quinta-feira, 31 de março de 2011

Pergunta e Resposta (ou "Prosa Poética")

[Beta, leia ouvindo isto aqui...]

Aí a gente pensa: "Como não fazer algo que já foi feito?" ou, ainda, "desta vez tem de ser diferente, melhor!"; e pensa, pensa, pensa. De repente, eu estou triste, falando de perdas, isolando-me do lado vibrante do mundo, quando, no mesmo instante do súbito, o telefone toca e alguém diz: "Congratulations!"

Meu Deus! Quem seria capaz de fazer isso? De me ligar à noite e, do nada, fazer um riso sair de mim? De jogar água na cara de um canastrão dramático e provocar risadas de todos aqueles seres que o compõem, inclusive do que teve a maquiagem desfeita? Quem tem o poder de fazer a noite fria deixar de ser noite, deixar de ser fria, deixar de ser algo relevante? Quem? Quem? Quem?


Beeeeeeeeeeeta!

Engraçado, como eu me peguei comparando algumas coisas e, agora, pensando, constato que estamos entrando no quarto ano de amizade. O quinto tem de ter festa! Talvez em Salvador, pois Beta, além de tudo, de ser o meu tremelique em contorno de gente, diz-se baiana, mas de alma, de uma outra vida. E a danadinha é baiana da que "mexe, remexe, dá nó nas cadeiras", não fica parada; Dayne é uma baiana falsa, mas não a "falsa baiana". A minha Distant Dreamer aracajuana mais linda do universo e do Orlando Dantas. 


Mas quem é Roberta Dayne? Ah! Ela é a menina-moça que faz aniversário hoje. Ponto. Não quero que saibam mais nada dela. Afinal, quem já viu, ir assim falando aos quatro ventos de tesouros? E se vier alguém e for pego por ela... Xiii! Não quero isso. Não, não! Vou guardá-la como Emília fazia com a sua canastrinha.

Beta, hoje é o seu dia. Mais um aniversário junto de você, mas, desta vez, longe. Geografias. Mas o nosso lance é Letras: foi através dela, e delas, que nos encontramos ontem, para vivermos o sempre. Pesemos a nossa relação. Vejamos o quanto de raro que ela encerra. Quantos cultivam o amor dessa sorte através das palavras? Quantos se abraçam sem sentir acanhamento? Quantos se olham nos olhos e confiam aquele choro de apertar o coração, aquela confissão de dar dor-de-cabeça? Quantos têm a oportunidade de se ligar pela música ou por uma poesia exclusiva? Quantos têm isso que nós temos, minha amiga? Quer saber? Nem importa tanto assim. Vamos falar mais baixo, aliás, né?!

Beta, eu estou agora conversando com você. Falando essas palavras para você. Eu estou aí, neste momento. Enviei um vigilante ("Don Dieguito, desde Argentina, a seu dispor", sinaliza ele enquanto você dorme, em ligações de sonho, sem DDD, para mim) para tomar conta dessa minha Flor, que veio para mim para eu cuidar. 


Bem, acho que este é mais uma declaração de amor a você. Porque Beta não merece menos do que isso. Porque junto de Beta eu consigo conciliar o passado com o presente e uni-los ao futuro. Isso é tão difícil, comigo então: o tempo é um conflito intenso, como irmãos que rivalizam por uma herança. Beta harmoniza-os, acalma esses rapazes tão diferentes. Ela me acalma. Ela me faz rir e me faz chorar. E choro de uma alegria que me aperta o coração, porque sou um medroso, porque duvido tanto da felicidade, porque talvez ache que não mereça ser feliz. Aí vem Betinha, liga para mim e me faz ser o que tanto temo: feliz, ainda que por uns momentos. Em poucos minutos estamos ligados a outro mundo, mais maravilhoso que o dos Na'vi, de James Cameron. Novas perguntas surgem... Será que somos assim por sermos iguais? Que as diferenças dos sexos nos igualam? Biologias. Ah! Já disse, o nosso negócio é Letras. O nosso curso, a lição de vida que aprendi com você e essa sua beleza, que ineficazmente tentei representar nos textos louvatórios. Nos momentos em que você foi a esperança numa das minhas guerra civis. A resposta.

