quinta-feira, 12 de junho de 2008

Mundo desencantado

Mais uma vez o unfit. Eu e meu computador. Eu e meu celular. Eu e minha cabeça pesada como saco de moedas, como bola de assopro. E tantas vezes eu tão comigo até o momento de dizer chega, em que ia contra mim mesmo por ser difícil não estar ajustado, além de duro é doloroso porque ninguém nunca será bom para você porque você mesmo não o é consigo. Fazer do mundo um espelho não é a melhor coisa “Se eles fossem como eu, tudo seria mais fácil”. Será mesmo?
Nessas minhas andanças, me encontrei com lobos, com cadáveres falantes e até com príncipes que me diziam que só se deve cobrar do outro o que ele pode lhe dar, mas sempre fui diverso e avesso a conselhos porque quando se tem na frente um espelho as ondas também refletem, ou seja, batem e voltam. Elas sempre retornam pra me fazer reverberar o que trago escondido: eu não sou igual, não acho afins e por isso o mundo nada vale pra mim: me sentindo uma autêntica e embriagada Maysa. Não sou deste mundo. Não entendo. Por que tenho que julgar a opinião das pessoas, pegar suas palavras e jogá-las contra quem as disse sem tentar considerar que elas valem de alguma maneira? Por que devo permitir que a vaidade não me deixe ser humano? Por que preciso de heróis que carreguem todas as minhas responsabilidades? Questões assim é que me fazem avançar e retroceder em apenas um passo.
Não sei, às vezes, deliberadamente, faço de alguns dos meus momentos um suspiro longo e desejo o inusitado: que a vida estivesse num limite que variasse entre tons altos, baixos, graves e agudos, construísse-se como uma música, mas uma dos Beatles, daquelas bem coloridas, com gosto de carambola chupada do pé debaixo do sol, que sempre me reservasse uma gostosa surpresa durante o período de execução e que depois morresse lenta ou subitamente pra logo ressuscitar através de frutas outras filhas que espargiriam sementes por todo o terreno circunvizinho à circunferência da minha cabeça e que girassem e girassem qual as carambolas caindo no bilôco do areal perto da minha casa. Uma viagem hipostática. Alegre e surpreendente como “Domingo no parque”...
Mas sinto que este mundo não é mais meu. Eu não sei as escalas musicais. Não sei a que família de plantas pertencem as carambolas. Não conheço a discografia completa dos Beatles. Só sei gostar de “Domingo no parque”, apenas num gostar por gostar, como quando alguém faz um bem pra gente e então passa-se a querer bem a essa pessoa, sem ter nem querer nada em retorno a não ser a visão de vê-la sorrir. Como quando a gente começa a amar, mas a sentir o sentimento mesmo: quando só se quer o bem do outro, que esteja sempre por perto e desejar encontrar-se por acaso e ver seu sorriso, seu sorriso, seu sorriso, meu sorriso, nosso sorriso. Talvez não neste mundo. Tenho certeza que todos estão crescendo. Eu não. Para as mirabolantes concepções de alguns, esteja regredindo, me alienando, me “recoisificando”, sendo mais um com a síndrome de Peter Pan, mas o que vou fazer se aqueles que escreveram e disseram coisas tão lindas sobre a magia da vida se esqueceram de colocar uma observação, uma nota de rodapé que fosse, esclarecendo que aquilo tudo era só pra te encher a cabeça de róseas mensagens subliminares que lá na frente estariam sendo analisadas para um resumo, num desconsiderável livro, que “provaria” que essas fábulas eram apenas mais um método de “estratificação de classes” – e acrescentariam uma linha no Lattes (importante dizer!?).
Fico pensando, quando tiver meus filhos qual será a maneira de criação deles e este questionamento é mais um momento em que gostaria muito que se tornasse canção, pois não me é agradável; sinto que provavelmente eu fique in ou definitely out. Se hoje em dia os amigos já não sabem de você, não se importam se as palavras te machucam ou não, se estão sendo bons companheiros, se eles não ouvem mais, não têm tempo para saber como foi seu final de semana, conhecer alguma boa história sua que estreite os laços, se essas coisas todas são muito supérfluas e o que mais importe seja rir à toa e no final do dia deixar os deslocados do mundo, em suas casas, em companhia de objetos tão duros e frios como são as pessoas hoje. Graças a Deus há expressões múltiplas, uma delas é a palavra, que realmente liberta, estabelece um portal de onde se pode voltar o rosto e olhar seu passado de alguma forma congelado, num universo paralelo. Com tudo isto que novamente penso que, definitivamente, eu não sou deste mundo.

Nenhum comentário: