dizer. O texto atual é uma elegia prosaica ao oposto desses pesos.

A velha mania da insistência em querer estar além do meu tempo, do meu espaço. Este comportamento tem se tornado uma espécie de obsessão que me faz não enxergar coisas, no meu conceito, importantes. A minha irmã hoje me mostrou como muitas vezes é bonito viver.

Eu fiquei durante alguns momentos da manhã tentando lembrar do antônimo perfeito para a palavra "egoísmo", no entanto só a referida palavra me vinha à cabeça. Tentei usar de estratégias: "Não ser egoísta é não ser...". Pensava e pensava. Nada. Eu não sabia o que não ser egoísta implicava. Um choque, pois a cena foi emblemática, metafórica e totalmente cabível: eu, simplesmente, não lembrava o que é ser generoso. Minha irmã não precisou dizer nada da correspondência vocabular buscada por mim, ela apenas agiu, ou seja, foi generosa; daquele jeito que não se importa com os ditos do mundo, que desconsidera puramente a conduta mórbida de escalar quantas cabeças forem necessárias para alcançar um fim. Foi inspirador de mais ver alguém assim e, maravilha, tão perto de mim, mostrando-me a possibilidade de ser melhor, de forma tão espontânea.

A correria faz com que não se observe o Caminho por onde se anda. A impressão é que estou correndo, tanto, tanto, mas sem achar o porquê válido o suficiente. Tenho medo de responder algumas perguntas e de também pensar nelas. As coisas parecem vir quando são para vir: a frustração acontece quando não se percebe que temos uma parcela pequena no porvir. Quisera poder entregar-me totalmente e ter na cabeça a resolução anterior, mas averiguo, triste, que não consigo. Há momentos que sim e em muitos outros não. Já é 2012 e eu sou a agulha de um sismógrafo.

Hoje estou descentrado. São as pedras da Estrada.

domingo, 16 de maio de 2010

Segunda-feira


Abro os olhos e mais uma vez a porta
O chuveiro é o meu pensamento
Um banho frio para ficar inteiro
Esquecendo as coisas monocórdias

Deixo músicas me acariciar
Um violino vigoroso me atinge em partes
A água me derrete como uma barra de chocolate
Eu fecho os olhos e volto a respirar

Um novo dia começou

Como, saio à rua, vejo semáforos, carros, pessoas
Não parecem ver a segunda tão jovem
A manhã é um gira-gira onde todos correm
Em busca de coisas adoravelmente tolas

Aperto o play... What a wonderful world

[Bito]

domingo, 9 de maio de 2010

A origem do Amor

O que é isso? Eu não sei. Talvez nunca saberei. Começou há muitos anos, muitos mesmo, para lá de vinte. Foi sempre uma relação intensa de dependência, de entrega, de amor notadamente unilateral, que foi crescendo e se transformando no que não sei explicar. Já é parte de mim.

Não me recordo bem quando primeiro vi o seu rosto, nem quando notei seus modos, tampouco quando comecei a incomodar-me com seus defeitos. Tudo aconteceu tão sinceramente: de repente, eu estava dizendo a mim mesmo coisas que antes não faziam parte do meu código de conduta. Percebi então que aquilo não era igual às outras coisas. Em dias específicos, a televisão e o rádio relembravam a sua importância, as placas, os cartões, tudo parecia girar na direção daquilo que para mim era belo e inédito, ainda que soasse forçado.

Com incentivos mil, dentro de um castelo, frequentei ambientes esclarecedores sob constante julgo. Cresci. Li teorias, deparei-me com definições complexas e assustadoras e todas aquelas coisas tão racionalmente estúpidas - que podem fazer de você escravo de escravos -. Eu mudei. Desconsiderei presentes, carinhos e demonstrações que vinham para completar e apontar direções a mim, as quais não pude ver, pois vestira uma venda opacificadora de seda. Foi quando percebi mais, que senti mais, que me tornei mais irascível, relutante em constatar que estava ali a resposta das coisas, o centro de tudo, a força motriz da minha existência.

Assim a vida foi andando - como eu e a minha sofisticada venda -, trazendo as cinzas que pintam os cabelos das pessoas e mancham as suas almas.

Quando as cinzas chegaram e tentaram invadir tudo, esbarraram numa fortaleza represadora de tudo nocivo e sem vida ao habitante de si. Ela fez tudo sozinha, forte e cheia de vontade para batalhar contra ventos naturais de ingratidão, granizos de grosseria e a poeira dos esquecimentos. O Tempo e seus sopros sucessivos abriram brechas nas paredes da Fortaleza, fazendo com que eu, o morador do templo, sentisse uma pontada gélida de Sereno. Ele brincou comigo e forçou-me a tirar a venda com as minhas próprias mãos. Eu, desolado, constatei: a Fortaleza estava grisalha e não tinha como mudar isso. Era hora do príncipe sair e ver o tempo, sem mais tapas, sem mais sedas. Tinha de usar o oferecido a mim e encarar de frente as condições da brava Fortaleza cujo corpo foi, durante anos, o meu abrigo mais resistente.

Hoje, muito aos poucos, venho aceitando a condição de restaurador predestinada a mim. Como todo novo ofício, enfrento dúvidas de know-how (sofrendo pela possibilidade de macular o meu agora frágil forte). Vejo a Fortaleza e noto como o Tempo pode ser implacável com os talhes, porém ele é necessário e não oferece prejuízo maior quando - mesmo fustigando a pedra de fortalezas - não demove os seres da sua proposta fundamental, se mantida até o fim. É emocionante perceber que pouquíssimo pôde atingir-me nos tempos em que estive ali, preservado, com a vida crescente e dependente da força matricial.