"Eu, leve, agradeço pelo nosso aniversário
O Criador trouxe Bito um dia antes
Só para esperar Beta vir lhe mostrar o Sol brilhante
Qual o que clarea esta manhã de 31 de março"

"Beta [de Bito]", Bito 


Sim. Estamos juntos. Eu acredito tanto em você... 

Parabéns, minha Beta!

Eu sou seu amigo. Obrigado por isso.

[e agora isto aqui]

quarta-feira, 30 de março de 2011

O primeiro dia do resto da minha vida

"Eu vou guardar cada lugar teu, ancorado em cada lugar meu."
Mafalda Veiga

25 anos. Um quarto de século. Uma vida. Tantas músicas. Eu, neste momento, estou ouvindo uma canção, um hino da minha vida, chamada "Cada lugar teu". Num dos versos, há a frase: "nesse lugar mais dentro, onde só chega quem não tem medo de naufragar". Hoje, vou falar mais ou menos sobre isso, sobre o medo de naufragar, sobre as pressões e sobre uma injusta, mas supostamente necessária, admoestação.


O 30 de março de hoje talvez seja um dos mais esquisitos vividos por mim até aqui. Tem toda aquela história que já está cansando de ser tão contada, que talvez entre para um dos relatos que direcionarei (se vir a dizer) a uma pessoa mais jovem, necessitada de conselhos, buscando alguma mudança. Acontece que o meu medo de naufragar permanece nesses 25 anos e estar fisicamente só me mostra o quanto sou refém dele. Queria muito dar um relato animado sobre alguma coisa muito empolgante, mas, no momento, não estou passando por uma situação muito fácil, que não sei explicar, mas que vai na direção da solidão. Talvez seja o meu velho conhecido medo que, como uma hidra, mostra diferentes cabeças, ou uma medusa, de quem fujo para não ser petrificado.

Esses pensamentos não são bons. Eu sei. Já houve um tempo em que encontrava certo charme em tê-los comigo, pois funcionavam como esterco para belas flores nascerem. Assim surgiram as homenagens e as poesias tão frequentes no ano passado a pessoas tão queridas, fomentadoras do doce exercício de amar. Essas honras eram uma espécie de grito de alguém cuja tristeza era combatida a todo tempo, mas numa boa batalha, com o uso de palavras, das belas e representativas e mais nobres encontradas.

Sinto, pesarosamente, que com os 24 foram também a minha leveza e o mais belo das minhas utopias; que aquele menino já não pode mais tomar conta da sala principal e deve contentar-se à sua área de brincar ou, mais frequentemente, ao seu quarto. É triste. Eu estou triste porque hoje, aos 25, tenho de condicionar (um eufemismo para "obrigar") o menino a anular, a sua espontaneidade, credulidade, ingenuidade, seu ser sonhador. Numa das minhas últimas postagens eu falei de sonho. Enfim, ali ainda pulava o menino. A minha tristeza se dá pelo fato de eu ter de colocá-lo de castigo por todo o bem que suas ações intencionam, por cometer uma injustiça. É injusto. No entanto, aos 25, percebo que o mundo é tão injusto. Ele não dá espaço ao meu menino, e nós nos machucamos, ambos. Noutra música, ouvi uma frase mais ou menos assim: "Pinóquio, agora um garoto, quer voltar a ser um boneco". Talvez seja isso. Talvez este aqui seja mais um protesto do menino. Mas voltar é impossível.    

Ele, mesmo assim, jamais morrerá. Eu cuidarei dele, tentarei alimentá-lo com o melhor que houver. O problema, porém, é o seu choro, a sua insistência em ser o centro das atenções, a sua forma pueril e intransigente de encarar o mundo. Ele não obedece a ordens, e eu não acredito em agressão física. Então, estamos contando areia. O que fazer? Ninguém, absolutamente ninguém, além de mim pode dizer. E eu não sei o que fazer, como uma criança, estou desnorteado. Não quero, não vou me entregar. Não posso desabar diante de mim, do meu menino, pois ele ainda é a coisa mais cara que há aqui dentro, o que me salva da morte, o que me dá arroubos de juventude e capacidade. Um dia ele sairá desse castigo. Enquanto isso, eu vou lutando para não cair. Eu não vou cair. Sou forte: sou um menino-homem ou talvez, ainda, um menino-homem-menino.

É, sem dúvida, mais um começo. Como Alice, encontrando, abrindo, fechando e indo atrás de novas portas.

