domingo, 11 de abril de 2010

Resposta a uma colibri

Há exatamente treze dias, uma pessoa me mandou um texto intitulado "ao meu poeta serigynho". Eu o li. Hoje, quando estava para responder-lhe a mensagem - via e-mail -, resolvi fazer diferente e oferecer a ela uma postagem exclusivamente dedicada aqui (espaço mais importante para exposição das minhas ideias). Tive uma tremenda surpresa quando vi no seu blog um texto (disponível aqui) e uma foto nossa. A emoção tomou-me por completo...

Eu sempre fiz questão de não me curvar diante de ninguém. Muita gente me viu e me vê como alguém que não expressa o que sente, um ser de aspecto sisudo e fechado. Tornar-me assim foi à custa de muito esforço. Na verdade, diante dos seres que conheci, ficou fácil assumir essa postura, alimentar essa criatura guardiã dos portões de um espaço desconhecido por mim.

Numa espécie de castelo, vivia imerso em sombras, não entendia coisa alguma, posto que não via nada. Eu temia apenas. Tinha pavor quando passos se aproximavam, quando vozes chamavam. Com medo, eu me escondia cada vez mais.

Certo dia, sem querer, algo aconteceu. Na vida se pode evitar muita coisa; podem-se prever desastres, mas não se consegue, jamais, deter a Natureza. Assim, da boca d'Ela, veio voando o Vento. Ele trouxe consigo a Flor, que caiu dentro do meu Castelo. Não a vi; eu a senti, e seu perfume agreste mudou o clima do local. Decidi levantar, andar e abir as cortinas. Eu, quando levantado, ainda (e só) vi os portões e, pior, a criatura medonha que os guardava. A Flor era perfumada, no entanto frágil; aflito com a sua segurança, voltei-me para as sombras, porém antes a pus no vaso mais lindo que ali havia. E, assustado, com a minha flor, voltei para adentro do recinto e a cada novo temer daqueles passos e vozes a cheirava bem forte. Permaneci assim, pensando que o mundo éramos só eu e aquela rara flor.

O tempo foi passando. Ainda estávamos a Flor e eu. Mais uma vez senti algo diferente. Sim, era uma espécie de vento, mas não era o Vento. Algo trazia uma brisa que delicadamente fazia as cortinas se resvalarem. Ao ver a intermitência dos raios solares dentro do meu recinto sombrio, senti-me intrigado e levantei-me. Era um pássaro, uma beija-flor que viera atraída pelo que havia de bom comigo. Percebi, desconfiado, seu esforço em penetrar naquele canto escuro. Eu, já descontente com aquele lusco-fusco, olhei-a - com algum esforço - nos pequeninos olhos, resolvi confiar e abrir-lhe as cortinas. O Sol voltou a entrar. A sensação foi indescritível, única: era a vinda da Felicidade. Da janela, vi que a criatura dos portões não era tão grande quanto o Sol, nem tão intensa como a Flor, tampouco tinha a força que aquela beija-flor me trouxera através da sua doce insistência.

Munido da minha Flor, confiante com o Sol e tendo ao meu lado o Vento impulsor, fui, abençoado pela Felicidade, enfrentar a criatura que me impedia de abrir os portões. A Beija-flor então precipitou-se à minha frente e no seus saltos e firulas aéreas me indicou um novo caminho. Confiei novamente nela e segui a direção: era um espaço completamente original, preenchido, perpassado e circundado por flores diferentes, lindas e vivas, onde o Sol brilhava mais forte e o Vento dançava com as borboletas cheirosas a jasmim. Dei-me conta de que estava num jardim e, logo, de que o lugar escuro e frio - minha morada por tanto tempo - era um dos espaços do Castelo. E eu só reconheci aquele novo lado graças à Flor e, mormente, à nobre teimosia da minha Beija-flor.

Passei a amar aquele ser de luz por sua maneira sutil de ter-me aberto o Horizonte. Ela não foi como os outros, não veio me invadindo com o peso de passos, tampouco me assustou vociferando por atitudes; sua presença veio qual um balé, numa música que me embalou a ver o lado inédito e de mais salutar em mim.

