segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Ser o parecer

"I know a man ain't supposed to cry, but these tears I can't hold inside...", já dizia meu grande amigo Marvin. É com suas palavras que inicio meu texto, falando do que a gente não deve fazer porque..., por que não mesmo? Ninguém na verdade sabe por que não deve fazer as coisas que nos são ditas pra não serem feitas. Daí é que entra o começo do sofrimento. A ilusão, o que é mostrado é o que realmente interessa. Dia desses li uma revista não-ortodoxa que tinha uma matéria falando sobre a obsessão das pessoas pelo dito corpo perfeito, tipo aquele da revista que a gente vê todo dia, a que você já jurou ter notado em algum lugar, mas que na verdade tratava-se apenas de mais uma réplica de coloração diferenciada da da semana passada. No bloco dos adoradores das magazine covers estou incluído, mas como às vezes é necessário tripudiar em cima de coisas comuns a você, não posso deixar de falar do poder da aparência na minha atualidade.
É engraçado, a vida é uma ironia de fato: a revista que citei no primeiro parágrafo, a que trazia a matéria aparentemente criticando o excesso de valorização corporal por parte do hommo sapiens (?) vinha com um "modelo" de plástica - como diria Marco Bianchi - assaz valorizada, adorada e obsessivamente desejada (hehehehe) na capa (bis: hehehehe) o que me fez agora remontar a essa nova novela da Globo, a Duas Caras, que tem na abertura uma favela, tem Lázaro Ramos extensivamente anunciado no elenco e que traz como pro-ta-go-nis-ta o ator brasileiro Dalton Vigh (...). A vida é realmente um gramática normativa cheia de figuras de linguagem. Cansado de sofrer com as revistas e atrações televisivas fui atrás da música. Que assombro! Vi uns Compact Discs que pareciam verdadeiros books de fotografia; então parei e pensei: "Nessas fotos são bonecos ou cantores?", e, rapaz, sabe que quando ouvi algumas faixas não achei uma resposta; acho até que fiquei mais confuso. Até hoje me pergunto. Não dá pra ver um cantor forte de público que seja feioso. É como se acordasse e me achasse num comercial da Mattel: sorrisos lindos em bocas que mexem ao som de dispositivos acionados pela mão de um dono. Depois se assustam quando uma boneca se apresenta com defeito no desfile de uma nova coleção. A coitada só conseguia implorar "Gimme, gimme more! Gimme more, gimme, gimme mooooooore!" - Seria mais comida? Pil(h)a? Sei lá. Definitivamente não foi uma das melhores aparências. E o futuro dela? Ninguém sabe, mas eu sim: sala de funilaria e pintura depois de um bem divulgado recall, é claro!
Realmente não dá pra ser diferente quando o mundo é tão igual. Ah, mas tem alguém sempre que vai dizer "eu sou diferente, não me submeto a este mundo-cão. Não vou me adaptar" e eu, é claro, como quem ainda não aprendeu a se libertar tal qual esse provável verborrágico cidadão contestador, conseguirei conter a profusão de gargalhadas que virão como resultado da frase do meu interlocutor tão sábio. Na minha posição de limitado eu observo nossos jovens praças e suas respectivas pracinhas tão alternativos com suas camisas de Viva la Revolución!, seus cabelos belamente desgrenhados, entoando hinos cordel-do-fogo-encantadescos e adorando Los Hermanos e trocando números de celulares COM CÂMERA!!!!!!, adicionando-se no orkut e fazendo tantos etecéteras contrários ao Sistema, o maldito sistema. Eu não aparento, mas acho tudo tão lindo porque tem o céu lá em cima, tem Gilberto Gil em Brasília e Caetano nas capas de revista brigando com Luana Piovanni...
Ai, ai. Às vezes eu acho que o mundo inteiro se revoltou contra mim, ei! Isso é Cachorro Grande. Como é ruim ser alvo da rajada da mídia. Agora já gosto da Cachorro. Amanhã, será que gostarei de quem? N(e)X(o) Zero (meu maldito eu venenoso) é o artista do ano... viva o Rock 'n' Roll e eu criticando e fazendo o mesmo! Mundinho pequeno esse, né, mesmo?

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