Tá valendo!

domingo, 27 de março de 2011

Um amor puro (e a força que tem)

Mais um domingo. E eu estou aqui sem muita coragem de fazer muita coisa. Talvez melhore amanhã, que é dia de trabalho intelectual, de fato. O domingo de hoje foi, abençoadamente, comum. Lavei roupas e conversei com a minha mãe. Hoje eu a ensinei a operar o controle remoto da TV a cabo, tudo pelo Skype. Minha mãe usando Skype. É uma gracinha a minha mãe. 

Sabe, eu fico pensando - ainda que morrendo de medo de cair no clichê -, a minha mãe é a coisa mais rica que tenho. Acho que é porque nós somos bem parecidos: geralmente estamos sozinhos e precisando conversar sobre qualquer coisa com alguém, mas sem jamais admitir o fato. Enquanto eu tento entender algumas coisas que se passam, observo outras como ditados "uma mação não cai muito longe do pé". Eu e minha mãe somos two of a kind - hehehe! -. Sei lá, só sei que, num dos momentos mais importantes da minha vida, é a minha mãe quem me dá mais força, que está comigo. Eu já testei: não há "amigos", tampouco outros parentes que façam o que ela faz por mim. A maneira como acredita em mim, como disfarça a voz embargada, ou vira o rosto para que não a veja chorar, traz-me muita emoção.

É por esse motivo que quando tenho rompantes de sair pelo mundo, louco, penso nela. A minha mãe se mostrou a coisa mais importante na minha vida. Talvez um dos motivos pelos quais ainda vale lutar. Isso me emociona, mas me dá medo também. Esses lances de a família estragar as coisas e as pessoas - como muitos professam por aí - não funciona comigo. Ela tem sido a minha família, e essa família tem sido tudo para mim.

É incrível quando você pensa que não tem nada a perder; momentos em que se imagina sozinho no mundo, daí então um ser sem-igual desponta e preenche o vazio. E "puf"! A pessoa não está por sua própria conta: tem alguém por quem se sentir responsável. É coisa de Deus. Eu tenho tanto medo disso, mas só posso seguir vivendo, respondendo da melhor forma àquela que me dá tudo e que é capaz de tanto por mim. Eu reconheço e queria fazer mais do que julgo possível para dar-lhe tudo o que a faria completa e satisfeita. Mas, infelizmente, eu ainda não tenho poder para tal coisa.

Esta postagem brotou. Não era direcionada a minha mãe. Estou em frente ao computador, pensando em como seria legal se as horas congelassem um pouco. Queria ficar nesse momento parturiente de palavras e emoções. Mas as horas avançam. Elas simplesmente não param, a vida segue e tenho que ir junto com ela, observando o tempo indelével arrancar a cor de cabelos, pressionar faces contra o chão, demarcado nas constatações de vida, das crianças nascendo e crescendo. É melancólico, sou eu. Mas este é um texto de amor. Do amor mais puro. E o tempo, como todo rei, coloca-se acima da justiça dos súditos.

domingo, 20 de março de 2011

Tantas coisas

Senhoras e senhores! Amanhã, dar-se-á início à primeira temporada da minha nova etapa de vida. Amanhã, oficialmente, começa o semestre (eu chamava de "período", mas...) letivo da UnB. Mas, na realidade, as minhas aulas só começarão na terça-feira. 

Para não dizer que não há emoção nesse primeiro momento, já estou correndo atrás de bolsas de auxílio oferecida pela universidade. Eu não sou de Brasília e aqui as coisas são muito caras, moradia inclusive. Algo incrível. A despeito da certa tranquilidade experenciada pelas quadras e superquadras do Plano Piloto, viver aqui não é tão fácil. Aqui se está em contato com gente que gosta de ostentar mesmo. Passear no shopping é dramático, no sentido daquelas coisas que vemos nas novelas e nos filmes moderninhos do Hollywood: gente com ar de estrangeiro ou modernosos. Tempo desses eu dei um pulo na Asa Sul e havia no gramado uma faixa de venda de imóvel. O bangalô custava R$ 2.000.000,00!!! O mais incrível nem é tanto o preço (é também!), mas a situação: um valor alto desses é coisa de ser tratada durante a transação; geralmente quando se anunciam os preços aos clientes interpreta-se como um atrativo a eles, consequentemente, que é algo que cabe no bolso das pessoas. Enfim, não vou me estender na história porque posso cometer o erro de generalizar. Vai ver haja pessoas mais comuns por aqui. 

