quarta-feira, 30 de março de 2011

O primeiro dia do resto da minha vida

"Eu vou guardar cada lugar teu, ancorado em cada lugar meu."
Mafalda Veiga

25 anos. Um quarto de século. Uma vida. Tantas músicas. Eu, neste momento, estou ouvindo uma canção, um hino da minha vida, chamada "Cada lugar teu". Num dos versos, há a frase: "nesse lugar mais dentro, onde só chega quem não tem medo de naufragar". Hoje, vou falar mais ou menos sobre isso, sobre o medo de naufragar, sobre as pressões e sobre uma injusta, mas supostamente necessária, admoestação.


O 30 de março de hoje talvez seja um dos mais esquisitos vividos por mim até aqui. Tem toda aquela história que já está cansando de ser tão contada, que talvez entre para um dos relatos que direcionarei (se vir a dizer) a uma pessoa mais jovem, necessitada de conselhos, buscando alguma mudança. Acontece que o meu medo de naufragar permanece nesses 25 anos e estar fisicamente só me mostra o quanto sou refém dele. Queria muito dar um relato animado sobre alguma coisa muito empolgante, mas, no momento, não estou passando por uma situação muito fácil, que não sei explicar, mas que vai na direção da solidão. Talvez seja o meu velho conhecido medo que, como uma hidra, mostra diferentes cabeças, ou uma medusa, de quem fujo para não ser petrificado.

Esses pensamentos não são bons. Eu sei. Já houve um tempo em que encontrava certo charme em tê-los comigo, pois funcionavam como esterco para belas flores nascerem. Assim surgiram as homenagens e as poesias tão frequentes no ano passado a pessoas tão queridas, fomentadoras do doce exercício de amar. Essas honras eram uma espécie de grito de alguém cuja tristeza era combatida a todo tempo, mas numa boa batalha, com o uso de palavras, das belas e representativas e mais nobres encontradas.

Sinto, pesarosamente, que com os 24 foram também a minha leveza e o mais belo das minhas utopias; que aquele menino já não pode mais tomar conta da sala principal e deve contentar-se à sua área de brincar ou, mais frequentemente, ao seu quarto. É triste. Eu estou triste porque hoje, aos 25, tenho de condicionar (um eufemismo para "obrigar") o menino a anular, a sua espontaneidade, credulidade, ingenuidade, seu ser sonhador. Numa das minhas últimas postagens eu falei de sonho. Enfim, ali ainda pulava o menino. A minha tristeza se dá pelo fato de eu ter de colocá-lo de castigo por todo o bem que suas ações intencionam, por cometer uma injustiça. É injusto. No entanto, aos 25, percebo que o mundo é tão injusto. Ele não dá espaço ao meu menino, e nós nos machucamos, ambos. Noutra música, ouvi uma frase mais ou menos assim: "Pinóquio, agora um garoto, quer voltar a ser um boneco". Talvez seja isso. Talvez este aqui seja mais um protesto do menino. Mas voltar é impossível.    

Ele, mesmo assim, jamais morrerá. Eu cuidarei dele, tentarei alimentá-lo com o melhor que houver. O problema, porém, é o seu choro, a sua insistência em ser o centro das atenções, a sua forma pueril e intransigente de encarar o mundo. Ele não obedece a ordens, e eu não acredito em agressão física. Então, estamos contando areia. O que fazer? Ninguém, absolutamente ninguém, além de mim pode dizer. E eu não sei o que fazer, como uma criança, estou desnorteado. Não quero, não vou me entregar. Não posso desabar diante de mim, do meu menino, pois ele ainda é a coisa mais cara que há aqui dentro, o que me salva da morte, o que me dá arroubos de juventude e capacidade. Um dia ele sairá desse castigo. Enquanto isso, eu vou lutando para não cair. Eu não vou cair. Sou forte: sou um menino-homem ou talvez, ainda, um menino-homem-menino.

É, sem dúvida, mais um começo. Como Alice, encontrando, abrindo, fechando e indo atrás de novas portas.

Tá valendo!

Um comentário:

Roberta Dayne disse...

tu és o meu eternO meninO-hOmem BitO!
este ser único que traduz a luz mais pura e intensa que um homem pode transmitir.
nunca tenha medO do seu futurO, deste que é seu e que, mais do que nunca, está em suas mãOs.. veludosas mãOs!
amO vc: nunca te esqueças! ;D