sábado, 7 de abril de 2012

Guerra Fria

Ontem foi sexta-feira da Paixão. Feriado. Brasília estava como está hoje, com cara de final-de-semana. Como foi dia útil, eu deveria ter estudado, seguido uma tabela que desenhei para mim para conseguir levar a cabo o meu mestrado. Enfim, eu comecei a escrever este texto ontem (como está marcado com a dêixis temporal - hehehehe! :( ) porque já estava me sentindo estranho.

Eu não sei. Acho que uma vibe estranha está passando por algumas regiões do planeta, pois um monte de gente que conheço está passando por situações complicadas: término de namoro, falta de grana, aflições relativas a trabalho etc. Eu sinto isso porque não estou muito tranquilo esses dias. É o que me faz voltar aqui, para que possa, de alguma forma, extrair de mim essas coisas chatas e vê-las de perto, examiná-las.

Há algum tempo estou enfrentando coisas meios chatas. Tem acontecido aqui na minha nova casa. Eu convivia com mais três caras, atualmente são dois. Desde o início vi o quanto seria complicado lidar com alguns comportamentos que observei em visitas antes da mudança efetiva. Eles são muito negligentes com limpeza, com contas, com uma porção de coisas que aprendi serem importantes - no sentido de se ter uma boa convivência social (uma coisa que observo hoje). São fatos que me atingem diretamente porque estou vivendo em no lugar; então, na maioria da vezes, vejo-me lembrando (que é preciso ser limpo para, por exemplo, evitar insetos andando pela casa) ou exigindo (que tenham atenção ao usar o banheiro no sentido de não deixar o chão sujo de lama) obviedades, pelo menos, para mim. O resultado é que não me sinto bem com isso, pois não gosto de me colocar como mais do que ninguém, ou seja, mais organizado, mais responsável, mais atento às coisas etc. Eu devo ser assim, mas para mim e somente para mim. Tenho muito medo porque eu já tenho uma veia megalomaníaca, algo que sei que existe em mim e que venho tentando dominar, distraindo-a aos poucos. É como um monstro que está dentro de mim, com algum custo eu consigo dar-lhe bolas com guizos para deixá-lo ocupado, mas eu sei que a qualquer deslize ele pode tomar conta da situação. Atitudes como as que andam ocorrendo (de eu normatizar as coisas na casa e de ver-me "acima", diferente daqueles dois que parecem ter o mínimo necessário de civilidade) dão um alimento que aumenta a força desse monstro. Fico triste por às vezes sentir que estou perdendo o controle e por sentir que isso me levará por um caminho perdidoso.

Então, fico pensando se devo sofrer assim sozinho. Minha mãe nos educou de forma a sermos pessoas aptas ao ótimo convívio social: precisávamos deixar casa e quartos arrumados para uma entidade imprevisível chamada "alguém", amiúde referida como visita. Sempre recebi elogios pelo modo cortês com que me dirigia às pessoas e como lidava com situações acres. Aprendi que ser assim me abria caminhos. Gostei. Hoje, longe de casa, e do meu reino, observo existem coisas na vida que não se consegue resolver por meio da elegância e dos bons-modos. Isso está me matando, pois é como se precisasse aderir a um comportamento extremamente desagradável, que abomino quando o vejo nas pessoas. Entrar em discussões, gritar, ser bruto são coisas que a minha mãe sempre evitou fazer e eu, por tê-la como meu referencial, assimilei.

Falo dessas coisas porque estou observando que precisarei ter de deixar esses traços principescos para começar a ter comportamentos mais contundentes, na verdade, contundência não define bem o que terei de aprender a ser. Vejo que as pessoas parecem não ter atenção ao quanto as suas ações influem na vida das outras. Elas parecem viver neste mundo sozinhas ou com aqueles de quem gostam (o que exige delas um pouco mais de cuidado). É como aqui em casa, que se transfigura em um verdadeiro microcosmo: alguém come; deixa talheres, pratos e panelas sujos dentro da pia e não atentam que - uma vez que dividem o apartamento - outra pessoa poderá precisar daqueles utensílios; ou, ainda, colocam o único pano de prato da casa para lavar deixando-o por mais de duas semanas dentro de um balde de água parada (que logo se torna fétida e mais sujará do que limpará o tecido). O que devo fazer, visto que me incomoda profundamente ver coisas assim? Ir lá, tirar e lavar? Perguntar pela quinta vez quando a pessoa que se propôs a lavar o pano terminará a ação, e ouvir indiretas ou respostas grosseiras? Eu não sei. É complicado. Tem sido bastante complicado.

Resolvi que adotarei a estratégia de batalha. Não fugirei mais dos conflitos se eles se apresentarem. Talvez, tudo isso seja para que aprenda de uma vez por todas que não alcançarei o consenso, que a vida é lutar, brigar pelas suas posições quando elas são invadidas. Eles sabem que me sinto incomodado quando vejo coisas extremamente sujas e ainda assim o fazem, se assim acontece, eu não ficarei mais evitando entrar na minha própria casa para não ter de encarar visitas que se convertem em moradores fantasmas (mais um presente de um dos que dividem a casa comigo). Não aguento mais ficar calado diante dessa situação e se for para brigar, vamos à luta! 

Em algum momento eu terei de aprender. 

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