Dilma, minha fofa, vc tava uma gata! Yes, you can! hehehe!
É tanta coisa. Queria fazer um comentário rápido sobre algo que me deixou feliz. A visita de Obama ao país. Apesar de eu estar em Brasília, nem me senti tentado a ir vê-lo. Tava tudo fechado, e eu não ia ficar no sol, longe e impedido pra ver um ser que sua e vai ao banheiro como eu. Preferi ouvir o rádio. O que me deu felicidade foi ver a presidenta conversando com um chefe de estado americano como uma chefe de estado brasileira. Cobrou quando tinha de cobrar, foi firme, mas, ao mesmo tempo, ilustrou o quão significativo é o encontro dessas duas figuras históricas. Eu fico muito orgulhoso de fazer parte de uma geração testemunha de acontecimentos como tais. Só o que ficou sobrando foi alguns atos chatos de pessoas e o excesso de formalidades. Enfim, isso é com eles; quem manda querer ser presidente. Contente estou por presenciar um momento histórico, mas é a minha hora de fazer a minha história.
Agora é que começam as coisas pra mim. Não vou dormir no ponto e daqui a um ano quero voltar e escrever que as coisas positivamente mudaram de contexto. Eu acredito nisso. Véio, eu sinto que vai ser aqui que as coisas vão acontecer pra mim! Estou confiante e muito, mas muito feliz. Quando cheguei a Brasília, nesse segundo momento, estava triste. Lembrei de coisas do meu pai e da minha irmã. Eu me senti muito mal mesmo por causa deles, mas agora devo olhar adiante. Pensar em quem me apoiou para seguir.

Sobre o último dia de férias, o meu domingo foi chuvoso, mas movimentado; eu me molhei, mas aproveitei também. Vâmo lá!

Folha Grandes Óperas - A analisar
Hoje, meu último dia de férias, fiz bastantes coisas. Acordei sem espirrar e sem coceira no nariz, pois, no sábado, fiz uma faxina no quarto. Ele estava um pardieiro, cheio de jornais velhos e malas amontoadas. Deixei o quartinho um brinco. O domingo teve início com a lavagem das minhas roupas que passaram as férias na caixa de "trajes sujos" - hehehe! -; depois chegou aquela hora tensa para mim: o momento de almoçar. Eu tenho grande dificuldade de sair da toca, principalmente para lugares considerados por mim como longes. Durante o tempo que passei em Aracaju, recuperei um pouco do peso e deixar de almoçar não se alinha à manutenção dessa condição. Resultado: tive que sair para comer. Fui para um shopping popular (mas com estilo, fique isso claro! hehehe!) daqui e comi um prato bonito. Ainda passei na casa de uma amiga e juntos fomos a outro shopping, ou melhor, pra uma livraria. Livraria Cultura: Adoro! hehehe! Lá, finalmente, consegui comprar algumas edições da coleção "Folha Grandes Óperas" [Acabei de ler uma postagem avacalhando a coleção - hehehe! -, mas pra mim tá massa...]. Fechamos a noite com um jantar na casa dela. Uma boa conclusão de férias.

Ufa! Deve ter mais coisa pra falar, mas o sono tá chegando e eu preciso voltar à rotina de acordar mais cedo. Amanhã isso não vai funcionar, mas nesta semana entro nos eixos. 

Fui! 

quarta-feira, 16 de março de 2011

De volta

Cheguei a Brasília. Acho que estava com tanto sono que nem reparei muito nela. Ah! Sei lá, tem pouco mais de um mês que saí daqui mesmo. Não sei. É engraçado, eu me peguei na seguinte situação: quando estava em Aracaju queria voltar para cá e, uma vez aqui, chorei de saudades da minha casa. 

Eu passei por momentos diversos lá. Minha mãe foi o destaque das minhas férias. Como ela é especial na minha vida! Algumas pessoas da minha família me deixaram um pouco para baixo. Cobranças e comportamentos estranhos que estão me fazendo ter dor de cabeça e chorar até agora. 

Hoje, estive na UnB. Nem dormi nem nada. Tinha que correr atrás de assuntos como bolsas de auxílio e minha orientadora. Soube que ela faria parte de uma banca de defesa de dissertação de mestrado. Eu acredito que acharia a apresentação boa se não estivesse tão cansado: pesquei várias vezes. Aff! Por vergonha, dei o braço a torcer e fui para o lugar em que durmo.