Agora entendo o acontecido. Sei que a minha Beija-Flor veio mostrar-me a Primavera.

Obrigado, Elynne, por fazer dos nossos encontros lugares de Primavera. Obrigado por vir fazer-me ver o jardim que existe em mim. Obrigado, por me fazer chorar ao ver a surpresa de uma foto nossa no seu blog. Obrigado por me fazer sentir as lágrimas boas - que eu ainda as tenho! -, por me fazer um ser melhor com o seu jeito incrível de me amar. Por favor, entenda quando algumas vezes eu me sentir acossado pela criatura dos portões, mas não deixe, em hipótese alguma, de me trazer o Sol. Por favor, não se esqueça de me trazer Luz. Obrigado, Elynne, por ser simples e completamente a minha Beija-Flor.

Obrigado por, neste mundo de aparências, gostar de mim de graça e por despertar aqui dentro algo tão bonito que me faz chorar neste instante, ao finalizar este texto.



Obrigado, minha Beija-Flor.

2 comentários:

Anônimo disse...

É intrigante ver como belas palavras como as suas me traz ao mesmo tempo emoções tão distintas. As que mais se expõe em meu coração são a preocupação e a alegria. Como um texto tão belo pode ter tanta carga em quem o lê. Tenho alegria em ver que pessoas boas passaram e passam pelo seu caminho e que a amizade te completa, te ajuda a crescer, a construir e a se tornar um ser mais encantador do que você já é. De ver que pessoas conhecem o Pablo, não da forma, da intensidade e da clareza que eu o conheço, não o irmão, não o cúmplice, não o companheiro, não o "namoradinho" que é só meu, mas conhece outro tipo de amigo, de companheiro, um não tão particular como o meu, um aproximado. Mas ao mesmo tempo, vem a preocupação, a preocupação do conflito que há dentro de um ser que eu tanto amo chegando ao limite da adoração e da veneração, um muro intrasponivel que muitas vezes você insiste criar em torno de si mesmo, vezes até de mim, que de uma forma ousada insisto em derrubar, em invadir, tendo vezes em que não tenho êxito.
Lendo a sua visão de como as pessoas te vêem, te conheço, eu percebo que eu conheço outro Pablo, o meu Bitinho, o meu porto seguro, o meu exemplo, o meu tudo. O ser que eu me espelho a cada dia e cada noite para conseguir ser alguém um pouco melhor.
Você não é esse Frankenstein que você se pinta nesses textos que venho lendo por aqui. Você é uma das minhas razões de acordar a cada dia e lutar, de viver, de tentar ser a metade do Ser Humano que você é.

Se toque, aos meus olhos você é bem mais que um jardim a quem você dedica como titulo aos outros, você é toda a natureza, todo o milagre, toda a beleza que o Ser supremo realizou e realiza a cada dia, a cada abertura de um botão de flor, em todos os arco-íris, a cada pôr e nascer de sol...
Você é meu Bito, é meu cúmplice - amigo - irmão - companheiro, o meu anjo da guarda!


Amo-te.

lynne disse...

meu bito amor!

como é bom poder ver em suas palavras o doce da nossa linda amizade, como é bom reconhecer que as palavras eternizam algo que é tao nosso, tão próprio dos nossos corações.

li este texto várias vezes e da mesma forma que você, senti-me emocionada diferentemente a cada uma delas. suas palavras tem um poder incrível de mais que me emocionar, me marcar e se eternizarem em mim.

durante nossa convivência muitas vezes foi você quem me desconcertou, foi você quem descobriu os jardins que muitas vezes eu tentei esconder dentro de mim, foi por vezes o seu abraço que me mostrou novos horizontes e trouxe várias Primaveras aos meus dias.

também te agradeço pelas lágrimas boas que você me mostra que eu ainda tenho ao ler os seus textos dedicados a mim, e que estão em meus olhos agora ao responder o seu post.

meu anjo firmemos um acordo então: que nenhum de nós dois deixemos de trazer luz um a vida do outro.

obrigada meu poeta serigynho!!