Nada, no entanto, é eterno e o Tempo, por conseguinte, muda mundos, traz virtudes e vícios a serem filtrados; ele aos poucos vai tornando vulneráveis até mesmo as construções aparentemente infalíveis. Fica nítido, são mais suscetíveis à destruição natural as obras mais humanas. É preciso sair e construir a nova fortaleza que protegerá do Tempo a pioneira.

Continuo não sabendo quando começou o processo mágico. Não preciso ater-me a pormenores para ter ciência de que é chegado o tempo de proteger, de repensar e ponderar sobre como preservar a árvore divina chamada MÃE. Na minha primeira juventude, aquela impaciência de perceber os defeitos nada mais era que o resultado do estranhamento de dar-me conta da semelhança entre a minha mãe e eu: a esquisita sensação de enxergar em uma só pessoa o seu passado, (muito do seu) presente e (a possibilidade d)o futuro; de saber que, no fundo, ela e eu somos um só num exercício excêntrico de alteridade.

As mães são a ligação mais estreita que temos com Deus, posto que são só amor. Elas têm a mão do Criador guiando os seus passos e conselhos. Isso me faz ver que existem diversos momentos nos quais suas palavras são mais do que simples frases (taxadas bobamente por nós como "chatas"). Seus atos, conselhos e admoestações contêm sabedoria ímpar, porém necessários de reflexão para o efetivo entendimento. O Tempo também traz isso para as fortalezas: as mães, à medida que vão aproximando-se de Deus, passam a falar em força uníssona com Ele. A nós, filhos, cabe escutar mais e preservar a árvore original que durante tantos anos guardou e adminstrou-nos a seiva mais pura, a quintessência do amor.

As mães são a origem do amor. A minha mãe ensinou-me tudo o que sou e deu-me o que possuo de mais nobre.

A ela todo o amor, desde a sua origem.

A todas as mães este texto, uma ínfima homenagem àquelas que, em cada estágio do Caminho, revelaram e ofereceram a mim laços maternos (atados eternamente aqui dentro de mim) chamados AMOR.

Obrigado.

domingo, 2 de maio de 2010

Craving

Agora estou escutando Scott Matthew e pensando nas palavras de Language. Embalado pela melodia tão calma, tão doce, hoje acordei com algo na minha cabeça, um pensamento que foi dormir comigo e me trouxe aqui para escrever sobre.

Ontem foi um dia muito legal: acordei mais tarde, fiquei uns momentos no PC vendo "bobagens necessárias" e fui à casa de uns amigos, onde tive horas também legais. Após conversa com um deles, fiquei pesando algumas palavras e ações as quais não consigo ainda encarar. Acho que o início desta reflexão também teve a ver com um filme que vimos (cada dia passado acredito menos nessas coisas de histórias lindas de filme, por essa razão ando evitando assistir a alguns).

Ultimamente minha cabeça tem estado atada a uma espécie de obsessão; eu sei que o comportamento intenso não é bom nem saudável. Poderia dizer que ando tendo "obsessões", umas maiores, outras nem tanto, mas que fazem da cabeça de um jovem uma verdadeira babilônia de sensações. Converso bastante com Deus, peço que Ele me dê calma, aconselho aos mais queridos a ser pacientes, contudo observo, posteriormente, o ditado da casa de ferreiro cair em mim como uma luva.

Uma coisa é clara: não é fácil existir. Não digo isto com tristeza. As minhas palavras são constatação; elas têm um gosto de melancolia, uma espécie de amargo que me faz perceber a vida e enfrentar as situações adversas cara a cara. Eu creio que muita gente também sente o tal sabor acre, mas tenta de várias maneiras adoçá-lo, disfarçar o gosto das coisas com a groselha mais fácil encontrada. É claro, incluo-me neste público, apesar de que para mim não é tão fácil ver isso acontecer e não me sentir minimamente incomodado. Penso que as coisas que escrevo são meio blue porque estou assim e, consequentemente, para me livrar das urticárias, preciso apoiar-me em sonhos, transformando-os em desejos e - como, parece, não sei cuidar bem - eles enfim tornam-se "obssessões".

Pois é justamente isto: às vezes me sinto como um parturiente de Gremlins - uma fábrica de monstros que nascem doces, bonitos, mas que por algum descuido acabam tornando-se coisas desproporcionais - cuja existência demanda de mim constantes batalhas internas. Às vezes canso e, quando acontece de não estar animado para a batalha, tendo a fugir, buscar sombras, atalhos e máscaras. Não queria fazer isso, mas é quando me sinto mais humano.

Estar comigo próprio, sem dúvida, tem sido um exercício. É como se pudesse ouvir-me e ver-me, discordar de mim e brigar comigo para, em seguida, voltar-me ao residente adentro, acará-lo, aceitá-lo e ver que ele sou eu. Nestes instantes sabáticos, tenho insistentemente tentando unir as pontas do meu eu. Por passar muito tempo a sós comigo mesmo, acabo encontrando coisas assombrosas, que me impulsionam, derrotam-me e me fazem seguir. Isso não é tristeza, é a tarefa de ser.

Posso estar vulnerável nesse novo trabalho, meio abatido para uma batalha, porém estou aprendendo a aos poucos abrir a guarda.

"O mundo anda tão complicado" e eu continuo assim.

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foto: capa do CD "All Days are Nights: Songs for Lulu", de Rufus Wainwright