Este é outro "problema" a ser resolvido. Não gosto do lugar onde estou. Tô parecendo aquelas grávidas que enjoam de tudo, até do cheiro do marido. O meu quarto estava uma bagunça completa. Antes de viajar, eu coloquei jornal em cima de tudo pra amenizar na poeirada. Estava relativamente organizado. Quando comecei a retirar os papéis de cima das coisas, xi!, foi feio demais o troço; ficou a visão do inferno de bagunçado. Era jornal pra todo canto e aquela velha poeria no ar. Resultado: nariz coçando e corisando. Saco! Fui almoçar na universidade, depois fui pra tal defesa, e voltei pra "casa". Lavei o rosto e desabei na cama. Isso eram, mais ou menos, uma 17h; acordei às 21h20 morrendo de fome. Lá vou eu pro supermercado. É a rotina vindo à tona.

Olhando-me no espelho, vejo que meu rosto deu uma "arredondadazinha". Acho que engordei alguma coisa. Vou manter isso. Quero me mudar, mas estou meio assustado com a fama de cara da cidade, mas tenho certeza de que vou conseguir um lugar mais adequado pra mim. Enfim, vou dormir porque os olhos estão pesando e amanhã tenho que acordar cedo, voltar a me acostumar. Estou aqui no meu quarto, sem tevê, com o auxílio das minhas músicas no celular, do computador e do rádio pra me distrair. Está bom assim. No que planejo não tem espaço para as bobagens televisivas - hehehe! - e afins. É difícil. Tô estranhando. Deu até vontade de continuar assistindo a "Insensato coração", mas isso foi travessura de férias. Agora é hora de trabalho. Quando me sentir estranho, sozinho ou qualquer coisa enlouquecedora advinda da solidão, virei até aqui pra exorcizar o troço.

Hoje é o primeiro dia da minha vida.     

O sono (1937), Salvador Dali

domingo, 13 de março de 2011

Libertando estrelas

Dentro de dois dias estarei dando adeus a Aracaju. Esta é a última postagem antes de eu viajar. 

Ontem fez um mês que vim para aqui. Caramba! Passou muito rápido, mas não tão rápido a ponto de eu deixar de sentir coisas fortes. Acredito que o mais importante que consegui abstrair dessa experiência de retorno foi o quanto ainda preciso mudar e a certeza de que tenho muito o que andar. Eu percebi que, apesar do esforço de provar a mim e aos outros o contrário, ainda sou um menino que idealiza coisas, e que, por isso, faz delas criações inverossímeis. Eu já falei que esperava mais dessas férias, mas talvez seja esse o problema, eu sempre espero e quero mais; acabo sofrendo mais também. Muitas vezes as pessoas não pensam como eu, mas não significa que gostem mais ou menos de mim. Eu às voltas com ser ou não aceito, meu Pai do Céu!

Por outro lado, há gente que alimenta esse ser ingênuo e belo de dentro de mim. São pessoas que, quando me acho triste, simplesmente a aparecem e me fazem reduzir tudo o que me incomoda a bobagens, as quais até podem trazer a mim momentos ruins, mas que, com esses amigos, põem-se insuficientes para me amargurar. São pessoas que, nessa brevíssima estada, estiveram comigo num sarau, deram-me passeios noturnos, como aquele "O Passageiro" do Capital Inicial. Eu sempre quis ser ele, pelas verdades vistas e descritas na letra, pela liberdade, por uma espécie de doce solidão. Ele é meio diferente. Eu sou como ele, acho. Hoje, percebo que sou um cara solitário, talvez seja para ser sempre assim, ou talvez "sempre" seja muito tempo, um que não tenho noção e por isso arrisco dizer (na esperança de ser positivamente surpreendido). Houve gente que me deu um presente de flores e palavras de amor, e que, em seguida, passou comigo por aventuras nas quais sobrevivemos, juntos, unidos e mais fortes: vivos. Momentos nos quais eu percebi que a vida ainda vale mais, muito além de tolos objetos. Tem também aqueles que me convidaram para comer e rir e lembrar das raízes firmes da nossa relação, daqueles tempos em que éramos tão jovens, inocentes e descobridores do mundo. Eles me dão dor de cabeça por vê-los evoluindo, deixando de ser meninos, dirigindo carros e planejando o casamento, mas me fazem também perceber que isso é demonstração de que o tempo não para. Eu não estou parado. 

