domingo, 4 de novembro de 2007

Priceless

Às vezes eu penso em algumas coisas que me incomodam. Hoje foi um desses dias. Além do relógio e da Malhação, andei criando antipatia também pelas prateleiras. O motivo é porque elas são a representação da vida nossa de cada dia e, continuando na comparação, nossa atualidade é na verdade um grande Wall Mart. Hoje em dia as pessoas são submetidas a um sem-número de classificações: de certa idade até certa idade você é considerado criança, depois de um tempo adolescente, logo já é adulto, e pronto se é idoso pra no fim virar "corpo". O mais importante é saber onde encaixar-se para a melhor adequação e visualização: você é branco, índio, pardo ou negro? Criança, homem ou mulher? Hetero, homo ou bissexual? Rico, classe, média ou pobre? Apolítico, antenado ou vendido? Roqueiro, pagodeiro ou indie? O que é você no meio dessas tantas prateleiras cheias de produtos embalados e dipostos de modo a ficarem confusos, sem destaque algum? É uma coisa meio(?) enlouquecedora. Muitas pessoas não vivem pensando onde devem se encaixar porque senão quando os consumidores passarem não as encontrarão para efetuar a compra. Quando estudamos biologia, lá no segundo ano, a professora vem falar de um troço chamado "taxonomia", daí nós pensamos sem pensar que este é mais um daqueles nomes como "profilaxia", "Nabucodonosor", "prosopopéia" ou "verbo" que nunca usaremos direito na vida. E aí nos enganamos, como diria nossas mães, redondamente, pois a vida inteira será uma taxonomia infinda onde teremos de nos encaixar pra não correr o risco de ficar na sessão de achados e perdidos - onde ninguém encontra nada. Está bem, é necessário ter um organização em tudo, mas o que está acontecendo com muita gente é que estão viajando em todas essas classificações e fazendo coisas que no fundo são pertencentes à estante em que foram colocadas (ou que se colocaram) igual a seus afins, ou seja, algo não-autêntico, tornando-se assim mais um artigo de produção em massa, feito pra saciar desejos alheios. É confortável fazer parte dessas prateleiras, pois são lugares geralmente cheios, uma vez que são repostos freqüentemente por novas embalagens frescamente confusas, e isso dá uma tremenda segurança quando não se quer saber se seu conteúdo tem alguma utilidade ou não. O importante é ser escolhido, é ser comentado, pseudamente necessário a alguém, mesmo que seja por alguns poucos dias. Tudo isso é um verdadeiro bullshit porque essas atitudes só servem para seccionar as pessoas, deixá-las afastadas umas das outras. É ridículo quando não se pode dizer que gosta de alguma coisa por medo de não ser aceito, de sair da prateleira. É um constante ato de anulamento e todos nós deveríamos pensar o quanto nos distanciamos de pessoas incríveis por termos medo de ser embalagens diferentes das do grupo. Acho que se nos esquecêssemos por um instante desse triste supermercado aproveitaríamos muito mais a vida e não seguiríamos aquele caminho traçado pelos taxônomos para que nos tornemos mais um tipificador, daqueles de sua estante.

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