terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

O Fantástico Show da Vida...

A TV da minha sala pifou hoje. Fui acordado pelo estrépito do aparelho exigindo reparo. Depois de refeito do susto (confesso que primeiro pensei no meu computador, apesar de ele estar desligado naquele momento), comecei a pensar sobre a importância da televisão para mim - e na minha usual mania de agigantar as coisas -, bem como à minha gente brasileira. Tal qual grande parte do país, estou acompanhando o Big Brother Brasil 10 (nesse meu limbo chamado "depois da graduação"). O programa é total déjà vu: uma casa cheia de gente padronizada, com corpos legais e tudo o que se espera de um reality show (conforme aos estrangeirismos), dessa vez abertamente etiquetados em grupos.

O que me chamou a atenção foi a inclusão de pessoas "alheias" aos programas da Globo - pelo menos àqueles considerados "menina dos olhos" da emissora -, a saber, uma acadêmica e um (bastante comentado) trio de homossexuais (declarados). Mais do que óbvia a ligação que existe entre a minha televisão e o BBB 10 está o sentimento, que tive há uns dias, relativo ao programa enquanto sucesso de massa: o forte controle ainda exercido por ele. Posso conceber o BBB como uma formidável alegoria da televisão no Brasil: tem de ser "escolhido" e se não seguir o estabelecido, está fora.

A título de ilustração, observei a trajetória de duas personagens da comentada casa, o "emparedado" Uilliam e a eliminada Ana Marcela. Os dois tiveram atuações similares no programa, dois participantes que "nem participaram tanto assim", dizem os telespectadores através de comentários em blogs relacionados. Decidi usá-los no meu texto por ter a impressão comum a muitos telespectadores: eles eram muito "apagados" no jogo, "não faziam nada" e coisas do tipo. Na verdade, creio que a frase "foram apagados" se aplique melhor a este caso, isto é, alguém os anulou, existiu, de fato, a ação de outrem, o qual manipulou a imagem que, nós telespectadores, tivemos deles. Comecei a me questionar então o que seria "participar" ou "fazer alguma coisa no jogo".

Antes de prosseguir, é preciso abrir parênteses: não estou aqui criticando exclusivamente a Rede Globo de Televisão ou direcionando-lhe alcunhas pelas quais ela já é conhecida e que NUNCA deixará de carregar, mas sim os mais bem sucedidos veículos de comunicação televisiva atuais; deste modo, incluem-se Rede Record, SBT, Rede Bandeirantes, RedeTV! e MTV - possuidoras de êxitos no mercado nacional - na minha simples e mortal análise de telespectador.

(Postos os pingos nos i's, deixe-me voltar ao foco) O tal jogo é simples assim: quem faz o que é solicitado fica, quem não é interessante é expurgado. É muito provável que quem saia da casa global seja o rapaz, pois, assim como a pernambucana Ana Marcela, é difícil vê-lo em intrigas, discussões acaloradas, beijando/fazendo sexo (novidade na edição dez) com alguém ou apenas trajando peças de baixo, sendo vítima cônscia de ângulos comprometedores; pelo contrário, vi o moço algumas vezes avisando (assim como a paticipante de Pernambuco) que não faria nada ali que envergonhasse a família. Ele não fez o que estava no roteiro. Em que interessa para o programa prosseguir com gente assim, parada? A saída é o "Mr. Edição" (termo do jornalista Maurício Sitycer, crítico de TV do Portal UOL) - mais uma antropoformização amiga de outras como o "Sistema", o "Governo" ou a "Burguesia" - desenhá-lo como um zero à esquerda, merecedor da eliminação.

Confrontando com a nossa realidade (aquela comparação entre a minha TV e a TV brasileira), a televisão pode transformar alguém de rei a indigente de uma edição de jornal para outra. O feitiço que me revolta está em como a população compra essas verdades televisivas e aos poucos vai cimentando uma construção reservada para uma parte da sociedade que desdenha dos seus próprios construtores. É só lembrar do "exemplo" Bóris Casoy, JORNALISTA HÁ MAIS DE 40 ANOS, fazendo piada de um grupo de limpadores de rua durante intervalo do telejornal que ancora na Band; segundo ele, o ofício de gari é "o mais baixo da escala do trabalho". Engraçado, na escola nos ensinam, durante anos (já cantados por Renato Russo), noções de educação, de respeito e também nos é alardeada a necessidade da cidadania, mas fica difícil quando numa mesma emissora - cujas frases de cidadania são indicadas como premissas - mantém em sua grade programas que humilham tipos humanos ou quando um canal, direcionado para os jovens, presta-se a discutir temas importantes como o bullying nas escolas denotando que o melhor a fazer "é ignorar e, quando tiver oportunidade, pagar na mesma moeda". Eu, como aquele que recebe a profusão de informações desencontradas, interpreto a televisão atual como a helênica Penélope no costurar da manta, mas uma perversa: com certa mão constrói e com outra desfaz... Ah! mas há aqueles defensores do discurso fajuto do pseudo-poder de quem possui o controle remoto, ou seja, "se tem porcaria, é porque você gosta dela, dá ibope". A população mais humilde, publico consumidor maior da TV aberta, tem para onde correr ou redirecionar seus controles?

Parece que as pessoas não devem acordar, ih... é tão complicado isso, que fica mais fácil utilizar o bordão, "Prefiro não comentar!". Enfim, hoje tem mais uma edição e, em certos trechos deste post, me referi ao meu brother, negro e nordestino como eu, no passado por crer que ele não passará de hoje no BBB 10. Não podia me furtar a fazer este comentário, pois - não que considere Uilliam um santo (acho-o, algumas vezes, bem piegas) - não acredito que uma pessoa passe quase dois meses num programa sem fazer absolutamente nada que valha registro -. Estranho é, contudo o show tem de continuar... Até quando?


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