Mas estando no lugar que nasci e cresci, percebo que as coisas prosseguem e todos nós, consequentemente, adaptamo-nos. Eu queria muito que algumas pessoas que conheci durante esse primeiro processo da minha vida permanecessem incólumes ao mundo, cultivassem à minha maneira a nossa relação, mas, no fundo, no final das contas, isso é algo que eu quero. E eu sou tão pouco. O que resta a fazer é seguir e deixar que os rumos sejam traçados e percorridos como eles devem ser. Ouvir, mas de coração, os Doces Bárbaros na canção "O seu amor". Amá-los e deixá-los. Dói, mas é isso o que se tem de fazer.

Sou eu na busca constante de evolução. "Eu não sei o que é, mas tenho de fazer", como diria Rufus Wainwright. Sinto cada vez mais que preciso virar páginas, focar no que acredito ser o meu Caminho e respeitar o dos outros. Afinal, o que vale é o que se construiu, o que se somou. Mesmo que algumas dessas pessoas hoje estejam longe de mim, ou muito mudadas ou até mesmo desaparecidas, o que foi registrado de bom é o que urge ficar.

Enfim, com o mês de março, mês do meu aniversário, de uma nova etapa de vida, eu fecho esse capítulo que se encerra por si só, independente de mim. É assim que funcionam as coisas: alheias às vontades humanas. Em síntese, é o Tempo. Eu, da minha parte, só posso cultivar os solos que me oferecem retorno: felizmente, tenho bons lugares, férteis, mas agora são uma etapa. Estou libertando-os todos. Eu estou me libertando... Goodbye Yellow Brick Road: Old Hollywood is over.



Por que você prende todas as suas estrelas

No seu estúdio na Avenida Melrose?
Você investiu todas as suas posses em contratos vitalícios
Você não sabia que a velha Hollywood acabou?


(...)

Então por que não liberar os portões e deixá-las sair?

Lembre-se que sem elas não haveria Paramount
A Paramount não precisa agarra-se ao que não é seu
Liberte as estrelas


Quanto mais você luta

Menos elas irão examinar e compreender o seu tamanho
E acredite em mim
Você não está à altura de um público que viu o branco dos seus olhos
Você não sabia que a velha Hollywood acabou?
A velha Hollywood acabou


Então por que não liberar os portões e deixá-las sair?

Lembre-se que sem elas não haveria Paramount
A Paramount não precisa agarra-se ao que não é seu
Liberte as estrelas


Liberte as estrelas, liberte seu amor, liberte as estrelas

Liberte seu amor, porque Hollywood acabou
Por que você prende todas as suas estrelas no seu estúdio na Avenida Melrose?

Rufus Wainwright, em Release the Stars

domingo, 6 de março de 2011

Changes

Sexto dia de março. Está cada vez mais próxima a data do retorno. Hoje, ao contrário da última postagem, não é um sentimento triste que me traz aqui. A constante busca por ver outros ângulos das coisas, de não se apegar a sentimentos mesquinhos e, quando estiver diante deles, ter força para encará-los é uma das razões deste texto. De fato, o passado permanece, mas é o presente que se mostra.

Longe de querer ser "evangelizador" ou transmissor de preceitos religiosos (não é comigo isso), constantemente tenho indicações de que sou querido por Deus. No texto anterior, reclamei do fato de alguns amigos não me darem o retorno de afeto que esperava; aquilo havia me deixado muito triste. Agora eu explico o porquê. Eu, apesar de tentar entender que cada um tem a sua vida, as suas obrigações etc., não consigo conceber como as pessoas constroem laços e os deixam afrouxar. Tenho o conceito de amizade baseado no fato de compartilhar, de estar junto, de fazer o que for necessário por aquele de quem se gosta. Um abraço, uma conversa, um encontro - ainda que rápido -, é algo que estreita, sim, ligações. Coisas como o MSN não funcionam muito bem comigo, nesse sentido. Ele é um veículo importante de comunicação, mas não acho que deve se sobrepor à presença, ao real, ao enfrentar dos olhos. À distância, não sei, as coisas parecem muito fáceis, pode-se assumir personagens, fugir, enquanto que quando estamos frente a frente o momento de dividir existe, pois se olha no olho e se aprende a lidar com o constrangimento de se mostrar, de colocar toda a humanidade para o outro. É algo que essas tecnologias de comunicação ainda não alcançaram.

