sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Acordando para a Vida

fonte: GT Wallpaper
É de uma reunião em família que sai, agora, a resolução maior para mim em 2012. Farei, este ano, de tudo para resolver outros pontos da minha vida. Acontece que meu pai veio e - mais uma vez - disse que eu precisava trabalhar. A minha irmã, (nem sei se tão) indiretamente, disse para mim que não tem tido as coisas que quer porque a minha mãe gasta muito comigo em Brasília. Foi algo positivo, pois vi que a minha casa não é o paraíso. A minha vida não é mesmo o conto de fadas que eu sempre fiz questão de encenar.

Neste ano, devo dar prosseguimento a algumas ações que considero vitais para mim. Definitivamente, preciso crescer e ter uma vida. Preciso romper os laços com a minha mãe. Não me refiro a uma ação drástica - principalmente porque ela não merece -, estou tentando encarar a vida de maneira mais adulta, ou melhor, madura. A conversa de hoje deixou isso mais aparente. Por mais que eu tenha sentido uma ponta de distorção em algumas colocações durante a reunião, vejo-a como mais um impulso para avançar, seguir e deixar para trás o passado. A minha vida já não pode voltar, por mais que eu queira com alguma força. 

A minha mãe, na reunião, esteve como de costume: calada, ouvindo todos falar sobre ela. Nada falava. A minha mãe ficava muda, ouvindo e ouvindo. A minha mãe confirmando a sua imagem de boa e devotada, a que sofre para ver o bem do seu filho, aquela que não se importa com as pedras nas costas pelo fato de estar protegendo a sua cria vulnerável. A passividade dela bradava a força de conseguir manter-se incólume às investidas dos outros. Mesmo na exiguidade de suas palavras houve a demonstração maior de poder da noite. É impossível desconsiderar alguém que se mostra tão ligada a mim. É por nosso bem também que preciso continuar. 

Percebo que quando o meu pai me fala para trabalhar, ele quer me dizer que não devo ficar sob os eternos cuidados da minha mãe, pois sou um homem e não mais um menino. E eu levarei esta instrução comigo: não devo ser mais um menino. Por mais dolorido que seja, preciso cortar o cordão. Na verdade, eu venho me mostrando que é necessário fazer isso se eu não quiser construir um jardim usando os meus pais como adubo, erguer uma construção em cima dos seus restos. Isso seria terrível. É fato que muito da demanda do meu pai é influenciada pelos filhos outros que ele vê por aí. Eu sinto no meu pai um pequeno dilema: feliz por estar onde estou, mas descontente pelo pouco avanço em relação a um futuro. Aquela máxima tradicional "no meu tempo, na sua idade, eu já...". Eu sou ciente de que o tempo dele foi o tempo dele, no entanto me localizo também em um dilema de evitar passar o trator das minhas concepções super-hiper-mega coerentes em cima dos ideais estabelecidos dele. É complicado, mas é uma carga que se leva: você vive e leva a sua história nas costas. A sua família é a sua história viva.

A minha irmã, ao falar que lhe faltam coisas como roupas ou cabeleireiro, quer demarcar, provavelmente, a sua posição na família, sua presença diante dos meus pais. Talvez ela queira mostrar que também tem necessidades, que, de alguma forma, tem sido minimizadas pela "importância" que eu venho obtendo por estar longe de casa; por eu vir atraindo mais atenção da minha mãe, o nosso eterno objeto de disputa. Eu e a minha irmã somos crianças que enfrentamos as complicações do tempo; que relutam em ver as coisas se modificando; que, de algum modo, querem preservar o calor da proteção familiar, visivelmente marcada pelos traços cruéis do Tempo. Vejo que a minha irmã, inclusive, emula atitudes dos nossos pais, tornando-se, assim, extensão deles. Observo isso quando ela diz preferir calar-se a ouvir a nossa mãe posicionar-se ao meu favor (quando, segundo ela, abordam o excesso de atenção dado a mim por mainha), observo que a minha irmã reproduz um comportamento comum na nossa família, o exercício caprichado das aparências. 

Os meus pais parecem fazer de tudo para não lidar com o conflito. Quando acirram-se os argumentos, para eles, é melhor encerrar a discussão. Termos como "reclamar" ou "sofrer" quase não são permitidos. É preferível perder-se em doces tolices disfarçadas em brincadeiras do que enfrentar analisar eventuais problemas. A minha irmã me mostra que está aprendendo isso também com os meus pais. Aliás, eu vi hoje que a minha casa está como sempre. Não sei muito bem o que mudou aqui. Em casa, eu me sinto em um museu. Mesmo.

Enfim, durante a passagem do ano, lá estava eu pensando sobre o quão bom havia sido 2011. Eu não sabia, então, o que de fato pedir a Deus. Eu francamente só tinha o que agradecer. Eu ao mesmo tempo fiquei feliz e preocupado com a situação. Eu sempre estou na ambivalência de querer a perfeição e de esperar coisas ruins para a vida. 

Hoje, eu vi que meus pais já são o que são. Eles estão mais velhos. Meus pais estão velhos. Eu tenho de pensar um modo de agir diferente. Acho que 2012 será o fim do meu mundo. Que bom.

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