domingo, 25 de dezembro de 2011

Natal com efeito

Dia 25. Já é Natal. Eu estou em casa com as luzes apagadas, ouvindo Cordel. Ah! Eu recebi um presente. Unforgettable... Portas estão fechadas, portas estão abertas. A casa está fechada, mas a minha consciência foi expandida, ela está aberta. Há poucos dias que eu a venho abrindo. 

Escrever. Aqui sou eu e eu posso muito ser eu. Estou cansado de ser nada mais do que o que conheço. Saturado. Hoje estou com vontade de ser outro, de encontrar outros e de, alguma forma, ser o que a minha cabeça limita, pois ela não tem fronteiras. Eu penso nos fios que sustentam os meus membros e como há momentos nos quais eles se tornam físicos, tendo a perda do viço e da força como essência. Os fios, então, insignificam-se; é como se eu os pudesse romper. Sei que tudo isso gera-se da imaginação de uma aventura cuja narrativa tomei por credo. Eu vi a minha vida de modo tão desconcertante que pareceu que não voltaria a ser quem eu julgava ser: Eu-Alice e a Lagarta Azul em conexão com Eu-Claudia aprendendo com Lestat, sob os cuidados de Louis. Em certo momento, todo e qualquer ferimento suavizou, cicatrizou. E, com efeito, a presença de cicatrizes une no concreto passado e presente. Agora, passar a mão na cicatriz me faz estar alerta a como as coisas não têm de ser iguais por tempo indeterminado. E eu penso nos fios, nos fios que, apesar de estarem físicos, ainda são tênues fios. Eu nunca deixarei de tê-los porque toda a gente nasce com fios, e mesmo aqueles que pensam ser livres dos fios estão bastante atados a fios. Só as cores é que são mudadas, acho. 

Eu, nesses úlitmos dias, deslizei pelos fios, senti-os, lambi-os. Estive onde nunca estivera. O sabor e a delícia de experimentar tapas de liberdade, e viajar, derivar em montanhas russas nas distorções de A day in the Life... Sim. Foi boníssimo. Abri as janelas. Experimentei a bonança. Agora, quero saltar e passar longe dos quadros e dos quadrados. C'est ma vie. Qual um gatinho cinza, estou encarando a permissão de viver uma vida minha. Neste Natal eu estou me dando isso.


Neste dia 25 de dezembro, não estou com nada além das minhas sensações de viajante. Eu, que aceitei o passaporte de efeito, estive sob efeito, eu viajei, foi bom, apesar do medo, foi bom. Eu ri muito, eu levantei mais alto os braços e me mostrei sem medo à vulnerabilidade. Eu. Ninguém precisou saber, poucos sabiam da minha viagem, ninguém sabe da minha viagem. Agora vejo que posso não ser tão mais prendido a ponto de pensar só nos fios. Quero mais é brincar com eles, experimentar toda a sua elasticidade, apesar de saber que seu contorno pode vir a assumir o de corda bamba. Hahahaha! Eu morro de medo dessa situação de instabilidade, mas vozes me dizem "vai ficar tudo bem". Sussurros. Não sei. Lembro-me bem dos fractais, dos círculos, das estrelas, das bolas de fogo púrpura; eu no carrinho de roda gigante, mergulhando em um túnel escuro e falando, falando, falando sem parar; não havia sol, mas a sede... Que sede! Minha boca extremamente seca, eu sentindo, em excesso. Eu senti de mais. Senti o corpo leve e a boca seca. 

Neste Natal estou diferente. Outro, após sensações nas minhas terminações pulmonares. Inesquecível. Chamava com a boca; a magia, assim, entrava; eu segurava a passagem dentro de mim e libertava todo o espírito no aaaaaar: fios voavam no vento, como fios dos cabelos da mais linda cabocla contrastando com a sobreposição do céu e da grama. Eu descrevendo traços azuis, brancos, negros e um vermelho. Eu era azul, amarelo, branco e todo noites estreladas. Os meus olhos semi-cerrados e a necessidade extrema de falar, falar -  mesmo que não me escutassem -, falar. Eu estava de uma liberdade verbal incrível: minha língua infectada por verborreia. Hahahaha! Eu ria alto... "Shhhhh!", alguém me dizia... e eu ria mais, com a mão na boca: apenas a admoestação me dava a noção de que agia, de tempo e de espaço. Era de um riso bobo, eu me sabia bobo, e não tinha problema com isso. Incrível, não tinha tanto problema. A senha de acesso à terra de Lucy in the Sky with Diamonds, entendendo tudo e desconhecendo a razão.

Nada foi um sonho e hoje estou de volta à realidade. Natal. Questiono-me se quero permanecer, então. Sinto também ser hora de mais um esforço para sentir. Sem medo. Se pudesse, optaria por ter menos medo. Tem vezes que acho ser possível ter menos medo.

As pessoas mandam os votos de felicidades, pois é Natal. Eu queria estar tendo conversas cada vez mais e intensamente elevadas. Explico. Brincadeiras sabidamente codificadas nas palavras, pega-pegas de frases sinuosas, construções luminosas indicadoras de caminhos de conhecimento, o conhecimento do ser, enfim, semantizar e ser. Queria ouvir mais perguntas filosóficas, aquelas que não têm medo de encontrar abismos. Eu daria as mãos para quem quisesse pular nesses abismos e me levar (aonde eu pudesse, talvez, encontrar os campos azuis). Mas isso parece-me ser tão eu. Pergunto-me, então, se há gente assim, perdida em busca de abismos e de mãos para pular junto. É um mundo construído por mim belamente, contudo perigoso e limitado pelos velhos fios... who cares? Eu, por alguns dias, estive ouvindo, navegando Eternas ondas. Eu estive dentro de um barco etéreo, que meneava suave em um mar de vapor irresistível. Extrapolando o sensual, eu sorria. Sem problemas.


Como se um mundo estivesse plasmando-se nas minhas mãos, cada vez mais abertas, orientadas pelo ângulo do meu braço, ia rumo àquele outro lado que ninguém domina e nunca se dominará. Terra proibida. Um leve e indescritível sentir.      

Eu, neste Natal, imerso em brumas que uma vez me sustentaram. 

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