foto meio antiga, mas tá valendo...
Ontem, encontrei amigos que me deram a melhor noite das minhas férias. Primeiro tive contato com sobreviventes da arte: um sarau que em plena época carnavalesca proporcionou uma alternativa suave e doce. Depois, saí com os meus amigos, andamos, rimos, conversamos, fizemos nada mais do que estarmos juntos. O que me faz registrar isso - coisa costumeira entre a gente desde tempos - é o fato de num dia eu reclamar da falta de contato de alguns dos meus amigos e os de ontem, sem que  tivessem lido o que escrevi, terem vindo para me ver, para estar comigo, sem que eu houvesse pedido, algo como o que acredito que a amizade deve ser: espontâneo. Por essa razão fiz menção a Deus, por acreditar que coisas assim só podem vir de algo superior, inexplicável, que me dá força para não me abater e me mostra que nada na vida é de todo estável. 

Assim, faço uma ligação com a figura da postagem anterior para dizer que não estou mais triste, que vou libertar as estrelas, libertar os meus astros, meu amigos. Eu ainda os amo, mesmo tendo ficado desapontado com eles, mas só posso estar com quem quer estar comigo (e falo isso sem a pretensão de fazer drama). É a vida. Tem muita coisa pela frente e eu tenho um projeto. Não posso me encher de coisas pesadas, dificílimas de carregar, pois há todo um Caminho para seguir. 

Agradeço à graúna e ao mon doux enragé por ontem terem dado a mim "um dia para recordar". Foi um presente e tanto. Eu amo muito vocês e sou feliz por poder ter a possibilidade de voltar e dizer que as coisas mudam. Graças a Deus!

quarta-feira, 2 de março de 2011

So Sad With What I Have...


Novo mês. O meu mês. Enfim, engraçada a vida: a gente pensa que as coisas mudam, acaba se convencendo disso, fica motivado com "a novidade de estar diferente" e basta apenas uma ocasião para perceber que não houve "aquela" evolução.

Pois é, este blogue há muito é uma oportunidade de falar o que não consigo dividir com as pessoas e ao mesmo tempo um modo de falar com todos. Desse modo, as coisas que escrevo têm relação com o que estou vivendo, com a minha vida. Eu sou sensível demais.

Estar passando as férias aqui na minha terra tem me mostrado coisas as quais me atrelam de forma intensa ao passado e suas reverberações. É emblemático o fato de, quando em casa, adorar passar horas assistindo ao canal Viva, no qual é possível rever grandes sucessos dos anos 80, 90 e início dos 2000. Estar na minha casa é ótimo, mas em tudo me lembra e me atrela ao passado. Isso me incomoda. Vejo também o quanto ainda preciso melhorar, acostumar-me ao desapego. Falo isso em relação a algumas pessoas que considero "amigos". Às vezes tenho a impressão de que eles de fato tiveram destaque na minha vida, no entanto acabaram se depositando num espaço que eu insisto em tentar irrigar, mas que me oferece um vento empoeirado. Não sei se porque o tempo está seco, não sei se porque o terreno está cercado e loteado por um dono já outro. A questão é que, aqui, vejo cada vez mais que preciso estar fora, que o que havia de cumprir já foi e que, por mais que tente dar ânimo ao que acredito estar vivo e adormecido, já está assaz difícil não notar um âmbar que veio e encobriu tudo: o qual embeleza e preserva, mas que afasta duas realidades, dois mundos, dois espaços, transmudando o existente em lembrança.

Daqui a alguns dias voltarei para Brasília. Além dos desfiles promovidos pela minha mãe, esperava mais desse tempo aqui. A despeito da minha negligência, preciso aprender a receber apenas o que os outros têm a me oferecer. Preciso melhorar bastante, é possível ver que tenho ainda coisas mal resolvidas dentro de mim. 

A postagem de hoje tem a ver com amor e as suas diversas manifestações. Estou tentando não deformar um sentimento sublime, evitando misturar o que eu acredito, construo e desejo com a realidade; esforçando-me a respeitar o espaço do outro, que é diferente, aquele que não tem a visão de certos conceitos como a que eu tenho, que não vê coisas como a amizade do jeito que eu acredito. Eu sinto muito, e exigente ou não, só não dá para calar.