Escutando Belchior, Milton Nascimento e, ontem, ao ver o afilhado da minha irmã cada vez mais crescido, volto a me ligar à música: (afinal,) "el Tiempo pasa", como dissera Mercedes Sosa. Muitos já perceberam que tenho fixação por canções; uns se incomodam, outros apenas acham graça. Eu não ligo. É na música que estão coladas as etapas importantes da minha vida. Quando comecei lá na UFS, por exemplo, resolvi fazer algo diferente para não perder os momentos que, eu sabia, não voltariam mais. No início, pensei à maneira clássica: fotos. Desisti, pois tinha algumas pessoas que não gostavam de tirar fotografias ou eram insuportavelmente tímidas. Como nunca tive paciência para adulações, apostei em algo que não exigiria muito esforço nem da minha parte nem da dos demais: canções. Fiz, para cada período, um álbum de recordações musical.
Neste momento, estou ouvindo o que me remete ao sétimo período, há dois anos, mais ou menos. Na verdade, não faço ideia de quem eram os professores daquele momento, tampouco das disciplinas, mas lembro sim que foi um dos semestres em que mais estive comigo, encontrando forças para tentar entender coisas à minha volta. Cada uma das mais de dez faixas esteve na minha cabeça e congelaram aqueles tempos nem tão longes nos quais estava eu com os convidados especiais da minha vida.
Duas, do álbum 7, que me trazem doces lembranças são "Objeto não-identificado" (cantada por Gal Costa) e "Santa Chuva" (cantada por Maria Rita). Ah! Que saudades! Naquele tempo estava numa fase boa, pela qual todos deveríamos passar: a descoberta da amizade. Passei inesquecíveis horas regadas a estas duas músicas: olhando as estrelas do céu, contando, deitado na grama, histórias de vida e cantando solto, junto e em voz alta, tal qual aqueles que não têm vergonha nem culpa por estarem felizes. Quando ouço essas duas canções - e se fecho os olhos - voltam todos os sorrisos, as brincadeiras, bem como os receios de não acertar (e o desejo legítimo de se mostrar como um porto seguro para o frágil barco chamado amizade). Nos momentos de maior tensão (musicalmente falando) dessas músicas residem também as vezes em que não entendia algumas atitudes - julgadas por mim como erradas - por parte desses amigos. As músicas serviam para acalmar a inquietação, fazer repensar, uma vez que traziam eternamente consigo o momento primordial: o início do amor. Hoje essas pessoas - assim como eu - estão seguindo com as suas vidas. Não temos mais o contato de antes, em verdade, nem conversamos mais, porém elas estão comigo: quando (no mesmo álbum) escuto "É tão lindo" (cantada por Simony & Roberto Carlos) sei da estranheza que sinto, ela tem muito a ver com eles e, ainda que as letras das canções mostrem situações ideais de relação, o meu mundo não seria igual sem que essas pessoas tivessem passado pela minha estrada congelando-se eternamente, primeiro, nas canções e, agora, neste texto.
Quando ouço Corinne Bailey Rae suspirando "Choux Pastry Heart", lembro também de quando me vi apaixonado, esperando pela ligação de uma moça que era como uma rara e retinta ostra de profundeza do mar na qual eu insistia em ver uma pérola. No fim das contas, só via fleches do seu brilho. No fim de tudo, vi que eu havia jogado o grão de areia dentro dela, mas não teria o direito de ver a tal pérola formada - talvez existente apenas no meu desejo -. Milton Nascimento então me traduziu com "Corsário", mas Amy Winehouse venceu e me convenceu de que "Love is a losing game"...
Gilberto Gil e Caetano Veloso foram partícipes daqueles tempos - com "Haiti", pude ver além das histórias dos livros universitários: havia gente como eu, passando o que eu não passava -, bem como Baby Consuelo com "Todo dia era dia de Índio", fazendo coro junto às músicas que sintetizaram em mim a necessidade de um Grupo especial - e hoje também infindo no meu coração -. Entrei sobremaneira em parafuso por algumas atitudes minhas, por ser do jeito que eu era, até escutar "Paranoid Android" (os gritos e os "riffs" do Radiohead têm a capacidade de acalmar almas aflitas - hehehe! -). Na mesma linha, "À Palo Seco" (Belchior), "Punk da Periferia" (por Cibele), "Deja de Pedir Perdón" (de Diego Torres) e, infinitiva e essencialmente, "O Quereres" (interpretada por Gal) me faziam me cogitar como alguém não tão certinho como pensava (e me diziam) ser.
Toda essa viagem no tempo recebeu uma comissária de bordo à altura: "Espacio Sideral", de Jesse e Joy. Nela está também Adriana Calcanhotto e Pedro Luiz fazendo um convite irresistível com "Mão e Luva".
Enfim, é um transporte constante rumo ao espaço ou à rua, pedalando na bicicleta ou vendo as crianças crescendo, o tempo agindo, tudo passando. As canções (e as músicas que estão nelas) talvez sejam o meu alucinógeno, meu entorpecente etc. Dizem que não se deve, contudo eu acho bom fugir às vezes. Com as minhas músicas (as que são caras a mim) não estou jamais sozinho: levo comigo mantras que aclaram esse caminho pelo qual insisto e ainda sigo "Time after Time" (na versão "smallvilliana" de Eva Cassidy).
I will be waiting...
:P
2 comentários:
e eu me pergunto "por que não há um só poste no qual eu não chore?"...
e continuo me questionando se amo ou se odeio a singularidade dos dias...
(sou um poço de interrogações)
mega saudades de você, na verdade de nós!!!
bjO grande!!!
saudade!!!
é o que se sente quando se constrói algo tão bonito quanto sua história na ufs.
talvez por isso tanto você como todos que conviveram contigo nesta instituição sintam isso que é tão difícil descrever.
hoje ao entrar na ufs para o começo de um novo período lembrei-me de você e do quanto o seu sorriso que iluminava os meus dias vão fazer falta
faço minha as palavras de mi quando ela diz emocionar a cada post seu!!
saudades enormes biiiiiiito!!
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